Um Péssimo Negócio
Se bem me lembro, eu sempre fui um péssimo negociador, e certamente não tenho o menor talento para vendas, embora até tenha conseguido boas idéias. Só para citar um caso, quando eu tinha entre 8 e 9 anos, eu adorava álbuns de figurinhas, embora ficasse visivelmente desapontado com tantas figurinhas repetidas que vinham naqueles saquinhos comprados na banca de jornal.
Óbviamente meus pais não apoiavam minha idéia de querer gastar dinheiro com essas futilidades. Sem muito dinheiro para gastar com isso, eu pegava as figurinhas que eu já tinha e separava as repetidas de modo a formar novos saquinhos. Assim os revendia por um preço menor entre o pessoal da escola.
Duas coisas fizeram esse negócio dar certo, e duas fizeram dar errado. Como eu estava no timing certo, vendendo algo que era a moda da época, definitivamente haviam muitos compradores interessados. Meu segundo acerto foi a iniciativa pioneira, pois eu simplesmente não tinha concorrentes, e por minhas figurinhas custarem mais barato que as da banca de jornal, eu ainda tinha preferência.
Só que caí no erro de não contar com um estoque muito grande, e como eu gastava mais para comprar um saquinho novo na banca do que para revender o que já era repetido pra mim, então nada daquilo me gerou lucro (apenas diminuiu as despesas). Vender sem margear lucro, mesmo que seja coisas que perderam valor não pode ser considerado um tipo de negócio, e meu segundo erro foi acreditar que era. Tanto que nem me importei de vender a fiado, cujo pagamento posterior difícilmente viria.
Posso dizer que saí dessa época sem prejuízos pelo único fato de que o que eu vendia era material que supostamente não iria mais ter nenhum proveito.
O que eu disse no começo do post sob ser um péssimo negociador, é pelo fato de que desde aquela época (e um pouco hoje em dia) eu nunca tentei procurar formas de fazer qualquer idéia do tipo gerar lucro. Ou melhor dizendo, encontrar oportunidades no dia-a-dia em que poderiam se transformar em fonte de renda.
Lembro que quando meu pai havia visto eu fechando os saquinhos novamente e separando as figurinhas, eu fiquei muito empolgado em explicar a ele toda minha visão empreendora que uma criança de 8 anos pode ter. Ele não entendeu muito bem minha lógica, mas disse que se eu iria vender a um preço mais barato, então deveria colocar menos figurinhas em cada saquinho. E as pessoas ainda assim iriam preferir comprar minhas figurinhas porque não haveria risco de ter duas ou três iguais no mesmo saquinho (comprando na banca de jornal isso acontecia com certa freqüência). Já que eu possuía diferencial + compradores, então seria justo ter aumentado o preço de venda. Mas como não fiz (em parte eu fiz, mas caí no conto do fiado), então a única vantagem daquilo tudo foi ter econimizado muito dinheiro com algo que era pra ter sido jogado fora ou ir parar em rodinhas de desiludidos apostando e batendo suas figurinhas para ganhar as novas.
Analogia à Bolsa de Valores
Como sempre existiu aqueles que estudavam ali mas não moravam por ali, a diversificação das figurinhas vinha principalmente por causa da região. Eu e grande maioria dos alunos moravam perto da escola, o que fazia com que todas as bancas de jornal pela redondeza gerassem muita figurinha repetida, e consequentemente com o tempo elas perdiam o valor porque todos já tinham. Quem morava mais longe conseguia até achar as figurinhas que queria para completar seu álbum jogadas no chão, e o desapego daqueles que jogavam fora ainda diminuia mais o valor. Ninguém tinha a idéia de negociar uma troca, e por isso os mais afastados acabavam tendo vantagem. Eles eram os possuídos das grandes "raridades" para a maioria, e propositalmente se gabavam disso.
Graças a essa distinção de posse, as figurinhas, compradas sempre pelo mesmo preço, ganhavam ou perdiam valor de modo absurdo. Quanto mais todos querem, mais caro aquilo fica. Os felizardos que tem em mãos aquelas raridades se divertem vendo o verdadeiro "leilão" que se forma diante deles. Todos querendo algo que só você tem, e você reluta em se desafazer daquilo porque no fundo deseja ver até onde vai o limite daquela euforia.
Pelo que pude constar, a Bolsa de Valores também segue esse mesmo tipo de lógica, só que as figurinhas aumentaram proporcionalmente de tamanho na medida em que as crianças cresceram. Os papéis agora são chamados de ações, e ao invéz de trazerem imagens sobre seleções ou personagens de desenhos animados, trazem o nome de empresas. Todas as empresas querendo que os detentores de seus papéis gritem e fiquem malucos pra provar que seu valor é maior do que o dos outros.
Antes de Investir
Antes que pergunte onde eu quero chegar com essas analogias e simplificações de finanças, o fato é que depois de ler e estudar o máximo que pude sobre o assunto, percebi que ainda assim não tinha confiança alguma para dar um passo maior com o dinheiro que eu tinha. É basicamente constatação univeral de que a velha e conhecida Poupança não é nenhum tipo de investimento, simplesmente porque seu dinheiro não aumenta. Tudo o que se ganha com ela são apenas juros sobre a inflação, de modo que cada cada centavo a mais vindo da Poupança é apenas um centavo a mais que o dinheiro se desvalorizou e por isso o banco te recompensa dando a falsa ilusão de que é um investimento. Como parece óbvio, investir é fazer seu dinheiro multiplicar, e não apenas ficar nessa sominha insignificante de "juros mortos".
E começei tudo isso explicando a lógica básica das Bolsas de Ações porque tudo o que ouve falar de investimentos por aí acabam por cair nesse assunto, como se Investir em Ações fosse a única forma de investimento. De certa maneira, ela é a mais fácil para tornar alguém muito rico (ou muito pobre) dependendo de quantos passos você decide subir nessa perigosa e instável escada. Imagine que quando você entra nesse mercado, você pode escolher em qual patamar colocar seu dinheiro. Quanto mais baixo, menos precisará subir nessa escada, e menor o risco de cair dela.
Subindo até o primeiro patamar, você consegue investimentos com segurança e com risco nulo de se perder dinheiro. E quanto mais patamares você decide subir, mais é o risco de cair, ao mesmo tempo que maior são os lucros que vem até você. No entanto, a cada degrau você adquire experiência e melhora seu patrimônio, de modo que os riscos se tornam menores e a chance de cair em miséria vão se afastando.
Em resumo: Uma pessoa normal que coloque todo o dinheiro dela no patamar mais alto, certamente terá dois problemas básicos: Ou não chegará até ele, ou cairá antes de alcançá-lo. Mas uma pessoa normal que decida ir devagar mas de forma constante, não tem como ter qualquer tipo de prejuízo se sua subida pela escadaria for feita de acordo com a própria confiança adquirida. Esta é a mais óbvia constatação daquele dito: Os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres.
Embora tudo isso que você leu até aqui pareça aquelas conversinhas furadas de livros de auto-ajuda, digo que isso é praticamente um senso comum do que todos os grandes investidores dizem. Tendo em vista que há toda essa teoria, agora resta alguém por isso em prática. Nada mais justo do que um blog sobre desilusões fazer isso, e, minha saga frustrada para a riqueza começa a ser relatada aqui, antes mesmo de eu dar o primeiro passo nessa escada do pitfall.
Em breve (ou nem tão breve) postarei a Parte 2 sobre Investimentos. Dessa vez contando na prática, e em alguns passos práticos, como se tornar um mendigo.
E enquanto ainda tenho computador e internet, por favor deixe um comentário! =)
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