segunda-feira, 19 de abril de 2010

Efeito Placebo [2]



placebo | s. m. : Med. - Substância neutra administrada em vez de um medicamento, como controle numa experiência, ou para desencadear reações psicológicas nos pacientes.

Além do significado principal, Placebo também é o nome de uma banda de rock inglesa. E agora, faça a junção desses dois significados e você tem uma história envolvendo duas pessoas reais, em um mundo real, mas cujas mentes recebem o contraste da aplicação do Placebo em suas vidas.

Post dividido em 4 partes, contando a saga de um cara banal entorno do show que aconteceu no Credicard Hall de SP dia 17/04/2010. Veja a Parte 1 clicando aqui.



Parte 2: O Ingresso

A primeira barreira, que seria um simples convite para um show, veio na minha direção e eu deixei impactar. Levaria o impacto e tentaria não cair - e mesmo que caísse, me colocaria a levantar - e assim o fiz. Mas depois disso, a estrada continuou, e diante de mim veio a verdadeira barreira, que seria a compra do ingresso.

Naquele dia, em uma conversa pelo msn, todo o caos mórbido até então levou o assunto para um ponto crítico. Mas antes do ponto crítico, houve uma discussão saudável sobre o horário certo para nos encontrarmos para comprar os ingressos, sobre comprar pela internet ao invés de pessoalmente e até escolher entre o lugar mais próximo e o mais afastado.

Eu ainda estava com uma leve tendência a discordar de tudo naquele dia; meu estômago revirava diante da possibilidade de um simples convite de dias atrás virar realidade. O golpe daquele momento me dizendo que algo novo aconteceria me criou uma verdadeira mudança comportamental.

Junte toda essa incoerência de contradizer uma discussão e você descobre como irritar alguém sem querer. E foi esse o ponto crítico daquele dia:

_Se você não queria ir, era só dizer que não iria e pronto. Não precisava dar essa volta toda...

Eu nem sabia o que responder. Ou talvez, nem tivesse o que responder, porque ela estava certa. A coisa mais repugnante que eu poderia ter feito era plantar uma semente de esperança em alguém e então cortar o caule quando o primeiro fruto estivesse para sair. Com a mente acelerada meus dedos já haviam digitado "me desculpe", mas não tinha coragem de enviar a mensagem. Eu não podia deixar toda a ansiedade transformar alguns caracteres de texto em um profundo arrependimento.

"Me desculpe" - Eu pensei, e olhando para aquela frase pronta, meu dedo titubeou sobre o botão para enviar o fim de tudo, mas aí ela mandou outra mensagem... Na verdade, naquele momento não eram mais mensagens, e sim golpes de faca; a minha merecida dor pelo acúmulo de erros que formam o caráter de um covarde.

_Você nem conhece a banda, seus pais não querem que você vá... Aliás, pra que você quer ir mesmo?

Era uma pergunta retórica, e por isso eu novamente não sabia o que responder. Mas precisava dizer algo, e dessa vez não seria um "me desculpe"; três respostas vieram a mente, e num intervalo de poucos segundos minha mente tentava planejar toda a sequência de eventos que cada coisa que eu dissesse impactaria no futuro.

_Quero ir porquê... - E então me vi em uma caverna escura, com três caminhos impostados à minha frente. A voz que vinha do meu subconsciente dizia que não faria diferença entre o que eu dissesse, desde que não "desse mais voltas". Aliás, provavelmente já era mesmo um caminho sem volta.

"Quero ir porque eu gosto de estar ao seu lado. Na verdade não ligo a mínima para esse show, mas se é onde você quer ir, então eu quero ir também".

Não, eu não iria ter dito nada disso em hipótese alguma, mas foi a primeira resposta que me veio a cabeça, ou na verdade, era o que já estava na minha cabeça há muito tempo atrás. Mas com certeza não é nada inteligente dizer para um pessoa que aquilo que ela gosta não importa para você. Mas isso seria o menor de todos os problemas; nunca existiu um elo qualquer entre nós dois que não fosse amizade. E com certeza, pior do que magoá-la seria ter o contrato de amigos destruído para sempre, e pior do que isso, ela jamais me olharia com os mesmos olhos novamente. Então, era hora de eu pensar em outra coisa.

"Quero ir porque, embora eu não me importe muito com esse show, eu queria te ajudar".

Ajudá-la... Por que eu queria ajudá-la levando alegrias em troca de minha própria infelicidade? Ela já havia me dito que não tinha mais ninguém para ir com ela naquele show, mas eu sabia que se eu colocasse toda verdade naquele momento, os efeitos disso seriam impróprios à ocasião. Por um instante me senti no futuro, interpretando o papel de Evan no filme Efeito Borboleta, em que ele tem a possibilidade de voltar para o passado e concertar algum erro que cometeu; mas naquela hora o passado era onde eu estava, e minha fiel intuição gerou o triste futuro que me levaria ante uma mensagem elaborada sem planejamento.

Fiquei orgulhoso de ponderar algo verdadeiro e inteligente ao mesmo tempo. A resposta final que selou a compra do ingresso e criou um marco na minha vida patética veio através disso:

_Eu quero ir porque quero mudar, sair da rotina, iniciar uma revolução.



 Reveja alguma parte anterior ou continue lendo essa saga:
  1. O Convite
  2. O Ingresso
  3. Administrando doses de Placebo

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