quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Interesse Escalável

Esse post é a parte 1 de uma série de 3 partes, tentando desmistificar toda a desilusão necessária para se entender o algorítimo da amizade. E não obstante, essa primeira parte é sobre o lado interesseiro das amizades; na segunda parte proponho os 7 passos para tornar alguém desconhecido em um melhor amigo. E na última parte, é a vez de considerar como seria a lógica do amor e os romances que, muita gente diz que todo amor é construído com amizade, e muita gente insiste que não se pode confundir amor e amizade. Então, let's go para a parte 1.

Porque propus esse post?

Notei, em um sobressalto, que nunca fiz aquele post que tem em todo tipo de blog pessoal. Ou seja, um texto falando sobre desabafos amigos. E aí, olhando a própria sequência dos posts mais científicos como apocalípse viral ou insetos heróicos, eu compreendi que nunca falei sobre a amizade por de fato não compreendê-la. E antes que passe já passando a impressão de um ser anti-social, preciso esclarecer os motivos disso: em um dia você pode estar rodeado de amigos, e em outro, não ter mais nenhum. Porque eles se vão se você não se foi? Como pode a amizade ser passageira se, por definição, ela seria aquilo necessário para preencher o espaço de uma forte condição humana?

Então, minha discussão aqui é tentar refletir o porquê isso pode acontecer. Por que esse vai e vem de pessoas em um mundo que, inevitavelmente, somos todos atados ao fluxo de nascer e morrer, compadecendo da solidão que se encarregará de ocupar todas as lagunas que faltam quando deixamos de ter pessoas por perto?

O corpo do Interesse

Com um pouquinho de preguiça de pensar, resolvi pegar um pedaço de uma definição interessante dada por Aristóteles:

"Aqueles que têm Amizade desejam o bem do amigo de acordo com o motivo da sua amizade; desse modo, aqueles cujo motivo é a utilidade não têm Amizade realmente um pelo outro, mas apenas na medida em que recebem um bem do outro.

Aqueles cujo motivo é o prazer estão em caso semelhante: isto é, têm Amizade por pessoas de fácil graciosidade, não em virtude de seu caráter, mas porque elas lhes são agradáveis.

Assim, aqueles cujo motivo da Amizade é a utilidade amam seus amigos pelo que é bom para si mesmo; aqueles cujo motivo é o prazer o fazem pelo que é prazeroso a si mesmo; ou seja, não em função daquilo que a pessoa estimada é, mas na medida em que ela é útil ou agradável. Essas Amizades são, portanto circunstanciais: pois que o objetivo não é amado por ser a pessoa que é, mas pelo que fornece de vantagem ou prazer, conforme o caso. "

Ou seja, nesse planeta rodeado de pessoas, quantas serão aquelas que nos cercam em busca de nossa utilidade ou prazer? Se, para esses casos não poderia ser considerado a amizade, então o que seriam essas pessoas? Inimigas? Também não.... Ou seja, mesmo que alguém diga que o único interesse de sua amizade seja somente essa, ainda assim há um interesse. O interesse que move à todos, talvez. E, quanto mais egoísmo existir em alguém, mais interesseira ela será, e aí temos a carta de caos posta na mesa: a amizade verdadeira é tão questionável quanto a falsa amizade, uma vez que ambas são sustentadas com um interesse por trás de suas intenções. A única variável da questão, é somente esse: Qual o tipo de interesse?

1 - O Primeiro Interesse

Não obstante, talvez exista um egoísmo natural sendo exalado por cada um de nós, uma vez que a necessidade de sobreviver é sempre primordial. E a sobrevivência de si próprio vem em primeiro lugar do que a sobrevivência de outra pessoa, simplesmente porque esse é o maior e mais profundo interesse de qualquer indivíduo. Mas não sejamos tolos em afirmar que isso caracterizaria alguém como egoísta, porque podemos pensar o seguinte: "Eu preciso sobreviver para que possa ajudar outros, quando outros também precisarem sobreviver". Então até aqui, tudo perfeito. Nada de idéias suicidas, porque afinal de contas, mesmo a criatura que se sente a mais desprezível do mundo poderá encontrar motivação suficiente para se manter viva caso se predestine a reunir suas forças para ajudar outras pessoas.

Você mal nasce e já está chorando, clamando por ajuda de seus progenitores para que lhe protejam e ensinem a ficar de pé no mundo. Suas feições indefesas, olhos grandes e sorriso inocente ajudam a criar um laço com sua família, e tudo o que você faz, mesmo sem ter a menor consciência disso, é simplesmente sobreviver. "Bebê que não chora, não mama". E é isso. Viva primeiro, questione depois. Por isso, agora que você já está vivo, então podemos questionar qual seria o segundo maior interesse do ser humano.

2 - O Segundo Interesse

Se colocarmos um ponto de vista humilde nessa história e aceitarmos o fato de que não passamos de meros animais com a capacidade de pensar e fazer besteira, então fica fácil determinar o segundo interesse que temos após termos garantias de que vamos sobreviver: Socialização.

Ou seja, é aqui que começamos a poder colocar a parte interesseira das pessoas em foco, ao analisar todo o conjunto das amizades que se formam ao seu redor. Pegue um cachorro de rua e considere o quão fraco ele se torna quando está sozinho, vagando pelo desconhecido e sendo levado pelo destino. Mas  basta ele encontrar outros cães de rua para se tornar mais forte, pois é sempre em uma tribo ou clã que todos ganham mais força para manter o interesse primário da sobrevivência. Ou seja, é necessário socializar porque só assim que uma mão lavará a outra.

Para ficar claro, existe uma diferença gritante entre socializar e ter amigos. Você pode cumprir seu papel de socialização contando piadas e alegrando pessoas aleatórias em uma viagem de ônibus. Pode se vestir de palhaço e alegrar transeuntes na rua num dia ensolarado de domingo. Você pode juntar seus colegas de trabalho para um happy hour no fim da tarde, e ainda assim, continuar sendo alguém sem ninguém. Amigos estão num patamar acima da simples socialização, e é por isso que, por sorte, não podemos ser considerados egoístas só pelo fato de queremos algo das pessoas com que encontramos pela vida.

3 - O Terceiro Interesse

Finalmente chegou ao ponto que eu queria, que era voltar a reflexão lá do Aristóteles: O Terceiro Interesse, tão parecido quanto o primeiro, é pessoal. A partir do momento que você socializa e se entende como alguém no mundo, você será bombardeado por idéias e conceitos do que é certo e errado, e isso fará com que o terceiro interesse seja diferente para cada um. Só que eu quero simplificar as coisas, e por isso, vou denominar um interesse comum independente de quem seja: O Tempo.

Como assim? Que maluquice é essa? Eu não me interesso pelo tempo! Então lá vamos nós: responda-me qual seu maior interesse pessoal, e facilmente descobrirá que ele não é o mesmo que tinha à 10 anos atrás, e nem será o mesmo no futuro. Seu interesse atual pode ser conseguir um trabalho na área em que estuda na faculdade, por isso vai querer se cercar de amigos da mesma profissão. Seu interesse pode ser financeiro porque o desespero dos juros sobre seus cartões de créditos está lhe tirando o sono todas as noites. Talvez seja algum interesse por encontrar uma paixão dos contos de fadas e até mesmo planejar uma viagem difícil. Todos os interesses pessoais são baseados em uma necessidade do momento, que envolvem o tempo atual.

Tudo bem, você poderia dizer que seu terceiro interesse é imutável, pois tudo o que você quer nessa vida é ser feliz. Daí vamos entrar em uma outra discussão, que é o fato de que ninguém de fato quer ser feliz o tempo todo, como se fosse uma marionete com a expressão pintada em um rosto de madeira. Não. Você pode querer ser feliz a maior parte do tempo, mas não quer ser feliz quando uma desgraça abate sua vida, ou quando procura explodir a adrenalina de seu corpo em um parque de diversões só para sentir medo. E quem costa de filmes que dão medo ou de ouvir histórias sobrenaturais só pelo gostinho de se encher com uma emoção diferente? Inconscientemente, se pensamentos de tristeza o invadem sem sua conscientização, tudo indica que pelo menos para seu único cúmplice, não é a felicidade que você quer. Mas sim o tempo. Quer o tempo para si, para usá-lo de acordo com a exigência de cada situação.

Se ficar claro que o terceiro interesse do ser humano é ter esse domínio do tempo, então vamos descobrir qual é o instante em que deixamos de ter a inocência da vida moldada pelo interesse e nos tornamos egoístas mesquinhos: Você já parou para pensar que às vezes aquilo que você deseja ter agora não é o que outros desejam ter agora? Pois é, poderíamos ser considerados egoístas e interesseiros a partir do momento em que queremos algo de outra pessoa, mas essa pessoa não quer aquilo naquele momento. Caso solucionado. (E por favor, depois me diga o quão interesseiro você é, e o quanto sempre acreditou não ser).

4 - O quarto Interesse

Não há o quarto interesse. Tudo acaba quando buscamos alguma coisa pessoal, e usamos as pessoas ao nosso redor para obtê-las. Para salvar essa terrível máscara maquiavélica de nosso rosto, podemos considerar que quando o interesse é mútuo, então você deixa de ser egoísta e passa a ser amigo. Quando você sabe do interesse de outra pessoa e se doa por ela, você é solidário. Acho que a única diferença nesses três tipos de aproximação é a colocação do amor nessa história. Afinal, porque você iria se voluntariar a cuidar de pacientes com câncer se não tivesse amor por elas? Ser solidário é declarar que vai usar seu amor para ajudar os outros que precisam.

Por outro lado, quando compartilhamos interesses mútuos, não somos apenas humanos fazendo coisas legais juntos. Estamos fortalecendo o amor, em sua maneira mais simplista e legal de ser. Como eu já propus aqui uma vez, existe o lado da benevolência do amor, e o lado da malevolência do amor; ambas caminhando de mãos dadas, mas com uma linha divisória muito clara no meio. E é claro, não vamos confundir, por favor, o amor em seu estado poético para aquele acompanhado da loucura paixão.

A Máscara do Interesse

Talvez seja duro aceitar o fato de que tudo é moldado por interesses, afinal de contas, desde pequenos somos acostumados a ouvir que ser uma pessoa interesseira é algo terrível. E na boa educação das coisas, criamos conceitos de como é ultrajante aquele que é egoísta. Agora se consideramos os pontos de vista de cada um, podemos ver que o lado sombrio da humanidade nem é tão escuro assim. Basta só um pouco de percepção.

Se a gente leva em conta de que o tempo molda nossos interesses, então vamos poder responder o porque amigos aparecem e desaparecem ao longo da vida. Alguns ficam, e é esses que ficam que realmente sempre foram seus amigos do início até fim. Não importa o seu interesse ou o interesse dele, pois se ambos ainda estão alí compartilhando do mesmo, sinal que descobriram a essência da qual nenhum texto ou livro é capaz de explicar.

Talvez seja o tal do amar incondicionalmente alguém. Ou quem sabe, em algum outro ponto de vista distante, o amor seja como a máscara que disfarça toda essa carga negativa que a palavra "interesse" trás por si própria. Você ama alguém, alguém te ama e pronto. Lá estão os dois, os três, o clã ou a tribo usufruindo de uma linda vantagem sobre a crueldade do tempo.

Amor por Interesse

E agora vem um ponto chave nessa história, que é sobre o amor de casal, onde existe aquela confusão da paixão e coisas do tipo. É necessário eu colocar isso aqui porque a amizade sempre vira um tipo de coisa que frita os miolos e me remete a primeira pergunta lá do início do post: "(...) muita gente diz que todo amor é construído com amizade, e muita gente insiste que não se pode confundir amor e amizade."

Acho que dá para arriscar simplificar toda essa história se deixamos os pontos propostos até aqui bem claros: Toda pessoa quer sobreviver em primeiro lugar, e depois disso, ela precisa se socializar, nem que seja só com seus familiares. Garantido esses dois pontos, então conseguimos olhar para o movimento do tempo ao nosso redor e extrair dele aquilo que mais nos é necessário no presente.

Até aqui tudo bem, certo? Quando você encontra pessoas que tem os mesmos interesses que os seus, então você faz deles seus amigos e assim compartilham as boas experiências da vida. Quando você faz algo ignorando essa reciprocidade, então todo o cuidado é pouco: Ignore pensando em si próprio para ser um monstro, e ignore pensando nos outros para ser um anjo.

E então, o que será que acontece quando o nosso interesse pessoal cria as raízes da sobrevivência? Como assim? A sobrevivência é tão importante que faz uma pessoa mesclar os conceitos de socialização para que seus traços genéticos continuem a espécie. Por mais rude ou frio que eu pareça estar falando, esses são fatos muito mais biológicos do que racionais; é algo que nos devota a simples essência de sermos animais no fim de todas as coisas. A ciência já gastou tempo demais comprovando que a paixão é apenas o reflexo disso: Nosso cérebro procurando padrões genéticos que, de certo modo, indiquem que um bom casal é aquele que tem mais afinidades de evolução dos que não tem.

Ou seja, o interesse que existe no amor, seria apenas uma escala a mais de nossos interesses, onde apenas compartilhar as coisas boas não basta mais. É hora de criar uma nova realidade para que o conceito de vidas diferentes sejam transformadas em uma só. Pois é, não há escapatória alguma: Todos somos apenas malditas pessoas interesseiras no fim de tudo.

Conclusão

O interesse é necessário. Você não encontra uma pessoa interessante porque ela é legal, e sim porque ela pode compartilhar as coisas que você procura naquele momento. Será que isso não seria uma explicação do porque tantos casamentos hoje em dia aparecem acabar sem nenhuma explicação aparente? Será que a mudança dos interesses não aconteceu e isso os separou? Se levarmos em conta que o mundo de hoje dispõe de muito mais liberdade e facilidade em promover uma separação do que antes, então podemos até arriscar que isso pode até fazer algum sentido. Claro que eu não tenho experiência alguma para falar sobre isso, mas são apenas reflexões do que já ouvi e vi acontecer por aí.

A mesma coisa se aplica apenas para a amizade de um modo geral. Quando eu via amigos surgindo e outros indo, e comecei a compreender que era justamente o tempo o responsável por isso. Ou melhor, os interesses que cavalgam junto do tempo. E aí, olhando para as amizades que considerei como verdadeiras, foram justamente aquelas que não se abalaram mesmo depois de tantas coisas diferentes eclodirem ao redor. Já até levantei uma outra teoria, sobre o Paradoxo da Amizade, mas deixarei isso para abordar uma outra vez.



Falando em Paradoxos, já deu para perceber o quanto acho legal essa palavra, não é? Foi por isso que postei sobre o Paradoxo da Confiança e o Paradoxo das Escolhas.


Ah, e novamente, os comentários são bem vindos. Pois é, esse é meu único interesse de sua parte. De resto, não me importo. Pelo menos não nesse exato minuto em que leu esse texto. Pode ser que agora tenha mudado... =P

E para acompanhar essa tríade sobre as três coisas escaláveis que mais serão grandiosas na vida, seguem os links:

Parte 1: Interesse Escalável → 3 interesses primordiais
Parte 2: Amizade Escalável → 7 passos para se ter um amigo
Parte 3: Amor Escalável → 3 etapas para notar um dos 4 tipos de amor


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