domingo, 22 de janeiro de 2012

De onde vem a Angústia?

Esses dias fiquei tentando encontrar alguma explicação lógica para explicar a angústia. Sim, esse tipo de dor física, que realmente diminui a quantidade de ar nos pulmões na mesma medida em que o peito parece estar sendo apertado com uma morsa invisível. Ficarei feliz se você disser que nunca teve isso, porque é uma droga. Posso até arriscar fazer uma leitura a frio dizendo que você é uma pessoa confiante, inteligente e corajosa. Não que as pessoas sem confiança, burras e medrosas são as que obrigatoriamente sofrem de angústia. Mas vou tentar me explicar de um modo direto sobre o que quero dizer com isso.

Que burro, dá zero pra ele!


De repente terá uma prova para o último semestre que você não tenha estudado nada. Você ficará angustiado por causa disso? Normalmente não, porque por mais apreensivo que você fique em torno do resultado daquela prova, sua mente é sagaz ao saber que as consequências de uma reprovação não representam risco de vida. Ou mesmo que representem, se você não estudou para aquela prova, é bem provável que você saiba que vai ser reprovado.

Agora vamos considerar algum risco de vida verdadeiro, como por exemplo o diagnóstico de uma doença terminal. Nesses casos, durante o momento em que você espera esse diagnóstico chegar, haverá pessoas que sofrerão com alguma espécie de crise de pânico (que é quando você não sabe o que fazer) e outras pessoas sofrerão da angústia (que é quando você sabe que não pode fazer nada). Bom, não tenho experiência de causa para me aprofundar tanto nessa questão, mas já li esse tipo de relato em algum fórum avulso por aí, então creio que seja válido de alguma forma.

Também existe a angústia relacionada a perda. Perder uma pessoa, seja por óbito ou por ócio, pode trazer a angústia, mesmo que não haja um risco de vida real. Talvez seja a mesma coisa causada em qualquer crise de abstinência, com a única diferença de que essa você não tem como ter o controle da situação. Daí surge novamente a apreensão do momento atual, e a angústia está lá.

Sabe o que há de comum nessas situações? A incapacidade de lidar com alguma coisa que estagna no tempo para sempre. Uma pessoa confiante tem mais facilidade para lidar com isso porque confia em alguma resolução próxima. Daí vem aquela velha questão do otimismo, que tenderá a deixar tudo mais fácil no futuro e agilizar o processo. Confiança é algo bem ligado com a coragem, uma vez que não importará a angústia, mas a coragem para saber o que fazer (e fazer) é quase automático.

Vai dizer que pessoas com pouca confiança e medrosas não são as que tem mais tendências de sofrer com isso? Não importa o que digam por aí, mas tem coisas que não importa a inteligência também: se não existe como controlar uma coisa causada por um padrão de pensamento, então isso é muito bem análogo a burrice. E sim, eu me incluo nesse tipo.

Doença?
 
A angústia é tratada por aí como doença, podendo durar pouco tempo ou muito tempo. O remédio pode ser um calmante ou um anti-depressivo como também apenas deixar o tempo agir sobre o presente. Agora o que mais me espanta é pensar que é uma doença provando mais uma vez na nossa total incapacidade de nos domar a si próprios.

Como a causa do problema é apenas psicológica? Como pode essa hipocondria mórbida se abater com tanto poder e, por mais bizarro que pareça, de deixar sem controle sobre alguma coisa que em teoria, você deveria ter facilidade em controlar. Porque a mente resolve logo travar suas vias respiratórias e causar a sensação de coração esmagado?

Eu tentei encontrar muitas respostas pela internet para me auto-diagnosticar, mas tudo o que achei foram apenas textos avulsos. Como esse aqui no site da Abril, que mostra como essa doença pode ser ainda pior do que se imagina. Afinal de contas, algumas pessoas sofrem uma angústia e não sabem. Elas vão ao cardiologista preocupadas com alguma doença cardiovascular, quando na verdade estão apenas angustiadas sem nem ao menos entender o porque. Daí vem o que eu já havia dito aqui sobre a importância do auto-conhecimento. Se você se dedica ao auto-conhecimento, certamente é capaz de compreender quando sua mente está falando e quando seu corpo está falando.

Ah, e desse o artigo do site que citei, vou ter que copiar aqui um trecho muito condizente:

À luz do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard (1813-1855), a psicóloga Marília Dantas, da Universidade Estácio de Sá, em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, traduz o mal-estar: "O ser humano sente desamparo, incerteza, falta de controle diante da liberdade de decidir. Optar por um caminho significa correr riscos, abrir mão das alternativas. Isso é angustiante".


Ou seja, é como se a angústia tivesse tudo a ver com a tal necessidade de escolha que perambulei nos posts sobre dúvidas e certezas. Isso apenas reforçaria a necessidade das certezas, uma vez que algumas vezes a dúvida pode ser apenas uma dúvida, mas em outros casos, ela pode ser a patologia de uma doença. E isso é óbvio: quanto mais forte e impactante for a consequência dessa dúvida, maior será a angústia e todos os sintomas físicos já citados.

O cérebro tem uma maneira muito estranha de tentar nos avisar que tem algo errado com a gente. As vezes você pode ter uma dor de cabeça genérica, que na verdade é uma resposta da sua mente para dizer que há algo errado contigo. Muitos simplesmente podem ignorar isso e apenas tomar algum analgésico para dizer a si mesmo: "Não enche, se vira aí organismo, é cada um com seus problemas!".

De uma forma parecida está a angústia, que é quando o cérebro quer dizer: "Não vou deixar você fazer nada enquanto não resolver esse problema". E ele tenta travar seu corpo de uma forma diferente, não com a dor de cabeça, mas com dor no peito, querendo atrapalhar sua respiração. Em minha teoria besta, ele poderia fazer isso para privar a si próprio de mais oxigenação no cérebro, e assim fazer você parar de pensar muito e simplesmente decidir. Até que faz sentido, não?

Teorias à parte, em resumo não tenho muito mais o que dizer. A angústia tende a vir de um momento atual. Ela pode estar ali porque quer que você se decida o que fazer da vida diante de determinada situação. Porém, em alguns casos, ela pode simplesmente estar ali, sem realmente ter uma causa. Ou seja, ela pode ser o primeiro sinal para a depressão. Mas deixo para falar sobre a depressão em um post futuro, assim que tiver desilusões suficientes para recolher o material necessário para tal assunto.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Trabalho Desmotivacional

Esse é um post pessoal, falando sobre troca de trabalho e coisas de pouca importância. Ou seja, esse é um post que não vale a pena ser lido.


Prelúdio

Às vezes, ou quase sempre, é constrangedor quando você conversa sobre trabalho com alguém muito mais velho que você. Normalmente eles vão dizer, e com certa razão, coisas que farão você parecer um preguiçoso de marca maior.

"Ah, porque eu comecei a trabalhar com 14 anos", dizem vários deles.
"Ah, porque eram 48 horas de trabalho", insistem vários deles.
"Ah, porque não tinha essas mordomias disso e daquilo. Opções de transporte? E-mail? Esqueça".

No final de uma conversa dessas, a impressão que fica é que você vive em uma era de ouro, completamente fantástica e cheia de regalias. Mas a impressão é falsa, já que se hoje existe o tal do stress e a loucura mental, provavelmente é porque as diferenças entre uma época e outra não carecem de comparações. Cada qual com seus prós e contras.

Meu foco nesse post não é fazer nada muito reflexivo sobre o tempo ou as mudanças de comportamento causadas pelas influências do convívio trabalhista. Como eu disse, é apenas um post pessoal, e apenas relata minha última experiência nesse âmbito profissional.

A Morte da Motivação

Havia entrado finalmente em um emprego, e ostentava a carteirinha premiada de um cidadão de bem. Era tão chique estufar o peito para dizer que estava trabalhando que até meu ego se perdia nessas constatações. Queria ser o primeiro a chegar e o último a sair, fingia que tinha esquecido meu horário para trabalhar até mais tarde sem me preocupar com salário. Essa alegria, provavelmente vinha devido a sensação de estar sendo útil no mundo. Poder fazer alguma coisa que sabe, ou que não sabe mas que pode aprender, e ver ao redor o efeito de que seu trabalho foi aproveitado.

Todo o estupor inicial demorou alguns meses, mas ao invés de simplesmente desaparecer, ele foi dando indícios de que é quase impossível se contentar com tudo. Um salário ineficaz a cobrir as despesas da censura capitalista me fizeram refletir que ter um emprego não era tudo. Depois alia-se a rotina imutável, o trajeto da corrida dos ratos e as observações de detalhes ao meu redor que no início eu não tinha tempo de observar.

Era um trabalho solitário. Oito horas na frente do computador - e por um tempo sem ver a luz do dia, nem saber se ainda era dia lá fora. Nas vezes que eu saía do escritório para andar pela rua no horário de almoço era a sensação mais renovadora que eu tinha; sentir o calor do sol, ver pessoas andando nas ruas e o barulho dos carros me traziam uma parte minha de volta à liberdade. Sabe aquela coisa de dar valor as coisas simples da vida? Só se privando delas por um tempo pra eu sentir o efeito prático disso. Um momento indescritível. Ao mesmo tempo, quando eu voltava para as quatro paredes sólidas, tudo se fechava novamente... Provavelmente isso foi o grande responsável por contribuir com minha alienação, e mesmo as válvulas de escape que tinha nas férias eram reduzidas ao nada, como se reduz corpos ao incinerador.

Eu já propus aqui que tudo o que fazemos é um emaranhado de experiências. As novas experiências são as que nós mais prestamos atenção e é a que mais nos desafia e impulsiona ao empenho máximo para aproveitar e aprender tudo o que for possível daquela experiência. E como sempre gera uma mudança na vida de alguém, os primeiros dias em um emprego novo podem muito bem serem comparados com a Corrente da Motivação ou uma Avalanca. Essa mudança é grandiosa e impactante, e então, como um um ex-viciado que volta para as drogas,  um trabalhador pode querer voltar a ser um vagabundo.

E nem sou eu que estou dizendo; isso é constatação de causa. Durante o período que trabalhei para uma mesma agência, eu via alguns estagiários entrarem, e era impressionante a agilidade e eficiência que tinham na primeira semana de serviço. Eu até chegava em casa com um olhar preocupado comentando com meu pai em uma nota de aflição: "Esse estagiário que entrou lá manja muito... As coisas que eu levo semanas para fazer ele faz em poucas horas. Acho que logo logo vou ser mandado embora, porque não consigo acompá-lo".

Meu pai balançava a cabeça, e sem nenhum tipo de análise de conhecimento da pessoa ou do tipo de serviço que ela fazia, ele apenas dizia com toda calma do mundo: "Filho, são só as primeiras semanas. Depois esse estagiário relaxa".
Dito e feito, com uma precisão de duas semanas para que todo o empenho e poder mágico da pessoa mais eficiente do mundo recaísse ao mesmo nível que o meu. E aí, apenas com uma reflexão breve de meu próprio passado, eu também notei como já havia feito aquilo antes; enquanto eu era estagiário minha motivação para viver pelo e para o trabalho eram muitas e muitas vezes maior. Não é atoa que grandes empresas fazem palestras motivacionais para seus funcionários, ou então, criam regalias para mostrar aos trabalhadores que ali é um "ambiente perfeito".

Então, porque será que essa  motivação diminui para muitas pessoas? Para tentar encontrar uma resposta, eu pensei em três fatores razoáveis:

a) Zona de Conforto: Você percebe a segurança de seu trabalho, e se a concorrência pela sua vaga for baixa, então você deixa seu empenho ser apenas o essencial para se manter ali. Daí, quando você entra em uma empresa, você não sabe o potencial das pessoas ao redor, e por isso vai tentar se esforçar para que supere até o mais incrível daqueles que sua mente pressupõe que seja o mais incrível. E daí, quando você nota que a única pessoa que te oferece "riscos" não tem metade do seu empenho atual, então você se rebaixa até ela para evitar gastar "sua energia" sem necessidade.

b) Desilusão: Você pode perceber que o emprego não é tão bom quanto imaginou. Não é aquele seu emprego dos sonhos, e por tanto, naturalmente você se desmotiva. Simples assim. E como eu havia citado, talvez o próprio trabalho crie essas estruturas que lhe desmotivem sem saber; chefes que não tem tempo para dar bom dia ao seus funcionários ou dizer obrigado diante de uma tarefa feita pode ser alguns dos exemplos.

c) Estrutura de Caráter: Você pode diminuir o empenho por uma simples questão de que sua motivação possui um tamanho muito pequeno. Aí não tem jeito, e nem sempre pode ser culpa apenas sua; existem pessoas que não conseguem se fixar em uma rotina, e por isso podem diminuir o empenho de modo proposital para coseguir uma demissão e seus direitos reservados. Ou talvez ainda esteja tentando descobrir o que quer fazer da vida, e enquanto essa certeza não vier, nada daquilo parece gratificante. Enfim, o problema pode não ser o trabalho, e sim o trabalhador.


Limite Break

Mas voltando ao meu #mimimi tradicional... Quando havia decidido que precisava mudar de emprego, o novo choque da realidade me atingia como lanças afiadas; como trocar de emprego, se para conseguir o atual foi tão difícil? É como se eu tivesse desbravado o rio tietê oceanos e tempestades para encontrar uma pedrinha no fundo do mar. A importância do tesouro se torna maior do que o próprio valor do tesouro.

Então meu dilema sobre continuar ou sair do emprego atual ganhou novas reviravoltas. Eu cheguei ao ponto de quase ver o fruto de tudo aquilo que já tinha feito pela empresa desaparecer, durante certa época de crise. Foi esforço e determinação por parte de todos os envolvidos que salvou aquele lugar das ruínas. Ainda assim eu não queria estar lá, mas ainda assim eu também não podia abandonar a quem um dia me estendeu a mão.

Era uma vida infeliz, mas que passou a alimentar a síndrome de Estocolmo. Será que essa síndrome de Estocolmo não era causada pelo fator "zona de conforto"? Talvez fosse isso também, porque ali dentro havia uma certeza de meu emprego, mas fora dali era tudo imprevisível. Havia passado tanto tempo em volta de correntes que não ousava me perguntar se eram mesmo correntes, cordas ou um fio de seda imaginário. E como eu já disse no post sobre as Dúvidas e Certezas, certamente o ser humano é melhor lidando com aquilo que está dentro de sua zona segura com qualquer coisa que desconhece.


Estava trabalhando para três pessoas diferentes, cada uma exigindo de mim um período integral de atenção. Óbviamente, era claro que isso poderia resultar em um fracasso triplo. Mas não me importei, e troquei o resto de tempo que tinha para pensar em mim em troca de pensar neles. Começei a dormir mal, alimentar-me mal e passar quase 17 horas envolvido com algum tipo de trabalho.

A única conclusão disso só me veio meses depois, quando eu percebi que tudo se adapta para nossas escolhas. A vida se adapta de uma forma ou de outra, e não importa onde eu esteja agora, o que importa é pensar mais no presente e deixar de lado as dúvidas que pelejam junto ao futuro.  Trabalho é bom, mas seu excesso leva a loucura. Talvez o excesso de tudo leve a loucura.

E vou ter que bondear uma frase que li no msn de um amigo meu que resume muito de tudo isso:

"Não conheço nenhuma fórmula infalível para obter sucesso, mas uma infalível para fracassar é tentar agradar à todos" (JFK)

Pode apostar que sim.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Corrida dos Ratos [2] - Compreendendo


Esse post é uma continuação direta do anterior, onde tentei explicar a tal teoria sobre como se entra na corrida dos ratos. Mas, por mais desilusões que o blog se propõe, agora tentarei pensar numa forma de se sair dele.

A história funciona assim: Primeiro você precisa comprar coisas com o dinheiro que não tem. Depois você precisa pagar as dívidas feitas com esse dinheiro que já não tinha. Quando vê a situação de um modo diferente, está correndo para pagar aquilo que não devia ter comprado. Essa é a corrida dos ratos, como uma alusão a metáfora encontrada no livro Pai Rico, Pai Pobre (não lembro o autor).

De qualquer forma, as dívidas são boas para que o sistema econômico mundial funcione, pois todos os cálculos bizarros que nunca vou compreender vem das coisas que não foram pagas ainda. O banco te empresta dinheiro, que por sua vez empresta do banco central, que por sua vez empresa do país, que empresta do FMI, que empresta de outros países. Enfim, dever é um fator obrigatório para que o mundo atual funcione, e esse jogo de cada um ter que se virar para produzir dinheiro que pague as contas é exatamente a tal corrida dos ratos funcionando em escala global. Talvez essa seja a grande motivação de vida funcionando ao background de todos os seres humanos...

Mas deixo isso para uma outra discussão. O fato é que se você não consegue comprar tudo o que deseja, então você é uma pessoa normal. Agora se você tem alguma dívida pendente, ou qualquer coisa que tome seu dinheiro mensalmente e te obrigue a trabalhar para suprir esses gastos, então parabéns, já está na corrida dos ratos. Trabalhar para pagar as dívidas é o lema padrão de todos nessa corrida. O certo, seria trabalhar por prazer, de modo que nunca as dívidas estivessem atrás de você. E isso não é um sonho utópico; pelo menos não era nos livros que li sobre o assunto...

Saindo da Corrida dos Ratos

Como parece claro, grande parte das pessoas começa já predestinada a seguir essa corrida dos ratos. Mesmo que consiga o melhor emprego do mundo e tenha uma carteira registrada com todos os direitos reservados, dizer que terá dinheiro de aposentaria pelo INSS não é nada assim tão garantido. E aí, diante disso existe as opções de Previdência Privada, que na verdade é quando você pega uma parte do seu salário e deixa para alguma instituição cuidar dele para evitar que você gaste antes da hora, e se tudo der certo, existe uma chance pequena de que receba tudo - ou parte de tudo - o que poupou.

Ou seja, por mais instável que seja o futuro, planejá-lo pode fazer toda a diferença quando o mesmo chegar. A maioria dos grandes sonhos está condicionado, de uma forma ou de outra ao dinheiro. E como eu já disse aqui, essa idéia de que o dinheiro não traz felicidade é a grande mentira contada para que se justifique essa corrida interminável da qual muitos não tem como fugir. Pode até ser que ele não compre assim tudo, mas pelo menos 99% é certeza. Até porque, tudo pode ser convertido em dinheiro. Um seguro de vida transforma você num valor monetário, cada órgão seu tem um preço, o conhecimento que adquiriu, as coisas que já fez para estar próximo de alguém querido, etc. Você consegue contabilizar os gastos em tudo, se ainda desejar.

O primeiro passo para sair da corrida dos ratos é levar em conta que o dinheiro traz felicidade. Pois isso funcionará como uma corrente motivacional para usar a criatividade e com ela buscar formas de conseguir mais dinheiro. Isso não tem nada a ver com ser um porco capitalista ganancioso, e sim usar a ganancia como fonte de compreensão para entender que pode usufruir de mais coisas com mais dinheiro. Oportunidades para isso surgem, mas se você achar que é melhor algumas horas vendo TV todos os dias do que algumas horas conseguindo uma renda extra todos os dias, então tudo bem, afinal, pra quê dinheiro? Ou, como é o caso mais comum de se dizer: Pra quê me matar de trabalhar e jogar fora todas as horas de diversão que posso ter em seu lugar? Meu ponto aqui é o seguinte: E quem disse que trabalho extra precisa ser sinônimo de aborrecimento. Quem disse que é preciso horas em pról de renda extra?

É esse o pensamento para a saída da corrida dos ratos. É disso que esses livros furados sobre investimento falam: Você tem que conseguir fazer seu dinheiro trabalhar por você; precisa colocar uma parte da renda para produzir dinheiro, como se ele fosse seu empregado. Ok, a teoria é essa. Agora, só resta saber como aplicar isso na prática.

E como toda desilusão que se preze, certamente ainda voltarei a falar mais vezes aqui sobre a corrida dos ratos, pois esse assunto não pode ser finalizado assim sem uma solução concreta. Até agora tudo o que já sei é que estou caminhando para essa corrida, mas ela me cansa muito; sou gordo, e como tal, não tenho fadiga para correr não... mais um pouco e vou infartar. Por isso disse que só estou caminhando... correr cansa, e eu - salve Jaiminho - quero evitar a fadiga.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Corrida dos Ratos [1] - Entrando

Não que seja uma espécie de tradição eu aparecer com um post relacionado a economia logo no começo do ano, mas é que geralmente janeiro é uma espécie de ressaca do natal. É aquela dor de cabeça e desânimo gritantes pelo tanto de gasto que foi feito e que ainda terá que fazer. É quando toda a ligação familiar que havia nas festas natalinas parece desaparecer e você fica sozinho no mundo. E o tecido da realidade quase se rompendo de vez quando à volta das férias, e seu salário reduzido chegam no fim do mês. Pois é, falar sobre economia no início do ano é apenas fazer justiça com o propósito desse blog, ou seja, a desilusão mais permanente de todas, que é o dinheiro.

Entrando na Corrida dos Ratos

A primeira vez que escutei sobre a Corrida dos Ratos foi através do nerdcast sobre Mercado Financeiro. Essa bela metáfora vem um livro bem conhecido nesse setor de economia e investimentos, chamado Pai Rico, Pai Pobre. Em resumo, reza a lenda que todo mortal já nasce destinado a entrar nessa corrida dos ratos, e o processo básico disso funciona mais ou menos assim:

Ainda quando criança você entra na escola, e nos anos e anos que se seguem, a escola jamais lhe ensina a tratar do seu dinheiro. Você aprende teoremas de pitágoras, descobre como faz contas com X e consegue achar hipotenusas e catetos. Mas, jamais aprende a lidar com dinheiro; sai da escola por volta dos 17 anos sem uma única aula sobre impostos, termos bancários e contratos. Claro, claro... você aprende a fazer contas com Juros e Juros Compostos, mas... dúvido que nessa época isso tenha algum sentido para você.

Depois que atinge a maioridade, a grande distinção do mundo adulto para o mundo adolescente está a partir do instante em que abre sua primeira conta no banco. Como a escola nunca lhe preparou para lidar o dinheiro, você é capaz de simplificar as coisas desse modo: "Tenho R$500,00 no banco, então posso gastar até R$500,00".

Não, você não pode. Essa conta e linha de raciocínio só te faz empurrar ainda mais para a corrida dos ratos. Pense que você é apenas uma pessoa querendo zelar pelo seu dinheiro, equanto instituições inteiras querem vê-lo sem nada. Para dar um empurrãozinho à sua desgraça, eles dão cheques, cartões de crédito, débido, estrépito, internet banking e etc. Todas as ferramentas que os bancos oferecem são apenas meios de tentação para que você tire todo e qualquer dinheiro que está lá. E se você não tira? Então as taxas obrigatórias vão apenas descontando seu dinheiro, e a necessidade o obrigará a colocar cada vez mais dinheiro no banco na mesma proporção que o tira, mas com uma dificuldade maior para controlá-lo diante da torrente de itens que o cercam.

Mas essa história da Corrida dos Ratos não termina aí. Não é apenas as instituições financeiras que querem seu dinheiro; todo o comércio ao redor, as datas comemorativas, as novidades tecnológicas, moda, enfim... tudo quer seu dinheiro, e muitos conseguirão. Ao que consta, todos que de alguma forma se deixam levar por essas "manipulações de compra" estão fazendo apenas o normal e óbvio proposto pela comunidade capitalista. O problema acontece quando seu dinheiro não é suficiente para que você acompanhe todas as "necessidades" mostradas para você. A partir desse momento, quando você olha para seu bolso e percebe que não tem dinheiro para ter isso ou aquilo, então o dinheiro ganha mais valor e todos aqueles que eram pobres ficam mais pobres ao mesmo tempo que todos os que são ricos ficam mais ricos.

"Os mecanismos complexos do mundo moderno dependem da fé no dinheiro como as estruturas do mundo medieval dependiam da fé em Deus." - Lewis H. Lapham

Porque gastar é mais fácil?

Empréstimos. Essa é a palavra chave para explicar todo o universo da economia de um modo eficaz e real. O banco, que é a instituição mais próxima de você, quer emprestar dinheiro. Na verdade, o lojista, fazendo um complô com esses mesmos bancos, também encontraram meios para lhe emprestar dinheiro. Cartões de crédito, cheque especial, parcelamentos e outros meios para fazer você pagar agora algo com o dinheiro que ainda não possuí. Isso, por mais que não pareça, é um tipo de empréstimo.

Graças a uma dívida pendente, o banco sabe que pode contar com você para receber mais dinheiro no futuro, já que ele te empresta e cobra juros. Mas o banco também não tem o dinheiro que está te emprestando, porque ele também faz empréstimos ao banco central. Enfim, a corda é bem longa, e começa a dar tantos nós que em teoria não existe ninguém no topo. Todo mundo deve para todo mundo, e cada um se preocupa só com o próprio umbigo, que é o mais importante para apenas duas entidades no mundo: àquelas que devem à você, e àquela pela qual você está devendo.

Tudo funciona com dívidas e mais dívidas. E é graças a essas dívidas que a corrida dos ratos parece ser interminável. O concenso majoritário dita que as pessoas devem estudar, arrumar um bom emprego e ganhar muito dinheiro. Quando estão ganhando um pouco de dinheiro, então lá vem novamente o mesmo consenso dizendo que precisa estudar ainda mais, e com isso obter alguma promoção no seu emprego e assim conseguir mais dinheiro. O fluxo normal da vida está condicionado nisso, está condicionado em casar para duplicar a renda, para comprar casas/terrenos e viver do aluguel das mesmas. Ou talvez criar seu próprio empreendimento comercial e sair vendendo em uma loja da esquina aquilo que faz de melhor. Se as coisas não derem certo, você irá dizer para seus filhos: "crianças, vocês devem estudar ainda mais, e com isso conseguirem empregos melhores. Devem ter uma boa aposentadoria e usufruirem da felicidade dessa forma".

Isso é a corrida dos ratos. É o pensamento comum em que todos estão unificados, e que sem ele, o capitalismo certamente falharia. Mas, em teoria ninguém é obrigado a viver nessa corrida para o resto da vida, embora a melhor forma de escapar dela seja antes de iniciar a vida adulta. Ou melhor, antes de iniciar a primeira compra parcelada, ou a primeira dívida em um cartão.

E aqui, todo esse texto parece ser escrito por alguém que está no topo da cadeia, que fugiu da corrida e se julga no direito de dar algum conselho ou bancar o conhecedor do assunto. Não, nada disso. Todo esse texto foi escrito por uma criatura complemente desiludida que até poucos meses atrás não via o menor problema em trabalhar de graça para os outros. Esse sou eu. Só não me afundo em dívidas porque não tenho motivações de compra suficientes para fazê-las. Er... espera um pouco, agora vou ter que finalizar esse post porque ouvi dizer que tem uma promoção para o novo Iphone 4S... Brincadeira. Só vou comprar ele depois que comprar meu Playstation 3. O novo monitor de OLED fica para o mês que vem...




domingo, 1 de janeiro de 2012

Ano Novo, e agora?

E daí que tiveram 365 dias que você juntou tudo em um pacote, colocou uma etiqueta escrito "2011" e jogou dentro do armário? Quem se importa se você disser que esse ano "velho" foi bom ou ruim, mas que o ano seguinte fará de tudo para ser melhor? Tudo isso é apenas uma atadura temporal. A etiquetinha lá que ficou no pacote à ser jogado às traças é na verdade um band-aid servindo de consolo para que nenhum machucado aconteça novamente. Que bom quem não se machucou, que bom quem viveu um conto de fadas, que bom que é capaz de esquecer na mesma facilidade que tem de ignorar.

Mas é sempre exatamente isso o que todos fazem quando o ano termina, como se o dia 1º fosse um dia com poderes mágicos de real confraterniazação universal. Poderia ser qualquer outro dia do ano, ou mesmo no seu aniversário, não importa. O que importa é que se existe uma data certa para todos recomeçarem do zero, essa data é exatamente a partir do reveillon. Afinal de contas, é uma tradição cultural, e seguir as massas para se elevar pelo espírito da época não é nada demais.

O problema é quando você se dá conta, daqui uns três ou quatro meses, de que realmente mentiu feio para si mesmo. O problema não é hoje, porque é muito fácil dizer que fará um milhão de coisas diferentes; o problema é com a instabilidade do tempo, que vai te colocar coisas que nem passa pela sua cabeça nesse exato minuto, mas que fará seus planos mudarem de rumo de uma forma ou de outra. E aí, quando você estiver lá no meio do deserto só com um guarda-chuva furado tapando a cabeça, pereceberá que o sol já não faz a menor diferença, porque ninguém está preparado para o calor rebatido na areia ou os calçados desgastados pela caminhada mal planejada.

Ano novo é simplesmente o exato momento em que você para tudo o que está fazendo e faz alguma coisa bizarra. Não estou falando de supertições malucas ou de jogar coisas velhas e aposentar coisas semi-novas. Estou falando de colocar na cabeça um monte de promessas incríveis, realmente acreditando que o ano novo é uma corrente da motivação. De fato ele é, mas só dura um dia, ou no máximo alguns dias, mas depois acaba. E você nunca se frustra disso, porque é uma frustração da qual já está acostumado. Afinal de contas, se não for esse ano, ainda tem o próximo, não é?

E lá se aproximam mais 365 dias que vão entrar no seu pacotinho de experiências. Ah, desculpe-me, quase me esqueço que são 366 dias na verdade. Que bom, tem um dia a mais que certamente ninguém nunca esquece dele... Mas e agora? Será que o sol que nascia no ano passado é dferente do sol que nasce hoje? Será que sua maturidade mudou de um dia para o outro? É lógico que não. Mas é para isso que existe o pacotinho, onde cada dia é colocado dentro dele, e somente assim você consegue declarar o real aproveito da passagem do tempo. Do contrário, ele não muda. Nada muda sem esforço, nada muda sem empenho. Ninguém se torna melhor dormindo na rede ou compartilhando piadas em redes sociais. A mudança vem exatamente quando você faz algo diferente enquanto todos estão lá fazendo as mesmas coisas de sempre. A mudança vem das horas que dedicou para si mesmo, para que em momentos oportunos mostre aos outros o investimento que fez para se tornar melhor para eles. Isso mesmo. Invista em si, mas não torne apenas melhor por si próprio; torne-se melhor e mais útil aos demais.

Não tem problema que o ano novo seja o marco para definir que hoje foi o dia exato da mudança, até porque eu também prefiro assim, já que fica mais fácil fazer as contas depois (o.-'). O que importa na verdade, tão pouco é essa obsessão por mudar, até porque, muitas vezes isso não depende apenas de você, e sim de vários processos inconscientes e subconscientes que não é capaz de ter controle. Por tanto, a disciplina e o esforço são os atos que fazem tanto os grandes mestres quanto os grandes discípulos, e não há vergonha alguma de se declarar um aprendiz da vida. Aprender com a vida é ter um pouco de humildade para aceitar como todos são humanos iguais ou melhores que você. É ter um pouco de tolerância para aceitar erros e não crucificar tudo sem tentar entendê-los. Bom, vou parar por aqui porque já estou entrando no mérito das filosofias baratas. Tudo o que disse não é nenhuma novidade, mas mesmo assim, a novidade não está em quantas vezes algo é dito, e sim em quantas vezes foi praticado.

Pois daí repete-se novamente a mesma pergunta: Finalmente, cá está o ano novo. Um ano inteirinho pela frente como se fosse um caderno cheio de folhas em branco. O cheiro do papel novo dá essa aturdição pelo recomeço mágico do mundo. Mas pense um pouco: Não é apenas um dia continuando o anterior? Pois é, a resposta depende de cada um. Para quem vê o ano novo como só mais um dia, tudo bem, ele será apenas mais um dia. Para quem o vê como a oportunidade de que tudo irá mudar, então tudo bem também, tem aí a oportunidade. Para quem está colocando algo em prática hoje, então parabéns, pois realmente está fazendo algo certo. Para quem conseguir colocar algo em prática, hoje e amanhã, parabéns novamente. O espírito é esse, e espero que já saiba exatamente o que fazer agora. E amanhã. E depois. E continuamente até que seu peito se estufe no fim de mais um ciclo terrestre e você possa gritar: "Eu fiz acontecer."

Bom, e para finalizar aqui vale um ensinamento visto pelo Caoísmo, que foi perfeitamente bem aplicado dentro do magnífico jogo Assassin's Creed: "Nada é real. Tudo é permitido".