segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Geladeiras Humanas

Fazia bastante tempo que não escrevia aqui, e isso porque já tenho dezenas de posts prontos que só me falta dedicação coragem para revisá-los e publicá-los. De qualquer forma, durante esse tempo que fiquei sem escrever, eu também acabei sumindo do meio digital. Sumi do MSN, Twitter, Facebook e onde mais eu poderia dar sinal de vida. Não que antes de sumir eu já não fosse quase invisível, mas alguns paradigmas de minha vidinha pacata mudaram, e aí eu entrei em cheque com a realidade; e novamente, como era de se esperar, mais um texto chato sobre uma reflexão abstrata surgiu aqui.


Geladeiras Humanas


Geralmente nós usamos de guardar comida na geladeira. Então a geladeira conserva boa parte dos valores nutricionais do alimento e aumentam o prazo de validade. Isso seria uma frase qualquer para um trabalho do ensino fundamental sobre geladeiras, se não fosse o detalhe de que o contexto aqui é bem diferente e assustador.

Pessoas colocando outras pessoas em geladeiras. De repente você tem um amigo que só o chama quando quer que ele dê aquelas dicas de [insira a profissão dele aqui] e, ao invés de deixar claro que você só é amigo dessa pessoa devido a um interesse, você ainda quer fazer levantar todo o status quo se fingindo importar se ele está bem ou não, e aí, instantes depois que você consegue o que quer, faz exatamente o que fez todo o tempo até então. O guarda na geladeira de novo.

Isso pode ser cruel, ou pode ser normal, se você levar em conta que não apenas deve estar na geladeira de muitos, como também guarda pessoas na própria geladeira. E inclusive alguém que está na sua geladeira pode nesse momento também achar que na verdade é você que está na geladeira dele. O mundo é só imagem, ou não?

Geladeira Viva

Eu pensei nisso num belo dia que eu precisava saber de uma coisa, e não sabia da resposta. Mas eu sabia quem poderia me ajudar, e tudo o que eu precisava fazer era ir até essa pessoa e perguntar. O problema era chegar nessa pessoa depois de muitos e muitos meses sem se quer dizer um oi para ela. E eu não tinha coragem de chegar para ninguém e dizer "oi" só porque pretendo pedir ajuda logo em seguida.

Mas já fizeram tanto isso comigo, e por  incontáveis vezes eu cheguei a conclusão que muitos nos colocam dentro de tal geladeira, e nós ficamos lá ocupando espaço nessa geladeira porque um dia algo particular que fazemos poderá vir a ser útil para ela. Vou tentar dar um exemplo: Imagine que você fala Mandarin e todos que te conhecem sabem disso. Pode acontecer de seus amigos sumirem e você nunca mais ter contato com eles, mas se um dia algum deles voltar a falar despretenciosamente com você, será que que o assunto sub-seguinte não será algo do tipo: "Hey, você fala Mandarin não é? Será que não pode me ajudar numas coisas aqui que tenho pra traduzir?". Essa frase dita dentro de um contexto específico faz com que você seja tirado da geladeira desse seu "amigo" sem saber.

E se você for parar para pensar, o contexto de estar na geladeira se aplica à muitas coisas, desde amizades à relacionamentos. O famoso caderninho com telefones de possíveis pretendentes que em uma ocasião não deram em nada, mas que ficam lá guardados para serem usados se um dia tudo der errado e você precisar de alguém.

Vendo assim, é um ciclo vicioso da falsidade. Se você tem uma geladeira, você conserva amizades por puro interesse, e ainda quer que tais "amigos" sejam receptivos e te ajudem em seus interesses quando você tirá-los do freezer. Eu já discuti em um outro post sobre a amizade escalável o porque acredito que o ser humano se move por interesses, mas sem generalizar, afinal de contas, aposto que quem ler isso vai se achar fora da curva e repetir em bom grado: "eu não sou assim". Ainda bem que nem todos são...


Geladeira Morta


Mas é lógico que existe um truque para se manter alguém na geladeira sem parecer que esse alguém está na geladeira. Vamos supor que você tem um amigo fotógrafo, e talvez, vá precisar dele para alguns eventos especiais de sua vida, como fotografar seu casamento ou a festa de formatura de seu filho prodígio. Muitos não vão considerar imoral o fato de você nunca falar oi para seu amigo fotógrafo, e quando falar oi, na sequência ser para usar seus dons. E eu também não acho isso errado, uma vez que pelas minhas teorias sobre a amizade, isso não seria considerado como um amigo, e sim como um contato. Amigo você quer o bem e se importa em saber os passos de sua vida para compartilhar os bons e maus momentos. Agora um contato não, um contato é simplesmente alguém que está na sua agenda de contatos, e corre até o risco de você ligar para ele e passar por uma das seguintes gafes: 1) Ele morreu, não sabia? 2) Ele não trabalha mais com isso... 3) Ele está sobrecarregado de serviços agora.

Se você já ligou para alguém e ouviu uma dessas três respostas, então seu contato morto na geladeira provavelmente será facilmente esquecido. Amigos não são esquecidos, mas contatos sim. Colocar amigos na geladeira é errado, mas colocar contatos não. Até porque, sem que você queira, é bem provável que esteja na geladeira de muitos e nem faz ideia...

Mas aí que se nota uma grande diferença entre um simples contato e um amigo. Quando você pedir ajuda de um "contato", sua ajuda não será um simples favor, e sim um serviço prestado. Desse modo, nada mais justo do que o adicional financeiro ser envolvido no assunto. Você presta favor para um amigo, mas presta um serviço para um contato. Acho que essa é a maior diferença.


Conclusão


Como já sou acostumado a fazer em muitos desses posts por aqui, primeiro eu defendo meu ponto de vista e depois eu ataco meu próprio ponto de vista, contradizendo tudo e deixando quem lê mais confuso que eu.

Pois então, você pode ser a pessoa mais errada do mundo ao colocar seus "amigos" na geladeira e só tirar eles de lá quando precisa. Mas, ao mesmo tempo, se você pensar fora da caixa, isso pode ser o mais certo e lógico a ser feito, e irei tentar explicar o porquê.

Se você não precisa das "habilidades" de alguém no momento, e esse alguém também não precisa de suas "habilidades", então ambos entrarão numa geladeira natural, onde o fato de você não conversar com alguém durante tempos pode significar que cada um entrou na geladeira um do outro naturalmente. Então você não é o vilão da história por ter amigos que só irá chamá-los quando precisar deles, afinal de contas, seu amigo também pode precisar de você primeiro e assim chamá-lo antes. E se você for pensar nos amigos que vem e vão, então a geladeira natural não precisa ser necessariamente defendida apenas por "habilidades".

E aqui vale a pena relembrar (mais uma vez) o post sobre o interesse escalável, onde defendo a ideia de que todo e qualquer ser humano é uma criatura que se move em pró de seu próprio umbigo, e vive a vida disfarçando seu lado interesseiro graças às regras de convívio social. E assim, o mundo se move de acordo com os interesses que cada um tem de sua própria vida. Até porque, mesmo na melhor amizade que existe, não vai me dizer que a própria amizade não é um interesse?


No calor, talvez até seja bom esse conceito de colocar mais coisas na geladeira para refrescar. De qualquer modo, tudo o que fica lá tempo demais estraga de qualquer jeito. E nesse blog sem vida, imagine que a sessão de comentários é como se fosse um freezer, e você pode por lá o que quiser para que se conserve para sempre. Se tiver sem paciência para comentar, que tal ver alguns outros posts aleatórios do blog?

Qua foi sua última desilusão? →  Post anterior sobre a enquete do blog.
Extremamente Simples → Tentando deixar a vida mais fácil.
O lobo solitárioÀs vezes viver mal, pode ser um bem... ein?
3D Pokémon → Um desenho que fiz em 3D. Ficou ruim, é pra descontrair.

Fiquei um bom tempo sem postar nada aqui. Achei que um post falando sobre essa conservação da vida alheia fosse um bom recomeço. Talvez seja só mais uma desilusão para tal extenso repertório desse blog.