sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Deserto de Syin (Incompleto)


Este é um preview de um jogo - mas a animação não está muito interativa, então por isso é apenas um preview. Não tem muitos movimentos, e considerada por grande maioria (eu e mais umas duas pessoas?) como uma animação sem muita história.Os sons não foram compactados, então, o tamanho do arquivo está um pouco pesado; Confira.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Inclusão Digital


Esta animação foi apresentada na Universidade Guarulhos (UnG) como um projeto da Semana Cultural de 2004, que foi realizada de 4 a 8 de Outubro. O Tema abordado pela semana cultural aos alunos de Arquitetura, Design e Projetos em WebDesign foi sobre a Inclusão Digital.A animação dura pouco mais de dois minutos, estando um tanto pesada (2,20 MB) devido a incorporação dos sons não otimizados para garantir a qualidade original. Veja e me fale o que achou!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Quinta Cor


Contam as lendas urbanas de amanhã, que ainda existirá a celebre história de Elias. Nascido num mundo em preto e branco como o de hoje, mas desacreditado dos mesmos ideais de sempre, simplesmente porque era assim que o resto de sua sociedade lhe sussurrava. Tudo o que conhecia era um mundo desbotado, uma vez que fora entregue a um orfanato por problemas de planejamento dos pais. Pais tão burros quanto milhares misturados naquele planeta feito de tons de cinza.


Elias era um bebê, e como já se sabe que bebês não têm poder de decidir o futuro, então ele chorava diante daquela aquarela mundana. Via rostos lhe fazendo caretas, ouvia vozes embargadas por contentamentos ou discriminações, distinguia sorrisos de lágrimas, e independente de tudo isso, ainda assim crescia. Continuava crescendo, sem saber que todo seu futuro estava nas mãos de qualquer um que lhe escolhesse para adoção. Pacientemente, embora inconscientemente, esperou.

Aos sete anos de vida, Elias teve sua sorte lançada para um casal de jovens fotógrafos. Uma boa sorte, atrevo-me a dizer, porque o casal era apaixonado, cegos pelo amor e surdos para os visíveis problemas econômicos. Tão burros quanto um pequeno cãozinho chamado Rex que tinham adotado em certa ocasião, e principalmente tão imbecis porque só faltavam confundir Elias com Rex e misturarem a ração canina com o alpiste que educadamente chamavam de arroz e feijão. Apesar de tudo isso, era uma boa sorte. Boa sorte porque toda vida que é cercada de desafios difíceis e desanimadores, fazem de alguém ter o ímpeto necessário para vencer qualquer batalha que pareça dura num encontro casual.


Se tudo dependesse da vontade Elias desde a infância até a adolescência, então ele já teria decidido que deixaria a casa de lado para morar na escola. Até porque, a merenda era boa e os professores não ficavam o tempo todo querendo lhe mostrar fotos abstratas que só criaturas avançadas compreendem. Claro que não era uma escola perfeita, e parte das manchas que sujavam esse conceito vinha de outros alunos. Alunos que deviam ter um cotidiano amassado a ferro ou enevoado em cortina de seda, pois do contrário, nada justificaria as chacotas e brincadeiras de mau gosto que faziam sobre Elias. "Você é um imbecil, mal sabe ler ou escrever.", diziam os outros para ele, que entre um momento de ira e outro, conseguia reunir todo seu ódio para somente dizer: "Imbecis são vocês, que não me entendem".


Não que fosse difícil entender Elias, porque na verdade a dificuldade era dele de entender tudo. Se esforçava nos estudos, mas as notas eram baixas. Principalmente nas aulas de português e matemática, que tanto sofreu para compreender as contas que chegou a odiar seu próprio nome. Num certo dia em particular, ele chegou a certa conclusão em mais um de seus momentos a sós com as próprias reflexões: Elias tem cinco letras, e começa pela quinta letra do alfabeto. Não é por acaso que as aulas de quinta-feira são as piores: Cinco é um número para palavras maldiçoadas – assim como eu, p-a-p-a-i, m-a-m-ã-e, e tudo mais. Sorte a dele que nunca descobriu que era ó-r-f-ã-o, pois do contrário, haveria mais uma palavra a odiar em sua lista particular de reprovações infundadas.


Talvez houvesse uma parcela de culpa da tecnologia, mas o fato é que seu contato precoce com os computadores lhe enfraqueceu tanto a vista que ele percebeu que ler e escrever não deveriam estar presentes em sua vida. Sem visão, sua inteligência se restringia ao mundo que é feito somente para quem enxerga.


Com o passar dos anos, algumas coisas ficaram claras. Elias descobriu que nascera com uma doença pouco comum em seus olhos, e todos os diagnósticos médicos apontaram que ele ficaria cego antes de completar trinta anos. Ironicamente, as coisas ficariam escuras, mas antes que isso acontecesse, ele não se importou em viver com essa preocupação. Até porque, nunca iria saber como era a cor que todos viam, e se realmente ele via diferente dos demais.


A maior ironia do mundo mesmo, foi ver a carreira que Elias escolheu para si. Aos vinte e dois anos estava começando a entrar para a faculdade de fotografia, sem se importar com as palavras frias e destruidoras que vinham dos médicos. Já aprendera a ser alvo tão frenético das descrenças humanas que tudo que ouvia parecia ser mais uma chacota, quer o mundo estivesse errado ou apenas ele em suas conclusões precipitadas.


Mal ingressou na universidade e já trabalhava em uma grande agência de fotografia de sua cidade. Lentamente ganhou respeito daqueles que um dia lhe chamaram de imbecil, porque munido de uma máquina fotográfica na mão, ele eternizava os momentos que quisesse dos outros, e para os outros, agora ele era um santo. Com um pouco de sorte e azar, ele fez boas fotos, gerou boas polêmicas e herdou um pouco de dinheiro para garantir alguns anos depois que não tivesse mais condições de fotografar.


E foi somente nas aulas de fotografia que o jovem Elias descobriu que todo seu conhecimento sobre as cores era errôneo. Não existia nem branco e nem preto pela concepção da natureza, e as três cores primárias eram na verdade uma afronta à ciência, porque o azul e o vermelho, na verdade sempre foram ciano e magenta para todos os efeitos científicos. A quarta cor era o preto. Depois disso, tudo era considerado como a quinta cor. Folhetos que imitavam transições de brilho, lindos cartazes feitos com tinta dourada ou vestidos de prata. Tudo fazia parte da quinta cor, justo o número que fazia a causa de todas as maldições para a vida de Elias.


Aos trinta anos, como todos os sábios profetizaram para Elias, ele começou a ter sinais claros de que sua visão estava lhe traindo. Já mal conseguia calcular distâncias e contextualizar cores. Mas o estranho disso tudo, era que ainda assim havia uma única coisa sua que não lhe pareceu perder uma única fração de visibilidade: Suas fotos.


Havia descoberto, pelo menos em seu próprio conceito, que mesmo sem poder enxergar um palmo a sua frente, ainda assim poderia ver com toda nitidez as próprias obras fotográficas pousadas nas palmas de sua mão. Quer ele soubesse ou não, quer fosse real ou parte da imaginação, ele começou a notar o quanto suas fotos estavam se tornando melhores a cada dia que passava. Principalmente quando começou a entender o que era colorido, Elias quis contar ao mundo que havia descoberto uma série de cores novas, mas então mais uma vez ele fora vítima das chacotas do mundo, e ali o condenaram sem piedade sob a pena de estar louco; de ser mais um louco entre tantos que já há de sobra.

Fora parar num hospício da famosa Quinta Avenida, no quinto andar e no quarto de número cinco. Atado numa cela coberta de branco por todos os lados, Elias se sentiu mais uma vez só, como nunca havia estado até então. Com a visão lhe destruindo o resto da sanidade por dentro, ele lembrou que nem mais estava com a máquina fotográfica em mãos. Apenas com uma bela foto que trazia recordações do bom tempo que esteve na faculdade.


Agora estava preso, chamado de louco porque via as cores mais vivas do mundo em um pedaço de papel. Os mesmos médicos que diagnosticaram sua doença disseram que Elias tinha uma disfunção na retina, e por isso, não conseguia capturar as cores; Tudo para ele podia ser considerado uma reprise dos filmes antigos, mas ressaltando sua visão em tons de cinza como o mais perspicaz dos cães.


Repetiu para as paredes ao redor: "Imbecis são vocês, que não me entendem".


Depois de mais trinta anos trancado em meio a todos os loucos de seu mundo, Elias aprendera a ser um deles. Detestava o sol porque sabia que era dele os tons de ultra-violeta. Detestava a tecnologia, porque não suportava o infra-vermelho, nem o branco estampado num monitor ou o preto estampado num papel impresso. Tudo porque eram essas as cores amaldiçoadas. Por que assim são as maldições, que maquiadas entre o belo e o terrível, diziam a Elias que a quinta cor de tudo era o culpado pelo mal de todos.


O que contam as lendas urbanas de amanhã, é que Elias viveu até sua velhice apenas imaginando que enxergava, quando na verdade nunca enxergou nada desde o dia que nasceu. A ciência em sua postura rude afirma que Elias é um caso raro de meio termo entre o real e o imaginário; Ele foi capaz de imaginar as cores, enquanto todos os outros são capazes de ver apenas as que já existem. E isso explica que no fim Elias não era um louco, simplesmente porque realmente havia descoberto uma cor nova. Sua particular e privada quinta cor.


Olhos, visão... também são um mal, pelo menos assim condenou Elias em sua velhice; Não é a toa que também possuem cinco letras. Mas, se para os mais velhos, a quinta cor muitas vezes é simplesmente o colorido, para os imbecis, a quinta cor não existe.

Linha Vazia


Semanas atrás,

O grito escarrado, entupido, propondo o socorro a distância veio acompanhando os cambaleios daquela mulher. Tudo em que seus objetivos mais profundos tingiam, era alcançar o único telefone público existente em quilômetros de ruas desertas.

Assim solitário, triste e nostálgico, o telefone tocou incansávelmente naquele fim de tarde em algum lugar distante. Alguma casa fora sorteada para receber o chamado da mulher, e cá eu deixei de atender porque o sono e o cansaço estavam sob minhas prioridades. Eu podia muito bem ter puxado o fio do telefone e continuado a dormir, mas toda a generosidade presente em meu ser fez com que eu atendesse aquela ligação.

A voz do outro lado da linha gritava tanto que eu mal conseguia distinguir qual era a mensagem e motivo daquela ligação. Pensando que fosse um trote ou engano qualquer, eu pedi desculpas e desliguei o telefone, mas desta vez já tinha decidido que não atenderia mais ninguém.

A mulher reconheceu o erro pregado pelo seu nervosismo, e cogitou algumas frações de segundo antes de tentar usar a última ficha telefônica que tinha no bolso. Mas, como a vida condena a quem falha, ouviu-se um forte estampido, e junto do barulho, a dor. Agora escorria sangue pelo seu ventre, e a possível bala de seu assassino alojado pela suas entranhas.

As últimas forças remetiram o desejo de completar aquela ligação. Mas havia alguém ali que não permitiria esse desfecho. Ouviu-se mais um tiro, e a mulher cedeu sobre o próprio peso, ajoelhando-se no chão. Em uma mão havia a escassês de uma única ficha, e na outra o sangue em ambundância.

Meu telefone tocou uma última vez, mas eu não sabia que era o último contato. Queria xingar quem quer que estivesse no outro lado da linha, mas antes disso, dei a chance de tentar receber novamente a mensagem. Desta vez não havia mais berros ou desespero. Havia apenas uma tênue linha de silêncio no fim.

- Pai? - perguntou ela de forma tão meiga que quase teria sentido pena de sua voz. Mas precisava manter minha postura ríspida de pai, e por isso, fui rápido a falar antes que pudesse ter meus sentimentos corrompidos por sua encenação.

- Você quis fugir de casa mesmo contra todos nós. Você preferiu seguir o canalha que chama de marido, mesmo sabendo que ele lhe batia, não era? Você optou escolher por quem tinha ódio a lhe oferecer, ao invés de quem tinha amor.

Eu senti que já havia feito meu papel de pai passando-lhe um merecido sermão. Depois disso, estaria mais confortável em ouvir seu pranto, como sempre ouvia durante muito tempo. Mas então ela disse "Amo vocês", e desligou. Resolvi aguardar o dia seguinte para que ela aparecesse na porta de casa pedindo desculpas. Mas minha espera passou de semanas e semanas a fio.

Dias atrás,

Encontrei o marginal que namorava minha filha no mercado. Ele estava com outra garota. Quase quis partir seu pescoço ao meio, mas ainda assim, usei de toda minha generosidade e apenas perguntei:

_ Cadê minha filha?

Ele balançou a cabeça, como se não estivesse se lembrando de mim. A garota olhava para ele disconfiada, mas ainda assim não quis dizer nada. Esperou educadamente pela palavra dele.

- Receio que sua filha deva ter lhe abandonado. - respondeu o homem - Mas deve estar bem, nós terminamos o namoro faz pouco tempo, mas ainda assim ela insiste em morar num apartamento do litoral.

Eu até estenderia minha seleção de perguntas, mas então ele puxou um papel com um número de telefone.- Aqui está o número do apartamento dela. - disse ele - Ligue e fale diretamente com ela, porque já concordei que a esqueceria para sempre.

A moça que estava junto dele sorriu, e ambos se beijaram na minha frente e saíram. Sumiram.

Hoje,

Liguei para minha filha várias vezes. E já havia feito a mesma coisa a dias atrás, mas nunca consegui falar com ela. Não existia nenhum apartamento no litoral, nem em lista telefônica alguma. Ainda hoje, sentindo-me culpado por ter sido duro com ela, aguardo sua ligação.

E quando o telefone toca, tem vezes que desejo atender na última esperança de ouvi-la dizer: "Amo vocês". Às vezes caiu em alguma esperança e tirou o telefone do gancho apenas para escutar o tom fino esperando para que eu disque um número. Então, depois vem o silêncio, e mais uma vez eu continuo esperando.

Mas tudo o que encontro, é só uma linha vazia esperando por ser atendida por alguém.