sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Desilusões do Tempo

Faz tempo que eu não posto aqui.

E nada melhor do que voltar com um post falando justamente sobre o tempo. Preciso entender de uma vez por todas porque é que o tempo parece ter perdido o controle para tanta gente. Eu principalmente sou um daqueles que vivo no passado, pois sempre que planejo fazer qualquer coisa, já passou. Quando penso em fazer qualquer coisa, já acabou.

Talvez exista uma forma de não ser escravo dele, ou talvez só exista uma forma de encontrar a liberdade caso ele não tenha te escravizado ainda. Esse é um mundo que parte das pessoas encontrou no ócio uma forma de fugir das garras sádicas do tempo, ao passo que outra parte vê o mundo em ócio, sem tempo para nada além de uma vida sem liberdade.

Junte as forças, alie-se a resistência ou... simplesmente Carpem Diem.


Tem uma frase que praticamente se incluiu no conjunto dos diálogos padrão de quando não se tem assunto. Tudo começa com uma pessoa que dirá:

"Nossa, como o tempo está passando rápido, né?"

E você não tem nenhuma outra alternativa se não dar a resposta padrão: "É verdade, daqui a pouco já é fim do ano outra vez".

Os planos, as idéias e porque não a própria vida muitas vezes são prejudicados com o tempo. Mas, dizem as más línguas que alguns aliens sábios descobriram uma forma de nos condensar nessa loucura atemporal. Será?


"É nóiz na Fita" quase que literalmente

O que ainda não me é claro, é o porque ele tem que passar tão rápido. Isso me revolta, isso me faz acreditar que poderíamos ter melhor aproveitado tal parte dele aqui ou acolá. Isso me deixa aflito para que algum cientísta maluco invente uma máquina do tempo o quanto antes para que as coisas possam ir mais devagar.

Como a perpeção do tempo é diferente para cada um, naturalmente esse não é um problema universal. Talvez nem seja um problema. Mas para alguns, assim como eu, é.

É como se tudo estivesse dentro de um filme gigante com você atuando em algum papel que melhor lhe convém. E aí se torna chato só poder assistir tudo uma única vez. Ou pior do que isso, é pensar que algum desocupado entediado apertou o botão de Forward para avançar tudo rapidamente e não tem a menor intenção de apertar o play novamente.

Isso me faz querer apertar um botão de pause de vez em quando. E então eu me dou conta que o tempo não é como um filme, e sim como uma queda de um elevador. Nossa vida é uma queda livre do último andar, onde passamos por tantas janelas mas só conseguimos enxergar a paisagem mais distante. E aí, pelo fato de não sermos agraciados com a habilidade de queda suave vôo, tudo o que resta é reclamar de tudo o que não temos como aproveitar.

Urgente

É impossível falar do tempo sem falar de prazos. Nossas vidas se moldam dentro de prazos, seja no pagamento de contas, entrega de trabalhos ou comparecimento a algum evento governamental. Racionalmente, os prazos passaram a ser associados sempre com alguma coisa negativa. E mesmo que você tenha "um prazo" de quinze dias de férias, você chama esse período de "um tempo" de descanso.
Por definição o tempo se tornou algo bom, e como tudo o que é bom, ele foi ficando cada vez mais escasso. Sua escassez alimentou o stress e o stress alimenta a maioria dos problemas no mundo urbano civilizado.

Toda essa dissolução do tempo em um período curto me incomoda muito por dois motivos: O primeiro é que tudo hoje em dia parece envolver a urgência, já que o tempo é tão rápido que se nada for urgente, então nada pode ser feito no prazo. E aí, o temor pelo prazo normalmente vem fazendo com que esse mesmo urgente perca completamente seu valor, de modo que todas as coisas que precisem ser feitas antes de um prazo sejam chamadas de "urgentíssimo".

E cada dia que passa, não me é difícil escutar alguém dizendo que quer alguma coisa de modo "urgentíssimo". Eu escuto isso tantas vezes que meu cérebro nem processa mais qualquer derivação para essa palavra. Eu não sei o que é mais urgente numa sociedade que vive de urgências.

Sem noção

P: O que está passando rápido demais é o tempo ou sua noção do tempo?

Claro que você responderá que é apenas a noção do tempo, já que achamos que as coisas passaram rápido demais pelo simples fato de muitas vezes não nos damos conta de que agora já é tal dia ou tal hora. Não é comum você acordar de manhã, se distrair com alguma coisa e depois falar: "Nossa, já é hora do almoço e eu nem percebi". O que faz com essas quatro ou cinco horas que aparentemente "desapareçam" de seu tempo todos os dias?

Pois é, sua noção do tempo é cada vez mais prejudicada com a tonela de informação que lhe bombardeia o tempo todo, principalmente na internet. Seja algum jogo legal que lhe tomou horas, um seriado viciante que lhe tomou dias, uma problema pessoal que lhe tomou semanas ou simplesmente a rotina do trabalho que lhe toma anos. Você vive tomando. Você vive entregando seu tempo a tantas coisas que o pouco tempo que lhe resta para dedicar a si mesmo é aquele mesmo que usa para refletir: "Puxa, o tempo passou rápido demais".

Se o tempo passou rápido demais, considere-se feliz por ser um viajante do tempo, onde muita gente daria de tudo para conseguir a mesma façanha que a sua. Aposto como muitas crianças em estágio de metamorfose da carne para o osso seriam recompensadas de tanto sofrimento se pudessem viajar no tempo como você.

Mas é invalido generalizar, pois a noção do tempo é algo muito pessoal. Sentar na beira de uma praia e observar o mar dia após dia também mudaria a percepção do tempo, de modo a torná-lo mais lento e possívelmente mais inútil.
Numa situação parecida, sentar-se a beira da praia e ler um livro dividiria seu tempo em duas partes, de modo que ele passaria mais rapidamente, mas ainda seria chato porque talvez não tenha como ter tirado tanto proveito dele. Agora, para essa mesma situação, vamos agregar mais coisas:

Todos os dias, na mesma praia você se mantém sentado observando o mar, lendo um livro, fazendo castelos na areia enquanto procura por pedrinhas preciosas. O tempo ocioso diminui, ao passo que sua noção sobre o mesmo diminui.

Finalmente, no mundo moderno temos tantas coisas feitas para evitar o ócio que acaba tornando nossa percepção temporal prejudicada. Fazemos tantas coisas e deixamos de fazer tantas coisas que isso acaba deixar apenas uma conclusão óbvia a ser considerada: "Se eu não posso fazer tantas coisas, é sinal que meu tempo é curto. Se ele é curto, ele passa mais rápido".

Para finalizar, uma última pergunta: O que é o que é: Quanto mais lento ele fica, menos proveito dele se tira. E quando mais rápido caminha, menos dele se pode aproveitar?

"Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra." (Mário Lago)

Essa bélissima frase é linda de ouvir, mas não é tão fácil de aplicá-la na prática. Alguem poderia me dizer qual é o segredo para seguir um acordo com quem você não alcança?

Se você leu esse post e é um viajante do tempo, volte dois minutos para o passado e deixe um comentário. E se não for um viajante do tempo e estiver no presente, essa é sua chance de deixar uma mensagem que ficará gravada por muito tempo e, provavelmente lida por alguém no futuro, fazendo de você, nesse momento, um viajante do tempo. =)

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