quarta-feira, 16 de julho de 2014

Entre a Raiva e a Tristeza

Se você planejou uma viagem de ônibus para praia no final de semana, e no final de semana chover e você não puder ir, então aquilo gera tristeza. Por outro lado, se você planejou uma viagem e descobre que não pode entrar no ônibus porque lhe venderam uma passagem falsa, aquilo gera raiva. Perceba que nos dois exemplos o sentimento foi diferente, mas o desencadeador foi um só: o imprevisto.

Ou seja, tudo aquilo que sai diferente de como planejamos desencadeia uma frustração, que pode gerar raiva ou tristeza. Depois comento sobre o agente desencadeador da alegria e empolgação, mas para não confundir os tópicos, quero focar na parte mais incômoda nos nossos sentimentos. E para concluir esse raciocínio, queria apenas que entendesse o quanto nossa vida é atrelada a passagem do tempo. Já dizia lá no filme-não-lembro-qual que o Tempo é a cura para tudo. O tempo também delinía nosso dia a dia, e tudo o que fazemos corre sobre ele. E enquanto andamos - ou corremos - sobre o passar do tempo, existem algumas atitudes que tomamos quase sempre, como comer, dormir, pensar e planejar o que fazer.

Sempre que planejamos o que fazer, na verdade estamos criando uma expectativa sobre como o futuro irá acontecer. Se você cria uma expectativa sobre o próprio casamento e não casa, então terá que lidar com uma tristeza bem grande nas horas que pensar sobre o assunto. Se cria uma expectativa sobre o que vai comer quando abrir a geladeira e descobre que comeram tudo antes de você, terá que lidar com a raiva. E novamente, o ponto onde quero chegar é que todos os nossos sentimentos de raiva e tristeza (e muitos outros) se baseam no resultado dessa expectativa gerada, de modo que sentir alegria é ver tudo dar certo, sentir tristeza é ver dar errado e não poder fazer nada além da aceitação da falha, e sentir raiva é simplesmente ver dar errado e achar que pode resolver aquilo, ainda que não saiba como.

Raiva


Em fato, a neurociência já explica que quando sentimos raiva, aumentamos a produção de alguns hormônios - como a adrenalina - que forçam nosso cérebro a procurar a solução mais rápida possível. Difícilmente a solução mais rápida será a mais racional e eficaz, e dependendo de seu intelecto, a mais rápida pode ser simplesmente xingar ou bater. Como eu disse, xingar e bater é uma forma de usar a adrenalina que foi gerada e embora seja irracional e não resolva nada, seu cérebro pode achar que vai resolver o problema simplesmente batendo no infeliz. Afinal de contas, bater é apenas uma forma socializada do instinto primitivo de matar. Não é atoa que muitos dizem que vão matar alguém quando estão com raiva dele. Matar é a forma primitiva de se resolver um problema, pois é assim que todos os problemas são solucionados: quando o matamos, quando o removemos. Solucionar um problema é chegar ao fim dele.

É lógico que daria para abranger muito mais ao falar da raiva em si, seja dentro da neurociência ou fora dela. Ainda na neurociência, e nesse mesmo fato de que a raiva é apenas uma produção hormonal processada pelo cérebro, lembre-se que todas as suas ações durante um estado de raiva são tomadas para que essa carga extra hormonal seja eliminada. E a forma de como você fará isso dependerá de suas estabilidade emocional, que ainda vou abordar com mais calma em algum post perdido por aqui.

Tristeza

Se eu quisesse simplesmente falar de hormônios para descrever a tristeza, eu poderia comentar sobre a influencia do cortisol e o estresse que o mesmo gera, de modo que esse estresse age diretamente numa área do cérebro chamada hipocampo, que quando desregulada te deixa emocionalmente abalado - e nesse caso, negativamente. Só que eu acho que isso seria repetição demais do mesmo argumento da raiva, e nada de novo seria acrescentado.

Acho que ficou claro esse ponto, certo? Você sentirá raiva toda vez que um planejamento seu der errado e você acreditar que há uma solução para aquilo. Vou colocar aqui um conhecido - ou nem tão conhecido - modelo de Kübler Ross, que ao analisar pacientes terminais, ele conseguiu separar todos os estágios que os parentes e familiares passavam ao lidar com situações extremas como a morte. E isso pode muito bem ser encaixado nesse parêntes que abri sobre a raiva e a trieza, do qual irei contextualizar aqui:

  1. Negação: Primeiramente nós negamos o acontecimento. Ou seja, uma falha em nosso plano não vai ser reconhecida no primeiro segundo, e negaremos aquilo. Imagine quando cai a internet e você fica acessando uma página achando que ela magicamente vai abrir. E aí, como você está dentro do estágio da negação, provavelmente também irá tentar reiniciar o navegador, tentar outros navegadores e coisas simples que nada mais são do que tentativas de solucionar o problema inicial, uma vez que você o nega.
  2. Raiva: Quando nossas tentativas falham, vem a frustração. E por isso sentimos a raiva, como já expliquei aqui. A coisa deu errado, e o meio mais lógico e racional não funcionou, então se prepare para voltar dentro de um intelecto primitivo e perder a razão com coisas sem sentido. "Porque está acontecendo isso?" é o que você se pergunta e vai agir para resolver aquilo no modo mais automático possível. Matar, matar, matar...
  3. Negociação: Se por algum motivo sua raiva e a adrenalina e o lado primitivo não conseguir resolver o problema, então você cairá no estágio que eu considero o mais importante, que é quando seu lado racional volta e então é capaz de pensar em tudo de um modo amplo. É aqui que a ajuda de terceiros é bem vinda, e que outras opniões e sugestões de lidar com o problema vão ser ouvidas. Imagine um cidadão que acabou de ser assalado. Imediatamente após ele balançar a cabeça e dizer "isso não pode ter acontecido comigo", ele ficará com raiva pelos bens que perdeu e só então verá o que fazer em seguida. Onde registrar um boletim de ocorrência, quais documentos retirar segunda via, etc. E nesse estágio, você está "normal" e apto para lidar com o problema.
  4. Depressão: Se durante a fase da negociação o problema foi resolvido, então não chegaremos até aqui. Na maioria dos casos as coisas terminam por aqui mesmo, já que quando pensamos melhor a respeito a gente chega na melhor solução. Porém, se não houver uma solução e quando pensamos melhor descobrimos que não há nada a ser feito, então ficamos tristes. E a tristeza, como já disse, é apenas sua reação diante da frustração que não pode ser resolvida. Aqui você pode lidar com a esperança, recorrer ao lado espiritual ou alternativas que nunca pensou antes, mas certamente ficará cada vez mais triste conforme notar que nada da certo e que o futuro é irreversível.
  5. Aceitação: Finalmente, se o estágio anterior não o levou a morte - como era a aplicação do inicial modelo de Kübler Ross, então naturalmente haverá uma aceitação. Que é conviver com aquilo e aceitar o desfecho que não tem como ser mudado. E o interessante desse ponto, é que tudo parte de nossa perspectiva sobre como será a realidade, e quando a frustração ocorre diferente da realidade, então nosso estado muda, e aí vem raiva, tristeza e emoções que nos tiram de nosso estado emocional padrão.
É legal pra gente conhecer, mas não precisa tomar como verdade absoluta, e se quiser um contraponto, pode ver nesse vídeo aqui.

Conclusão 

Raiva e Tristeza são apenas frustrações. A tristeza é uma espécie de aceitação da sua frustração. Normalmente pessoas que são mais manipuladoras e enfáticas naquilo que fazem tendem a ser mais nervosas. Pessoas ansiosas também, pois a ansiedade é uma espécie de viver na linha do tempo.

E eu sei que esse texto ficou talvez meio aquém e meio óbvio, já que não há nada tão revelador assim para se dizer sobre esses dois sentimentos negativos. Mas tenha em mente que isso é só um esboço, pois a gama de sentimentos que um ser humano pode ter é absurdamente complexa para se encontrar em um texto de um blog como esse, principalmente se tratando de um blog que é um repositório de desilusões.