quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A Guerra dos 2000 anos


Tem muita coisa no mundo que é difícil de entender, mas acho que os conflitos que acontecem lá no meio árabe chegam a ser impossíveis de uma compreensão. E digo isso não simplesmente baseando no fato pessoal de que sei pouco do assunto, mas sim por ter visto muita gente especialista no assunto que facilmente se confronta em discussões acirradas. E para iniciar, vale começar com um debate do programa Roda Viva que entrevistaram Benny Morris, onde várias perguntas e esclarecimentos foram feitos. Mas, se você assim como eu não entendeu muito do que foi dito, então vou tentar explicar de outro modo mais didático.


Política, Religião ou Estupidez?


Basicamente todos esses atributos se juntam de forma impressionante nesse assunto. Se quiser entender um pouco sobre a visão histórica de como a política surgiu no nosso planeta, vale assistir esse vídeo. Só para resumir, é importante lembrar que os antigos reis e governantes sempre que podiam usavam da crença do povo para exercer seu poder. Se o povo acredita que um rio é importante, então o bom rei é aquele que protege esse rio, e o mal rei é aquele que o destrói. Mas o rei poderoso é aquele que o povo acredita que faz esse rio fluir.

Há mais de dois mil anos atrás, quando toda essa bagunça estava apenas começando, aconteceram alguns fatores importantes que repercutem até os dias de hoje. O primeiro fator é a unificação de muitas tribos que haviam naquelas regiões em grandes impérios. É inegável o fato de que Roma, por exemplo, cresceu acoplando vários povos em si, e por isso ao mesmo tempo em que se tornava gigantesca, também se tornava um berço de ideologias diferentes entre grupos na própria região.

Ou seja, viver na Roma não era nenhum pouco parecido com viver no paraíso. Tem uma excelente série de vídeos no youtube que aborda praticamente todos os pontos da Roma Antiga, com mais de 4 horas divididos em temas. Clica aqui e assiste lá um pouco por dia que vale a pena.

Cristão, Judeu ou Muçulmano?

Nessa época já havia o cristianismo. E já havia o conceito da Terra Santa que perdura até os dias de hoje. Só para ficar claro e simples, vamos dividir toda aquela região árabe em três religiões predominantes, que resumem ao Cristianismo, Islamismo e Judaísmo. Todas elas se baseiam em interpretações diferentes que ramificam do mesmo Deus. Há uma discussão entre teológicos nos dias de hoje se Alah e Jeová são ou não o mesmo Deus. Tem islâmico que defende que sim e que não, sem entrar em consenso comum, assim como cristãos, que podem interpretar que Deus é único para o mundo todo e que por tanto, Alah é o mesmo Deus mas os islâmicos não sabem disso. E aí, esse jogo de interpretações e a discussão polêmica gera apenas a divisão ainda mais clara entre essas religiões.

Para resumir a confusão toda: Jerusalém, que é chamada de Terra Santa, gera tanta briga porque esse conflito ideológico coloca os três pontos de vista em um mesmo lugar: Os cristãos vêm a área como sagrada porque foi lá onde Jesus foi crucificado, na igreja do Santo Sepulcro. Para os judeus, a cidade de Jerusalém é importante devido ao Templo de Salomão, onde foi guardado a Arca da Aliança, que após ser destruído, reconstruído e novamente destruído, hoje sobrou apenas o Muro das Lamentações. E por fim, os muçulmanos tem apreço por Jerusalém devido a mesquita de Al-Aqsa que é onde Maomé subiu aos céus.

Se você der uma olhadinha com calma no mapa daquela região, vai ver que as três religiões competem a mesma cidade em diferenças pequenas de distância, mas diferenças gigantescas de ideologias. Atualmente os cristãos não brigam mais pelo Santo Sepulcro (na verdade até tem uma bancada católica lá, mas sua influência é pequena) e isso é bom porque tira um pouco de todo o combustível que queima naquela região.

Só que toda essa confusão não é apenas ideológica, como também política. E agora que você já ficou claro das diferenças simplificadas de cada religião, acho que dá pra voltar um pouco mais na história para entendermos a raiz de todo o mal. E olha que vou tentar simplificar bastante, porque essa história é mais complexa do que parece.

Para ajudar a contextualizar um pouquinho mais sobre a Terra Santa que já citei, acho que vale um vídeo rápido da History Channel para abrir um pouco mais o assunto:



Qual foi a primeira religião?


Eu não vou ser polêmico, prometo. É claro que falar de religião já é naturalmente polêmico, e por tanto, vou evitar expor minha opinião sobre o assunto tratando apenas das referências históricas e teológicas que temos para pautar esse assunto. Mas, caso você queira polêmica, então assista a trilogia dos filmes Zeitgeist lançada em 2007 e diga a sua separação entre ficção e realidade daquilo que ver.

De qualquer modo, como as três religiões tem seus princípios em Abraão, então é difícil determinar qual a primeira, ou quem influenciou quem. Um dia, com fé eu faço um post para explicar a origem e história das religiões. Em resumo, daria para dizer - com certa cautela - que primeiro foram os judeus, que criaram uma vertente para o cristianismo  e só depois do século VII que o islão ganhou força. Em um escopo da UFRGS nesse link dá pra ter uma ideia geral disso e uma outra visão específica das religiões abraâmicas pode ser vista aqui.

Com esse ponto de partida da antiguidade, podemos ir lendo textos, artigos e estudos que nos levam a conclusão de que Roma sempre fez uma certa perseguição religiosa aos Judeus (já que na época o cristianismo era irrelevante e a ideia do islamismo era nula). E é fácil entender o desgosto de Roma com os Judeus, uma vez que Roma era politeísta e a ideia do monoteísmo era mal vista naquele cenário todo. E esse cenário todo precisa ser demonstrado com imagens, porque se não fica ainda mais difícil acompanhar qualquer tipo de raciocínio.

Então, vou por aqui uma imagem coloridinha das chamadas 12 tribos de Israel, como é estudado nas faculdades de teologia hoje em dia. Esse mapa mostra essa região árabe, e para fins de referência, onde há Manassés e Efraim, ali naquele miolo está Jerusalém. Dá para confrontar um pouco essa versão do mapa, com outras dezenas pelo Google, onde cada historiador vai fazer sua divisão aproximada do que seria a realidade da época. E convenhamos que é impossível ter uma validade total disso, porque as fronteiras entre as tribos não eram tão claras e delimitadas como vemos nos contornos cartográficos de um mapa.

E o importante aqui é apenas entender que isso, seja lá o que isso for, era Israel. E hoje em dia não mudou muita coisa, já que temos Egito de um lado, Jordânia de um outro Síria mais acima e as 12 tribos agora formam o estado de Israel. Mas imagine essas tribos numa época em que a divisão dos territórios não era tão didática quanto é hoje.

Vou colocar aqui na sequência um outro mapa, que é da expansão do Império Romano naquela época, e talvez com isso as coisas comecem a ficar um pouquinho mais claras.


Roma foi crescendo em volta do Mar Mediterrâneo, com sua influência política, tecnologias, cultura e etc. Na medida de seu crescimento, é natural que muitas civilizações próximas acabaram sendo incorporadas, ou caso lutassem, sucumbindo ao poder gigantesco dos exércitos romanos. Israel não tinha condições de vencer Roma, e acabou ficando ali, no gosto maltratado pelo desgosto.

Não tem como afirmar que isso foi o estopim de tudo, mas dá para afirmar que muitos fatores negativos começaram a tornar aquela região problemática. Para resumir a confusão, podemos citar que Roma resolve cobrar impostos de Israel, e depois, lá pelos anos 70 d.C. já havia os judeus de Israel que esperavam pela vinda do messias, depois o cristianismo acabou ganhando um pouco mais de influência, e por volta dessa época foi escrito o evangelho de João, que culpava a morte de Jesus pelos Judeus, de modo um pouco mais indireto. Pronto. Altas confusões nas eras antigas.

Os conflitos foram realmente causados por multi-fatores. A época das Cruzadas trouxe mais sangue e revolta, e o crescimento da Igreja Católica e a influência política deram mais lenha na fogueira da confusão. Por isso é tão complicado entender tudo aquilo. Nesse meio tempo Roma caiu, o Império Bizantino cresceu, depois acabou com a Queda da Constantinopla, e enquanto isso, Pedro Álvares Cabral ainda era um bebê que brincava na praia sem saber que com seus trinta e poucos anos descobriria o Brasil.

Por aqui tudo é paz e alegria, se comparar com esse jogo interminável de erros que ocorreu ano após ano, e século após século lá pelos meios árabes. Em citei o Brasil, só para situar que por volta de 1500 havia muita recriminação dos Judeus pelos Cristãos. E isso em toda Europa, já que com tanta perseguição, eles acabaram tendo que se espalhar e se refugiar pelo mundo como podiam.

Vou deixar um vídeo muito bom do Pirulla dando uma visão geral de todas essas entrelinhas complicadas que por si só já tornariam esse texto ainda mais gigantesco.




Resumindo o Irresumível 


O ser humano já foi nômade, já viveu em tribos, e já demonstrou em vestígios históricos que sua estupidez e gênio violento são a raiz mais primitiva de seus corações. Parece poético, mas é triste quando você olha para o passado e vê os vestígios de coisas terríveis que aconteceram incessantemente até os dias de hoje.

Como Richard Dawkins descreve em seu livro "O Gene Egoísta", há muitas evidência de que tanto nós como qualquer outro animal da terra sempre priva pela sua sobrevivência em primeiro lugar. E essa sobrevivência inclui a prioridade por alimento, um território onde possa armazenar esses recursos e o fortalecimento de quem pensa igual a você. Não é um acaso que todos as civilizações antigas tenham formado suas cidades em torno de mares ou rios como fonte de água e comida fácil. Viver é o lema de todo mundo.

E viver significou impor o poder político a custo de muito sangue derramado. Antes de todos os séculos que seguem no período medieval, é importante falar um pouquinho sobre a Era Feudal. Pois nesse período, as terras eram o que mais importava para as pessoas. Daí, imagine o que acontece quando o preconceito faz com que os judeus percam o direito às terras? Nessa onda de azar, não houve muita alternativa para os judeus se não procurarem trabalhos alternativos que na época não valiam nada devido ao sistema feudal. Depois na idade média isso se reverteu um pouco, então o vai e vem da esperança x poder nunca morre.

No cenário atual, tudo isso reflete em números bem compreensíveis. O Cristianismo, por ter influenciado a Europa e as grandes navegações, representa hoje quase 1/4 da população mundial. Em números:

  • O Cristianismo conta com 2,3 bilhões de cristãos.
  • O Islamismo conta com 1,5 bilhão de muçulmanos.
  • O Judaísmo conta com 13,4 milhões de judeus. 

É muita gente nessa história toda. E muita gente dividida por ideologias diferentes dizendo que sua religião é a certa e a outra é a errada. Mas é lógico que todas as brigas que acontecem lá no oriente médio não apenas apenas pelo viés religioso. Sobre todo esse pano de fundo que já iniciei aqui, já teríamos um dos maiores problemas da humanidade. Só que a estupidez humana parece não ter limite, e isso nos leva aos últimos 100 anos, que provam o como uma situação complicada pode sempre piorar ainda mais.

O Último Século


Do meu ponto de vista leigo sobre a antropologia, eu me atrevo a dizer que a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), aconteceu por causa de birrinha de egos. Quase a mesma coisa que acontecia nos milênios anteriores, mas só que sem a desculpa de que naquela época éramos menos civilizados do que nos dias de hoje.

Daí que a Alemanha perdeu a Primeira Guerra, e anos mais tarde era justamente a Alemanha que iria desencadear a Segunda Guerra. E aí, você pode parar esse texto por alguns instantes e pensar "mas no que isso tem haver com toda a história da palestina?". Pois é, a gente tem que lembrar que o partido nazista de Hittler fazia uma perseguição aos judeus. Só que essa perseguição não é um simples jogo de sorte e azar de uma religião e outra.

Os judeus haviam crescido um pouco mais em influência pelo mundo nessa época, e isso fez com que eles despertassem ódio em muita gente, por simples motivo religioso. Surgiam então os anti-semitas, que alimentavam ainda mais esse ódio de mais de 2000 anos atrás. Quando a Segunda Guerra aconteceu, Hittler usou essa perseguição aos judeus como desculpa para expandir os territórios da Alemanha e ter a dominação mundial. Coisa de vilão clichê, eu sei. Mas o interessante nessa história é que o fim da guerra não foi o fim do ódio.

Tanto que o surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU), teve como primeira pauta na tentativa de trazer a paz para o mundo ver o que iria ser feito com todo esse ódio. "Como resolver o ódio que ainda existe?", perguntaram alguns caras tentando encontrar uma resposta à essa questão complicada. E a resposta para isso foi basicamente desenhar no mapa uma área onde apenas os judeus ficariam, uma outra para os muçulmanos (que já vivam na região) e o ponto de maior confronto, que era Jerusalém não pertenceria a nenhum dos povos.


Essa divisão não deu certo, porque a raiva sempre é maior do que a razão. Apesar de que cada um tinha lá suas razões, então é difícil dizer quem é o certo ou errado ali, mas é fácil de entender que deixar os dois povos no mesmo lugar não tinha como dar certo. Dê uma olhada no mapa e tente entender onde fica a Palestina, e onde fica Israel. É tudo junto e misturado, cada povo com ideologias diferentes que lutam para estarem no mesmo lugar. Só por aí dá pra entender que essa guerra não tem como acabar até que um dos lados acabe totalmente com o outro.

Os últimos dias


E com o passar dos anos, começaram a surgir grupos terroristas, e essa parte da história todos nós já conhecemos. O que eu acho importante comentar, é a questão de como o estado de Israel tem se fortalecido militarmente, e com todo o apoio dos Estados Unidos, ele apenas consegue ser a grande potência naquele meio árabe. Com isso os palestinos precisam se refugiar para não morrer, e a faixa de Gaza (principal lugar dos refugiados) se torna o inferno na terra.

Vou deixar, por fim, um link para elucidar essa ideia geral resumindo as 10 principais perguntas feitas sobre todo esse conflito sem fim. Acho que vale a pena você clicar aqui. E confesso, que pensar sobre tudo isso me deu um grande desgaste e tristeza, porque eu vejo como o ser humano consegue partilhar de sua estupidez ao invés do bem comum.


Antes, entrava-se na briga apenas duas ou três civilizações porque isso era tudo o que o conhecimento humano se resumia na época. Hoje em dia pode se englobar tudo porque o conhecimento humano se resume a conhecer todos os cantos do planeta. E essas ameaças de uma terceira guerra mundial já aconteceram em vários momentos incluindo os últimos anos. Ou seja, a ilusão da paz é só o deleite dos insônios. Só que o assunto aqui eu acho que já não cabe mais nesse post. Na real, nada mais cabe nesse post.


Esse é um assunto que nunca ficará ultrapassado. Simplesmente porque a história não muda, e a guerra também não acaba.

Entre Raiva e Tristeza → Um dos posts anteriores sobre comportamento
Paradigma das Guerras → Um dos péssimos posts sobre guerras
Mundo Virulento → O apocalipse pode vir por vírus
A tríade proibida → Mais sobre religião, política e futebol