sábado, 26 de maio de 2012

Depressão

Primeira coisa: Nunca, never, Kesshite nai, Jamé, Jamais e novamente Nunca diga que está deprimido só porque parece que o mundo desabou; nunca banalize a depressão mais do que ela já é banalizada por tanta gente. Usar essa palavra em vão é praticamente a mesma coisa de praticar bullying conceitual. É como se você espalhasse o preconceito pela AIDS e fizesse que aqueles que tem a doença fiquem constrangidos em procurar um tratamento. Mas em uma doença fisiológica é uma coisa: A pessoa fica constrangida mas com muita força de vontade ela tem condições para procurar tratamento. Agora em uma doença mental isso não funciona. A pessoa não tem condições, e ninguém é capaz de simplesmente segurar na mão dela e tentar tirar do fundo do abismo. É como se a pessoa que você mais amasse no mundo se tornasse alguém que não pode mais te reconhecer. É como lidar com casais de velhinhos em que um é abatido pelo mal de Alzheimer e o outro não. Ou seja, nunca diga que está deprimido. Nunca banalize uma doença tão desgraçada quanto essa. Pronto, desabafo feito. Agora acho que posso começar a falar sobre o assunto.

Quantos tipos existem?

Vou bancar um metido a médico e propor tipos de depressão existentes. Não estou me referindo àquelas já catalogadas nos livros de medicina, que fala da bipolaridade e afins. Vou fugir das pesquisas por um instante e propor outros tipos mais predominantes na prática. Isso pode ser errado, inútil, incultural e motor explosivo da minha ignorância, mas mesmo assim vou seguir com essa proposta. Meu atrevimento chega ao ponto de eu propor a existência de 3 tipos de depressão. Mas antes de avacalhar cada uma delas, vou precisar de uma defesa aqui:

Um psicólogo, psiquiatra, pastor, santo, cigano ou seja lá quem for, geralmente não tem como compreender a depressão no mesmo nível de realidade em que ela se encontra. Por isso que é uma doença grave e deve ser levada a sério. Os remédios anti-depressivos, como eu já li por aí, apenas vão tentar bloquear algumas áreas do cérebro que liberam mais e mais substâncias venenosas químicas para si próprio. E é por isso que dizem que sempre há um risco de recorrência desse problema.

Imagine um cão. Todos os estudos científicos dizem que eles enxergam em tons de cinza e possuem uma visão mais apurada a noite. Mas, como é possível afirmar com exatidão como um cão enxerga o mundo se ninguém é capaz de estar na pele dele? Apenas por teorias e fatos que chegam próximo da realidade absoluta, mas não na realidade absoluta. De um modo similar, ninguém pode ser capaz de estudar a depressão com tanto avinco, porque quem está dentro dela tem seus motivos particulares para estar ali, e quem já saiu da crise, certamente não tem a mesma força de análise de quem está emergido no caos desse mundo. E vamos convir que quem experimenta esse estado caótico tão pouco teria motivação suficiente para falar e auto-estudar sobre isso.

E agora, dito isso, vou tomar a liberdade de explicar algo sobre o assunto com toda a superficialidade e desilusão que acompanha cada post desse blog. Para começar, minha separação nos três tipos de depressão...



Depressão Vivencial

Novamente, temos nossa vidinha normal cheia de altos e baixos o tempo todo. Dependendo de vários fatores, pode ser que sua vidinha seja mais recorrente nessas fases altas do que nas baixas. Ter sorte, amigos, tranquilidade, estabilidade financeira, metas e sonhos plausíveis e tudo isso pode contribuir para que realmente faça um bom uso da vida. Por outro lado, pode ser que as fases baixas aconteçam com mais frequência. Talvez uma insistência do azar te perseguindo, as frustrações caindo em um efeito dominó, a vida parecendo estagnar-se diante de coisas que nunca parecem caminhar do lado certo. Enfim, viver é estar sujeito a ficar nessa balança. Viver é correr os riscos de estar nos altos e baixos o tempo todo. Mas ninguém quer experimentar o lado sombrio da moeda o tempo todo, e é quando a era de trevas predomina por muito tempo que surge a hipotética depressão vivencial.

Essa depressão seria aquele tipo mais gradual, pois a sucessão de fracassos e derrotas iria cada vez privar o contato com a felicidade, até que chegaria um ponto em que a felicidade ficasse de lado. Como tudo ao redor sempre parece estar num mundo terrível e chato, então a cabeça acaba desistindo de encontrar coisas boas pelo caminho. Uma piada que era divertida no passado vai perder a graça; os filmes de humor que ativavam as áreas de alegria no cérebro são desligadas, e tudo vai virando um emaranhado de desilusões irreversíveis. E como está totalmente ligado a toda sua vida, então arrisco dizer que é difícil para quem está dentro desse tipo de depressão sair de lá, simplesmente porque ela já desistiu de viver faz muito tempo. Seria o caso mais próximo de morto-vivo que encontraríamos com facilidade por aí; pessoas que morreram em seus sonhos e vontades, mas o corpo continua vivo. Elas não tem necessariamente uma aparência monstruosa e tão se alimentam de cérebros, é óbvio, mas certamente a destruição da auto-estima as fariam cessar a vaidade e não se importar mais com a aparência, ao mesmo tempo que tudo o que era necessário para "ressuscitá-las" seja a reativação de áreas do cérebro que já não existem mais.










 
Depressão Evolutiva

A depressão já me preocupou algumas vezes, porque dizem que isso também pode ser causado por um agente genético. Ou seja, se você tem casos de depressão na família ou em parentes próximos, quem vai dizer que um gene maléfico não está ali, adormecido em seu DNA apenas esperando uma fase muito ruim da sua vida para lhe abater?

Muita gente entra em depressão quando perde algum apoio importante na vida, ou quando a morte de alguém acontece de um modo inusitado. Quando a insanidade domina a mente, as pessoas que tem aquele gene chato no corpo correm sérios riscos de desencadear a doença. E até quem não tem esse gene não deve ficar assim tão aliviado, afinal de contas, dizem que são as áreas do cérebro que agem com mais determinação sobre isso, ou seja, genética é só um mero detalhe aqui.

Mas estou falando sobre essa depressão evolutiva porque certamente ela não é novidade aqui nos dias de hoje. Animais entram em depressão, e eles me mostram o exemplo mais claro de como a tristeza pode ser mortal; É como um casal de velhinhos, em que basta um falecer para o outro ir logo em seguida, mesmo com a saúde íntegra. Ou animais que morrem meses (ou semanas) depois que seu dono morreu. Morrer de tristeza me parece ser algo muito cruel, mas não me admira pensar que antes dessa "morte" acontecer, o estado de depressão se abata com tanta intensidade que não tenha mais volta. É o caso da angústia que já comentei aqui em outro post, que é quando você simplesmente não sabe o que fazer. Para mim a depressão é o estado posterior a angústia, que é quando você desiste de fazer qualquer coisa. É a entrega de sua alma para ciclos e mais ciclos de sofrimento sem fim.

Vou colocar um vídeo que fala sobre o transtorno bipolar, mas possui uma ideia geral de como nós somos aquilo que não somos...










Depressão Suicida

Não importa o valor que você dá para sua vida. Certamente existem pessoas que dão mais do que você, e outras que dão menos valor que você. Alguém poderia lhe dizer: "Ah, se fosse eu, teria feito dessa forma". E com alguma dose de coragem ou bebedeira ocasional, seu ponto de vista sobre as atitudes tomadas por outrém também poderiam ser julgadas de modo diferente aqui ou ali. Em muitos casos, nós somos rápidos em considerar o certo e o errado com base no consenso geral de nossa sociedade, e qualquer coisa que fuja disso leva críticas.

Por exemplo, se você vivesse na Europa medieval, poderia muito bem estar ali em alguma praça aplaudindo a queima viva de pessoas durante a inquisição. Poderia estar sorrindo ao ver leões matando um pobre gladiador nos coliseus antigos. Se nascesse no iraque em convivência da guerra, poderia muito bem nesse momento estar com o corpo cheio de bombas planejando a explosão de uma escola próxima acreditando que isso será a salvação. Todos os seus valores e conceitos vem de sua época e cultura atual, fortemente influenciados por quem te criou, que novamente são influenciados por aquilo que todos ao redor dizem ser certo ou errado, mesmo que no futuro isso soe como uma idiotice.


Charles Charplin era uma pessoa melancólica, e ainda passava sua vida fazendo os outros rirem. Nesse filme recente (ou nem tão recente) do Celton Melo (O Palhaço), existe uma das poucas partes do filme que levei em consideração, que vem dessa frase: "Eu faço os outros rirem? Mas quem me faz rir?". E a resposta do pai dele é completamente impecável diante disso: "O gato bebe leite, o rato come queijo e sou palhaço". Ou seja, cada um é aquilo que é, e viver se preocupando com isso é bobagem. Mas se você não conseguir perceber isso e achar que alguém precisa fazer você rir, então temos o primeiro passo para encontrar mais tristeza do que alegria. Infelizmente, já sabemos que a depressão é a soma de tantas e tantas tristezas.

Tudo isso para defender apenas um ponto: Quem pode ser capaz de julgar a decisão de um ato de suicídio? Você é capaz de dizer que Hittler foi menos errado por ter se suicidado no fim da vida? Você é capaz de dizer que Santos Dummont foi menos decente por ter cometido um suicídio ao "supostamente" ver que suas criações foram usadas para o mal? Ser a favor ou contra o suicídio é uma coisa, mas dizer quem é certo ou errado por pensar diferente de você é outra. Não há porque confrontar esse tipo de ideologia, visto que ninguém é capaz de compreender tão bem a vida quanto a si próprios.

Conclusão

Como material para leitura, aconselho o desse site aqui:
http://www.psicosite.com.br/tra/hum/depressao.htm

Não adianta dizer para alguém que sofre de depressão que ela não deve ficar assim, ou doar livros de auto-ajuda acreditando que a corrente motivacional é um remédio mágico para se curar a depressão.

Parafraseando uma frase que tem naquele filme Cidade dos Anjos: "O Tempo é a cura para tudo. Mas e se o tempo for a doença?". É sempre o tempo; ele cria coisas, cria ilusões e mostra desilusões. É o poder completo da metamagia: Com ele você criará, controlará e entenderá tudo.

E em agradecimento ao Doctrine Dark, que me mostrou um dos desenhos mais perturbadores  que já vi. Tem alguns episódios desse Salad Fingers que mostram não só um tipo de depressão, como também outro problemas inquietantes.




Quando a depressão é divulgada nos noticiários é uma coisa. Quando ela parece tocar a campainha de seu mundo, as coisas mudam de figura. Mas pior do que ver pessoas próximas sobre esse aspecto macabro, é quando você mesmo não sabe a força que tem para lidar com a crueldade de uma vida sombria. Mas não há porque deixar o mal se abater. Nessas horas confrontá-lo não é mais uma opção.

8 tipos de relações →  Minhas divagações sobre 8 formar de se amar.
De onde vem a angústia? → O estado caótico que precede a depressão.
Contradição do Amor [1] Curto e grosso: Ou você ama, ou você mata.
Choro Límbico → Um post pessoal, nem tão melancólico quanto o título.

Esse post é um daqueles da série "textos antigos" que sempre relutei em publicar. Ou seja, ainda haverá uma sequência de posts piores (como se possível) por vir.