terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Paradoxo da Confiança


Imagine uma aventura qualquer envolvendo uma dupla qualquer. Diremos que essa dupla é formada por um homem e uma mulher aleatórios. Por ser uma aventura, então vamos avançar ao climax dessa história e considerar os vilões perseguindo o casal heróico por uma estrada. Os motivos aqui pouco importam, mas para fins de contextualização, vamos imaginar os caras-maus com alguns carros potentes, fazendo de tudo para tentar se aproximar mais dos bonzinhos, e se isso acontecer será o fim, pois eles estão furiosos e não querem conversa.


O casal está em algum carro, deixando a adrenalina correr mais do que eles, ao ponto que alguma musica de ação toca no fundo. Agora imagine que essa estrada termina em um desfiladeiro. Sim, clichê, eu sei. Mas ainda não é esse o ponto.


De repente, ela é a primeira a avistar o desfiladeiro e imediatamente avisa o homem para que o mesmo pare o carro. Ele tem uma escolha de acreditar nela ou não, simples assim. O simples poderia ser um pouco mais complicado, se ele respondesse da seguinte forma:

_Consigo ver daqui, mas também consigo ver uma ponte cruzando o desfiladeiro. Você consegue ver?

_Não. - ela diria com sinceridade, e para não arriscar a vida de ambos em algum tipo de miragem, ela recomenda que parasse o carro mesmo assim, para que não corram riscos.

Até o momento, o jogo de confiança de ambos se mantém instável, cada um com seus argumentos baseados em uma incerteza. Eis que ele o homem retruca:

_Temos mais um motivo para acelerar o carro, pois caso a ponte realmente não exista, então usaremos a velocidade para saltar de um lado do abismo até o outro, e enfim estaremos sãos e salvos.

_Mas você não sabe a distância do disfiladeiro! - retruca a moça tingindo-se de pavor. Pare o carro, por Deus!

O lado sútil e diplomata da mulher dessa história simplesmente acha que continuar naquela estrada é loucura, e seu desespero à cega diante da convicção oposta do mocinho.


Novamente são escolhas. Parar o carro e se ver obrigado a encarar inimigos dispostos a lhe matar, ou então, tentar uma atravessia arriscada daquele desfiladeiro cuja falha também levaria a morte.


Onde entraria a confiança? A quem se daria a razão da confiança diante de algo que é incerteza para ambos? Se fosse uma análise lógica, então a mulher provaria sua confiança se aceitasse a atravessia pelo abismo, já que ele oferece uma alternativa de sucesso e ela não.

Mas isso poderia ser uma decisão mais trágica. Bastaria ela dizer:

_Eu sei uma forma de lidar com os inimigos. Tenho certeza que podemos reverter a situação com uma proposta irrecusável a eles. Não tenho tempo para explicar agora, mas lhe peço que pare o carro e deixe tudo comigo.

Ele retruca por um instante:

_Mas eu também tenho certeza de que conseguiremos saltar o penhasco e nos livrar para sempre de nossos inimigos.

Como saber qual é a decisão que levaria ao sucesso? Par ou ímpar, talvez? Mas, seja lá o que aconteça no futuro, é um fato que ambos terão que lidar com o trágico paradoxo da confiança: Se a decisão tomada levar ao sucesso, será que a outra decisão poderia ser melhor? Ou caso haja um fracasso, será que foi culpa daquele que não confiou no outro, ou do outro que acreditou naquele?

Como todos os paradoxos desse mundo, a resposta não é fácil. Mas eu facilitarei o final dessa história: Caso o resultado fosse um fracasso, ambos estariam mortos, e até a morte não confiaram em ninguém. Caso resultado fosse um sucesso, a confiança para com o dono da idéia aumentaria, e em uma ocasião futura - talvez na continuação dessa aventura clichê - a confiança poderia ser mais cega, e com isso, criar um fracasso.

Mas vamos considerar, por outro lado, que estamos aqui falando de uma história clichê, não é? E nessas histórias, como sabemos, o casal heróico não morre no final. Então, o fracasso poderia não levar nenhum dos dois à morte, e sim à algum outro problema para resolverem. Será que, caso a travessia do penhasco falhasse e ambos se machucassem, a mulher culparia o homem pelo erro, que a principio foi relutado por ela? E se fosse o contrário: o plano infalível da mulher não fosse tão infalível assim... poderia o homem crucificá-la pela decisão tomada?

Acho que a dificuldade que muitos tem para assumir os erros iria levar essa história à uma discussão sem sentido. Ou pior: a falta de compreensão alheia nos reprime em nosso egoísmo, e com isso, ambos se tornam cegos o suficiente para notarem que no meio daquela estrada mortal, havia uma placa apontando o atalho para a cidade.

E aí, a mãe de algum deles diria no final: "Eu te avisei..."


Esse post é a primeira parte de um próximo tema que pretendo abordar, sobre as desilusões das certezas. E confiar, ou deixar de confiar, é exatamente a mesma coisa sobre alimentar uma certeza ou deixá-la se destruir por dúvidas. Enquanto eu me destruo com dúvidas, você pode se destruir com algumas certezas, como por exemplo: o filme contágio pode ser real, o amor é belo (mentira, ele pode ser ruim), e outras coisas. Se chegou a ler isso, você pode dar essa certeza postando um comentário. Não se preocupe: não duvidarei caso o fizer. =D
Essa história ainda poderá continuar. Pois o Paradoxo da Confiança, mesmo quando obtém sucesso ele sacrifica a quem já duvidou dele.
Mas a parte mais importante que há por vir, é como foi possível o estado de plena confiança conseguir ser firmado com tanta veemência, se mesmo às vezes, nem sempre conseguimos confiar plenamente em nós mesmos?

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