sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Corrida dos Ratos [1] - Entrando

Não que seja uma espécie de tradição eu aparecer com um post relacionado a economia logo no começo do ano, mas é que geralmente janeiro é uma espécie de ressaca do natal. É aquela dor de cabeça e desânimo gritantes pelo tanto de gasto que foi feito e que ainda terá que fazer. É quando toda a ligação familiar que havia nas festas natalinas parece desaparecer e você fica sozinho no mundo. E o tecido da realidade quase se rompendo de vez quando à volta das férias, e seu salário reduzido chegam no fim do mês. Pois é, falar sobre economia no início do ano é apenas fazer justiça com o propósito desse blog, ou seja, a desilusão mais permanente de todas, que é o dinheiro.

Entrando na Corrida dos Ratos

A primeira vez que escutei sobre a Corrida dos Ratos foi através do nerdcast sobre Mercado Financeiro. Essa bela metáfora vem um livro bem conhecido nesse setor de economia e investimentos, chamado Pai Rico, Pai Pobre. Em resumo, reza a lenda que todo mortal já nasce destinado a entrar nessa corrida dos ratos, e o processo básico disso funciona mais ou menos assim:

Ainda quando criança você entra na escola, e nos anos e anos que se seguem, a escola jamais lhe ensina a tratar do seu dinheiro. Você aprende teoremas de pitágoras, descobre como faz contas com X e consegue achar hipotenusas e catetos. Mas, jamais aprende a lidar com dinheiro; sai da escola por volta dos 17 anos sem uma única aula sobre impostos, termos bancários e contratos. Claro, claro... você aprende a fazer contas com Juros e Juros Compostos, mas... dúvido que nessa época isso tenha algum sentido para você.

Depois que atinge a maioridade, a grande distinção do mundo adulto para o mundo adolescente está a partir do instante em que abre sua primeira conta no banco. Como a escola nunca lhe preparou para lidar o dinheiro, você é capaz de simplificar as coisas desse modo: "Tenho R$500,00 no banco, então posso gastar até R$500,00".

Não, você não pode. Essa conta e linha de raciocínio só te faz empurrar ainda mais para a corrida dos ratos. Pense que você é apenas uma pessoa querendo zelar pelo seu dinheiro, equanto instituições inteiras querem vê-lo sem nada. Para dar um empurrãozinho à sua desgraça, eles dão cheques, cartões de crédito, débido, estrépito, internet banking e etc. Todas as ferramentas que os bancos oferecem são apenas meios de tentação para que você tire todo e qualquer dinheiro que está lá. E se você não tira? Então as taxas obrigatórias vão apenas descontando seu dinheiro, e a necessidade o obrigará a colocar cada vez mais dinheiro no banco na mesma proporção que o tira, mas com uma dificuldade maior para controlá-lo diante da torrente de itens que o cercam.

Mas essa história da Corrida dos Ratos não termina aí. Não é apenas as instituições financeiras que querem seu dinheiro; todo o comércio ao redor, as datas comemorativas, as novidades tecnológicas, moda, enfim... tudo quer seu dinheiro, e muitos conseguirão. Ao que consta, todos que de alguma forma se deixam levar por essas "manipulações de compra" estão fazendo apenas o normal e óbvio proposto pela comunidade capitalista. O problema acontece quando seu dinheiro não é suficiente para que você acompanhe todas as "necessidades" mostradas para você. A partir desse momento, quando você olha para seu bolso e percebe que não tem dinheiro para ter isso ou aquilo, então o dinheiro ganha mais valor e todos aqueles que eram pobres ficam mais pobres ao mesmo tempo que todos os que são ricos ficam mais ricos.

"Os mecanismos complexos do mundo moderno dependem da fé no dinheiro como as estruturas do mundo medieval dependiam da fé em Deus." - Lewis H. Lapham

Porque gastar é mais fácil?

Empréstimos. Essa é a palavra chave para explicar todo o universo da economia de um modo eficaz e real. O banco, que é a instituição mais próxima de você, quer emprestar dinheiro. Na verdade, o lojista, fazendo um complô com esses mesmos bancos, também encontraram meios para lhe emprestar dinheiro. Cartões de crédito, cheque especial, parcelamentos e outros meios para fazer você pagar agora algo com o dinheiro que ainda não possuí. Isso, por mais que não pareça, é um tipo de empréstimo.

Graças a uma dívida pendente, o banco sabe que pode contar com você para receber mais dinheiro no futuro, já que ele te empresta e cobra juros. Mas o banco também não tem o dinheiro que está te emprestando, porque ele também faz empréstimos ao banco central. Enfim, a corda é bem longa, e começa a dar tantos nós que em teoria não existe ninguém no topo. Todo mundo deve para todo mundo, e cada um se preocupa só com o próprio umbigo, que é o mais importante para apenas duas entidades no mundo: àquelas que devem à você, e àquela pela qual você está devendo.

Tudo funciona com dívidas e mais dívidas. E é graças a essas dívidas que a corrida dos ratos parece ser interminável. O concenso majoritário dita que as pessoas devem estudar, arrumar um bom emprego e ganhar muito dinheiro. Quando estão ganhando um pouco de dinheiro, então lá vem novamente o mesmo consenso dizendo que precisa estudar ainda mais, e com isso obter alguma promoção no seu emprego e assim conseguir mais dinheiro. O fluxo normal da vida está condicionado nisso, está condicionado em casar para duplicar a renda, para comprar casas/terrenos e viver do aluguel das mesmas. Ou talvez criar seu próprio empreendimento comercial e sair vendendo em uma loja da esquina aquilo que faz de melhor. Se as coisas não derem certo, você irá dizer para seus filhos: "crianças, vocês devem estudar ainda mais, e com isso conseguirem empregos melhores. Devem ter uma boa aposentadoria e usufruirem da felicidade dessa forma".

Isso é a corrida dos ratos. É o pensamento comum em que todos estão unificados, e que sem ele, o capitalismo certamente falharia. Mas, em teoria ninguém é obrigado a viver nessa corrida para o resto da vida, embora a melhor forma de escapar dela seja antes de iniciar a vida adulta. Ou melhor, antes de iniciar a primeira compra parcelada, ou a primeira dívida em um cartão.

E aqui, todo esse texto parece ser escrito por alguém que está no topo da cadeia, que fugiu da corrida e se julga no direito de dar algum conselho ou bancar o conhecedor do assunto. Não, nada disso. Todo esse texto foi escrito por uma criatura complemente desiludida que até poucos meses atrás não via o menor problema em trabalhar de graça para os outros. Esse sou eu. Só não me afundo em dívidas porque não tenho motivações de compra suficientes para fazê-las. Er... espera um pouco, agora vou ter que finalizar esse post porque ouvi dizer que tem uma promoção para o novo Iphone 4S... Brincadeira. Só vou comprar ele depois que comprar meu Playstation 3. O novo monitor de OLED fica para o mês que vem...




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