quinta-feira, 14 de julho de 2022

Término em Tabula Rasa :: Parte 1/1 (Hoje)


Disclaimer

De repente, eu me vi com crises de ansiedade, problemas de memória e uma tristeza tão forte que drenava a motivação para me tirar da cama ou trabalhar. Com ataques destrutivos de meus próprios pensamentos intrusivos, também era sufocado com aquela dor da angústia comprimindo todo o ar de meus pulmões.

O motivo de tudo isso é mais clichê que a epopeia de Gilgamesh: Término de um relacionamento que atravessou a última década, com seus pontos altos e baixos que caminharam até esse texto que você lê.

E esse post será o ponto inicial,  onde atualizarei, conforme minha sanidade permitir, os títulos dessas postagens para comportar essa nova saga inteira, com início meio e fim.

E finalmente antes que eu possa detalhar em futuros posts como foi essa saga, e o andamento de minha mais nova desilusão desse velho repositório, acho que vale a pena deixar alguns pontos claros: Trocarei os nomes de todos os envolvidos por nomes fictícios por motivos óbvios. Também trocarei alguns pontos estratégicos da narrativa por metáforas ou pequenos contos para melhor preservação de minha pobre alma.

Tabula Rasa

Eu só recebi um diagnóstico "mais oficial" de que tinha fobia social por volta de meus 24 anos, e com ajuda de terapia, medicamento e boa dose força de vontade eu consegui fazer algo que julguei impossível até então, que era me relacionar afetivamente com alguém. Essa pessoa não só me completava como também era perfeita em todos os aspectos que eu podia imaginar. Eu senti pela primeira vez que era amado e jurei para mim mesmo que caso o amor dependesse apenas de mim, duraria para sempre. Lendo essa última frase, você sendo mais inteligente do que eu, sabe que esse raciocínio foi o que levou a maior desilusão da minha vida.

Então, preciso começar a contar essa história assumindo que tudo o que você sabe de mim é que tenho algum tipo de transtorno de personalidade que me faz ser tão introvertido ao ponto de não conseguir me relacionar bem com as pessoas. Tenho alguns amigos, tenho um trabalho e até saio de casa para resolver alguma coisa, mas no geral, a minha introversão é limitante no aspecto afetivo. Ter conseguido namorar e casar é uma saga tão especial pra mim quanto às referentes à Dança de Salão que já contei aqui no blog uma vez.

Uma vez dentro do arcabouço formalizado pelo casamento, você se torna convicto de que encontrou uma pessoa que será testemunha de sua vida e você da vida dela; acompanhando uma trajetória de bons e maus momentos com uma data de término desencadeada pela morte de um dos conjugues. O engraçado é que essa morte a ser orquestrada pela natureza da vida humana também coloca esse fato em um futuro tão distante que sua mente não é capaz de processar. O problema é quando o futuro é trazido aos dias atuais, criando um cenário em que sua mente não era capaz de prever e se preparar com antecedência. E não estou afirmando em nenhum momento que a morte precisa ser literal com a vida sendo ceifada pelo rompimento da existência de alguém, pois também existe o tipo de morte causado pelo rompimento da motivação que mantinha um casal unido e a comunhão do casamento efetivada.

O que tem haver falar de fobia social, fim de um casamento e a Tabula Rasa que enuncia essa postagem? A resposta curta e objetiva pode ser resumida em uma palavra: "consequência". E a resposta mais detalhada e explicativa vou contar agora nas quatro consequências que seguem:

1ª Consequência: Introversão como Resposta

Se a dificuldade para interagir com outras pessoas é um tipo de mecanismo de defesa que é ativado de forma inconsciente por mim para me proteger de qualquer dano emocional que uma pessoa qualquer possa me causar, então é de se esperar que eu tenha uma vida inteira em solidão porque esse mecanismo vai sempre estar à frente de minhas ações para me impedir de se relacionar com qualquer pessoa em um nível que ultrapasse o superficial desarranjo que já comentei em outro post sobre as amizades.

2ª Consequência: Romper de sua própria prisão

Quando aquele mecanismo de defesa começa a te impedir de ter uma vida normal e te fazer sentir a vida ser mais pesada do que realmente deveria, é quando alguma parte de sua consciência cansa de ser esmagada pela natureza e tenta ganhar espaço. Ela faz isso da forma que consegue para reduzir pelo menos um pouco da solidão, introversão e insociabilidade. E assim, numa reviravolta [quase] inexplicável, onde toda a dose de força de vontade que eu tinha e motivação me fizeram romper a barreira de minha própria essência para fugir daquela prisão que minha mente tinha feito para mim.

No começo, com ajuda de amigos, terapia, remédios, motivação, força de vontade e um pouquinho de sorte, comecei a descobrir como funcionava os relacionamentos afetivos. Me permiti a entender como funcionava a paixão e deixar o amor surgir naturalmente para quem assim eu sentia a confiança mútua de que o sentido de uma vida plena estava dentro daquele recanto de felicidade. Estar feliz era sinônimo do puro rompimento de minha prisão, e por isso, me deixei levar até onde tudo aquilo pudesse seguir.

3ª Consequência: Zona de Conforto 

Se você está feliz, sente-se bem sucedido na vida em todos os aspectos, então naturalmente pode se dizer que aquilo é uma zona de conforto verdadeira. E sendo assim, a motivação que te fez abandonar uma vida desconfortável para te levar até ali obviamente não vai querer te fazer sair de lá. É assim que as pessoas entram em zonas de conforto. Mas muitas delas estão insatisfeitas e não querem mudar, e pra mim isso é um tipo de Zona de Conforto perigosa. Mas e quando é o contrário, e você está satisfeito, porque então iria querer sair da zona onde chegou? 

A resposta é simples: Você não quer, e tudo bem se esse "não querer" depende apenas de você. O problema é que todo esse texto que lê não diz respeito apenas à minha pessoa, pois eu estava envolvido em um relacionamento com minha esposa, e naturalmente não existe uma zona de conforto tão grande que seja abrangente demais para comportar duas pessoas com histórias e vidas diferentes numa mesma dança sem que haja pausas para descanso. De certa forma, o simples desarranjo de uma melodia em que um deseja tocar um ritmo diferente do outro significa que aquela música já não existe mais. Agora são duas músicas diferentes, e entender isso significa ter a sabedoria para saber quando melhor do que uma pausa, é parar por completo.

4ª Consequência: Tabula Rasa

Quando a música parou de tocar, eu me dei conta que ter saído daquela zona de conforto significava voltar automaticamente ao estágio inicial de minha vida, onde ainda não havia nada escrito. Só que agora havia, pois eu estava voltando para trás com uma bagagem de história e experiência que me fizeram ser uma pessoa diferente.

Mas ao mesmo tempo, voltar para onde não havia nada escrito, que é justamente o que significa "Tabula Rasa", também significa que agora existe um novo caminho para ser percorrido com muito mais sabedoria do que houve antes. E com isso, voltar a escrever em um velho blog de desilusões sobre tudo o que ainda não foi escrito mas que ao mesmo tempo já foi, me parece estrategicamente um bom novo ponto de partida para outra saga aqui no blog com bons frutos para novas desilusões desse repositório de todas minhas desilusões 

5ª Consequência: Somar e Dividir

Juntando os pontos anteriores, acho que é possível resumir essa história em uma pessoa com um transtorno de personalidade que conheceu outra pessoa (que mais tarde também entendeu que possuía outro transtorno de personalidade). Daí, é como você fazer um bolo colocando os dois principais ingredientes estragados; o amor é sufocado conforme o forno é aquecido. Mas todo forno é aquecido aos poucos, e o nome disso num relacionamento que vai mal se chama desgaste. Chega um momento em que você já sabe que o final é óbvio; ou as coisas mudam, ou as coisas mudam.

Tentamos terapias de casal, estratégias de convivência e muitas outras conversas procurando por uma solução que na verdade não existia mais. Chegou um momento em que separar se torno a única alternativa, e tudo bem ser assim. Lutamos para somar, e desatinamos a dividir.

 

Cronologia 

Para além desse repositório, eu tenho um diário pessoal também, e por isso, postagens mais recentes podem eventualmente serem publicadas com datas retroativas para melhor consistência cronológica dos fatos, e não de data de postagem. O que seguirá na ordem das postagens será o número de partes que eu necessitar escrever, que seguirá sempre atualizada para compor a melhor forma de compreensão dos fatos.

Atualmente, toda essa história se resume nessa única parte.