segunda-feira, 7 de março de 2011

A Explicação de Tudo [1]


Não, esse título não é pretensioso demais. A explicação para tudo, infelizmente (ou felizmente) é muito mais fácil de se conseguir do que você imagina. Isso porque A Explicação de Tudo está em você, está na forma de como você responde as dúvidas que surgem usando as evidências que tem.


Evidências Pessoais

Se alguém lhe pergunta, por exemplo, o porquê você detesta determinado alimento, a resposta é tão pessoal que qualquer coisa dita define o assunto. Mesmo que você nunca tenha parado para pensar a respeito, você consiguirá dar uma resposta convincente a si mesmo. Talvez diga algo como "ah, eu acho muito salgado", ou "putz, o cheiro é terrível", ou caso seja alguém fricknerd muito ecêntrico poderá responder: "pois é, eu não gosto desse alimento porque o teor de vitaminas que ele produz é inadequado à minha dieta, uma vez que já obtenho o mesmo tipo de vitamina com outros alimentos diferentes". Seja qual for a resposta, ela é correta por dois motivos: Você sente-se seguro de acreditar que não mentiu e, mesmo que tenha mentido sem saber, nunca haverá ninguém para desmentir uma resposta pessoal.

Ou seja, sua capacidade de responder não precisa buscar evidências complexas, como por exemplo: "Tenho um gene X no meu DNA que me torna predisposto a não gostar desse tipo de alimento". E vamos convir que esse conceito de DNA também é recente demais para estar em respostas mais antigas e naturalmente é complexo demais para ser compreendido por si mesmo, visto que não temos (ainda) uma visão muito detalhada do nosso próprio código genético. Na falta de evidências, qualquer resposta básica é suficiente, e ainda de quebra consegue explicar tudo de forma definitiva sem gerar novas perguntas (imagine você dando uma resposta que envolve conceitos de genética e se ver iniciando discussões infundadas sobre biologia? Não, obrigado. Simplesmente dizer que um alimento é ruim porque é amargo é muito mais fácil e correto).

Evidências Sociais

Se saírmos do contexto pessoal, a necessidade de evidências aumenta. Por exemplo, imagine que alguém lhe pergunta:

_"Porque você escolheu a cor do nosso tapete de azul?"

Tudo bem que pessoas sinceras egoístas podem até responder "eu escolhi azul porque eu gostei e dane-se seu gosto para o nosso tapete". Por mais verdadeiro que seja a resposta, geralmente o contexto social tem o poder de manipular verdade, ainda que ela continue verdadeira. A fim de evitar confusões você assume que "o azul é o que mais combinaria, você não acha?" ou "não tinha muitas opções de cores lá, e a azul foi que me pareceu melhor".


Conforme vamos aumentando a escala das pessoas que podem ter suas opniões sobre o assunto, a mesma verdade inicial vai se sofisticando e consequentemente transformando-se em outra coisa. A explicação do porquê comprou um tapete azul para a empresa onde trabalha não pode ser simplesmente "foi o que me pareceu melhor", porque você sabe que a sua resposta precisa convencer um número maior de pessoas, incluindo aquelas que detestam a cor azul. Então a primeira coisa a se fazer é aumentar suas evidências, sejam elas relevantes ou não. E partir daí, a verdade continua a mesma, mas desta vez ela requer argumentos que reforcem evidências.

As respostas começam a seguir padrões diferenciados, de acordo com a necessidade de se manter incontestável, ou numa forma de convencer aos outros de que sua escolha foi bem feita.

Até imagino alguém que tenha mais insegurança buscando argumentos em supostos superiores: "o azul segundo [nome de algum famoso] é a cor mais adequada para ambientes típicos como o nosso". E até memo aqueles que querem sentir-se donos da sabedoria: "O azul é o melhor, confie em mim e verá!". O.o'

Analogias a parte, onde eu quero chegar é no ponto de como a Explicação para Tudo é muito superficial, já que ela depende exclusivamente de uma fórmula simples:

| verdade = ponto de vista + evidências - pessoas te contradizendo


Evidências Universais

Finalmente chega um momento em que a resposta para uma pergunta sai dos eixos pessoais e sociais e passa a ser de teor universal. Por exemplo, se alguém lhe pergunta "Porque formam-se raios em uma tempestade?", como seria a resposta para isso?

Alguém que nunca pensou a respeito diria: "Não sei". Afinal de contas, é arriscado você responder alguma coisa que provavelmente muitas pessoas saibam e você não. Alguém no mundo já dedicou horas de estudo atrás dessa resposta e provavelmente ele estava certo. Então, tudo o que você pode fazer para responder essa pergunta é pesquisar e ouvir uma resposta que a partir de então assumirá como verdadeira e passará adiante.

Agora leve essa mesma pergunta para uma época medieval distante onde sua vida se resumisse a uma tribo indígena. Se você, naquele mundo pequeno e limitado é surpreendido por essa mesma pergunta, provavelmente sairia uma resposta. Isso porque você não teria medo de responder errado, já que ninguém da sua tribo sabe a resposta também.

Você diz: "Eu acho que os raios se formam porque tem alguém lá em cima querendo avisar que tem tempestade vindo". E finalmente ninguém contradiz, apenas aceita sua opinião e também diz a opinião dele. Com isso, forma se uma discussão saudável, onde a opinião de todos é respeitada porque todos admitem que ninguém tem uma explicação definitiva para aquilo.

E o mais importante, ao meu ver, é que isso também incentiva a criatividade e a afloração de novas idéias. Se pessoas não questionam nada, então essas pessoas não tem como evoluir, já que não irão buscar nada que seja diferente daquilo que já sabem e fazem. Certamente foram as perguntas que movimentaram o mundo, e se temos tanta tecnologia e conhecimento hoje, é porque existiu muita gente questionando o que poderiam fazer para melhorar isso ou aquilo - para mudar isso ou aquilo.

E a busca pela verdade absoluta continua, até que surge um pagé, alguém que todos confiam e admiram que diz finalmente conhecer a verdade. Por respeito e por falta de argumentos melhores, todos aceitam as palavras do pagé como verdade, mesmo que não concordem com elas. E aí, as pessoas passam a viver acreditando nisso. Chegará um dia em que morrerão e levarão essas verdades para a eternidade, mesmo que a desmitam milhares de anos depois.

Conclusão

E voltando àquela base inicial sobre as evidências pessoais, eu admito que às vezes temos dúvidas sobre nossas próprias verdades, e por isso criamos questionamentos complexos para dúvidas que ninguém pode dar, já que por ser uma questão pessoal, é a própria evidência que dará essa resposta. E só para lembrar, isso entra no mesmo mérito do porque você gosta de uma fruta ou não; não precisa haver resposta, e nem é necessário pensar nisso algum dia se quer da sua vida, pois assim a verdade permanece mais verdadeira, intacta, completamente perfeita em sua sabedoria condicional.

Acontecem tantas transformações em nossa vida, que se você parar para pensar, quase sempre as coisas se transformam devido à essas evidências. Acreditamos que queremos alguma coisa, e então nossa mente se foca naquela coisa, e aí encontramos essas coisas, seja do modo como imaginávamos ou na desilusão de sua realidade. Pensar é o castigo de quem pensa, pois ninguém sabe até onde se pode pensar.

Um belo exemplo prático que carrego disso é de nossa educação acadêmica em um modo geral; já parou para pensar que sempre repassamos as respostas das coisas que ouvimos sem questionar a fonte da qual ouvimos? Um professor diz que 2+2 é quatro, e tudo termina ali, porque confiamos nele, que certamente confiou em seus mestres anteriores, e assim seguiu-se desde algum início distante. Mas ainda assim, a capacidade de questionamento sobre tudo é muito superficial se levar em conta esse ponto: Ninguém mais procura nas dúvidas as respostas, apenas procuram as certezas que nunca existiram e nem existirão. Tudo é só um ponto de vista seu ou meu, onde podemos concordar e discordar, mas ninguém está errado. Se muitos concordarem, a tendência é que você acredite estar errado, e aí surge essa conotação errada de tudo. Desculpe pelo trocadilho, foi outro erro de percepção.


Não importa se você vai manter o respeito pela opinião de seus conhecidos e não mudá-la. Alguém fará isso por você, pois agora nossa tribo cresceu demais e os pagés se multiplicaram. A verdade continua a mesma, ou do contrário, ninguém conseguiria manter tantas dicussões recorrentes ao mesmo assunto. Enquanto houverem questionamentos, tudo indica que a verdade pode mudar e evoluir junto de seus conceitos.


Esse é um texto reflexivo que não tem pretensão de mudar opiniões, já que quem faz isso é, principalmente mídia + massa populacional. O propósito desse texto é instigar o questionamento sobre o que seria a verdade que dizem, pois se ela não puder ser questionada só há duas desilusões conclusões: Ou a evolução parou ou você não consegue mais encontrar perguntas para respondê-la. Não importa qual seja o caso, talvez isso signifique que abrir a mente seja mesmo necessário.


Só para constar: O post nem chega a ser uma crítica sobre alguma coisa, mesmo que suas interpretações assim o façam pensar. Então, caso você tenha uma explicação para tudo, aproveite e poste-a nos comentários. Ou caso não tenha, leia esse conto e realmente veja mais uma interpretação sobre quem tem a resposta para tudo.

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