O casal era composto por dois velhinhos, cujas rugas de experiências foram muito bem detalhadas naquela imagem estática deles. Era fácil notar a expressão de serenidade de ambos, e da quantidade de alegrias e tristezas que passaram juntos. E ali estavam felizes. Serenos e discretos, mas felizes por algum motivo. Um leve sorriso parecia querer dizer alguma coisa para os presentes no templo.
Diante daquela descoberta incrível, os exploradores procuraram por notas e diários perdidos que remetessem a revelar aquilo que as paredes não podiam contar por si só. De qualquer modo, mesmo que nenhum documento ou registro histórico fosse encontrado, cada um que os visse conseguia imaginar sua própria versão de como terminaram naquele momento. Era essa liberdade de imaginação diante do desconhecido que tornava aqueles dois velhinhos tão reais.
Talvez tivessem se conhecido ainda quando pequenos. Poderiam ter se conhecido no prézinho, enquanto aprendiam as primeiras letras do alfabeto juntos. Talvez fossem grandes amigos durante muitos anos. Talvez se separaram em algum momento de suas vidas, mas logo se viram unidos novamente. São tantos "talvez" que isso apenas prova o quão genérico é a história de qualquer casal feliz.
Um explorador chegou até a sugerir seu próprio caso de vida como uma possível versão daquela cena.
_"Quem sabe eles se conheceram por acaso, em algum momento bom", disse ele. "Poderia ter acontecido uma festa no reino, e com toda alegria os rodeando, o destino nem teve muito trabalho para uní-los. Foram consumidos pela paixão, e viveram felizes para sempre."
Um outro explorador balançou a cabeça, refutando a idéia do amigo.
_Eu acho que isso é impossível. Se foram consumidos pela paixão, é bem provável que ambos estavam cegos enquanto se conheciam. E depois disso, viveram felizes, mas não por muito tempo. O brinde que fazem parece muito sútil diante de um estupor tão grande de felicidade que imagina existir. É um brinde de um casal que ama um ao outro, mas não de um casal apaixonado.
Um grupo de exploradores continuou discutindo suas idéias e teorias sobre o passado distante que já rodeou aquele templo algum dia. Concluíram que o tempo era capaz de destruir tudo, e certas coisas eram destruídas mais rápido do que outras. A primeira coisa que o tempo costuma destruir em um casal, refletiu um explorador, é a paixão. Em algum mundo distante, isso é o suficiente para separar um casal, mas essa não parecia ser a verdade que o cenário daquele templo mostrava.
No final daquele dia, fizeram uma suposição de que a escultura mostrava apenas um momento, mas não era necessariamente a morte. Um deles poderia ter morrido primeiro, e então, usado a paixão que ficou guardada durante tantos anos para esculpir e eternizar o momento mais importante da vida deles, que era justamente quando tinham a oportunidade para sentarem juntos um ao lado do outro. Talvez a taça não fosse só um brinde qualquer, mas sim o simbolismo de todos os brindes que já fizeram ao longo de toda aquela caminhada. Talvez não fosse uma taça de vinho, e sim de sangue. O sangue que já tiveram que derramar para ficarem juntos. As brigas e os quase rompimentos de um elo que estava unido e desunido ao mesmo tempo.
O templo ainda continuará naquela floresta, e a história do casal ainda continuará sendo um mistério. São tantos "talvez" que a verdade perde seu espaço. Um casal abandonado pelo tempo, cujo tempo quer destruir as coisas que encontra. Um momento registrado de milhares de momentos perdido para sempre. Um olhar de serenidade que significava muitas coisas sem dizer uma única palavra. E tudo isso hoje em dia não importa, porque esculturas não falam. Esculturas apenas viram as peças que passam despercebidas nos museus.
Fazia tempo que não postava e nem escrevia nenhum conto. Então, aproveitando a deprimente encenação que se faz em torno do dia dos namorados, resolvi postar alguma coisa refente ao tema.
Se esse conto pareceu chato demais, tente ler esse outro que não tem nada haver com amor, mas sim com crenças e traições. Ou então, se você pretender ler alguma coisa mais triste do que isso tudo, lhe apresento um menino chamado Elias e sua história da Quinta Cor.
Se esse conto pareceu chato demais, tente ler esse outro que não tem nada haver com amor, mas sim com crenças e traições. Ou então, se você pretender ler alguma coisa mais triste do que isso tudo, lhe apresento um menino chamado Elias e sua história da Quinta Cor.
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