A Chegada à Ilha
Imaginando um acidente envolvendo a queda de um avião, certamente esse seria um evento marcante para a vida dos sobreviventes. Para alguns personagens de Lost, é literalmente sentir o pânico de que perderá a vida, e instantes depois se ver cair de cabeça num lugar novo e desconhecido e perceber a grande dádiva de continuar vivo. A importância de estar ali, as esperanças, expectativas, medos e alívios ganhando um destaque incrível diante da necessidade e urgência de percebê-las.
No mundo real, você ouviu em alguma época alguém lhe apresentando Lost, e depois disso, você teve a escolha de assistir e acompanhar, ver por curiosidade e acreditar no que quer que viesse depois, apenas ignorar ou simplesmente não saber nada sobre tudo isso. Quando algum desses eventos ocorreu, você estava apenas optando entrar no avião ou ficar fora dele. Optou por cair e se tornar um sobrevivente, ou simplesmente deixou a passagem do vôo de lado.
Por mais insano que isso possa parecer, o maior objetivo de Lost ao decorrer desses anos foi justamente fazer com que os telespectadores pensassem. Não é a toa que nomes de grandes filósofos estão no meio do nome dos personagens como John Lock e Russeau. Eles queriam que as pessoas refletissem as idéias de cada episódio e entendessem que aquilo era algo expandido. Seja pelos ARGs, ou pelos episódios complementares de Missing Pieces, o elemento de interatividade sempre foi o grande chamariz do seriado. E é parte dessa interatividade que torna muitas comparações válidas.
O grande elemento presente no começo de grande parte dos episódios é quando abrimos nossos olhos. Tudo aquilo que vai passar pela nossa retina começa assim. É o primeiro contato que você terá, e antes de qualquer entendimento, o importante é ver primeiro. E não importa se ver para você é apenas olhar tudo do alto no conforto e “segurança” de um avião, ou olhar para o alto e perceber que abaixo e acima de você está o inalcançável.
Minha chegada à ilha foi modesta, quando vi o nome “lost” no nick de um contato do Msn. Quando perguntei o que era, a única resposta que obtive foi essa: “É um seriado. Se quiser assistir um episódio, o link é esse”. Isso foi lá pra 2006, e tudo o que eu conhecia sobre seriados se resumia basicamente à Chaves. Isso porque eu nunca tive muita paciência para acompanhar histórias que fossem muito longas, e saber que depois de um episódio viria outro e mais outro centenas de vezes, aquilo me desmotivava a ver e fazia com que eu já pré-julgasse qualquer seriado como sendo algo ruim.
Foi assim que eu assisti o primeiro episódio de Lost. Sem nenhuma expectativa de ver algo bom. Na verdade, ainda demorei um bom tempo pra ver depois daquele dia no Msn. E eu nem havia anotado o endereço do link que recebi porque já estava decidido de que não iria perder meu tempo assistindo. Mudei de idéia porque um tempo depois eu queria ver qualquer coisa para passar o tédio e me trazer sono para dormir.
Não vou dizer que Lost me ganhou com dois ou três episódios, porque só continuei assistindo pra ver se aqueles mistérios iniciais iriam para algum lugar ou não. E sinceramente, não tenho muito sentimentalismo para ficar me importando com a história dos personagens; não queria saber se um deles era pedreiro, romântico ou pescador. O que os personagens eram ou deixavam de ser pra mim eram apenas formas de encher o tempo de episódio. Claro que existem muitos que gostam mais dessa parte de envolvimento e background de todos, mas eu queria ver mesmo ação. Coisas explodindo, e algum efeitinho legal vez ou outra.
Analisando a obra como todo, eu reconheço que passei a dar mais importância para os personagens em qualquer história. Já consigo reconhecer que o background é importante. (mas ainda continuo achando chato!). Enfim, gostos e contra-gostos a parte, posso resumir que a produção do seriado foi muito feliz em achar os atores certos. Personagens carismáticos que dão show de atuação e completam com proeza a maestria de Lost. E ponto positivo também para a ABC, que levou fé no projeto até o fim sem boicotes.
Engraçado que na época que começou a passar Lost na Globo, eu comecei a escutar não só a fama de Lost disparar, mas também os comentários e comparações sobre aquilo. A coisa mais triste que ouvi foi dizerem que Lost era uma espécie de Big Brother, colocando vários personagens para dividir as atrações dos telespectadores enquanto você ia dando uma espiadinha no que estavam fazendo. E para piorar a analogia, eventualmente alguma morte ou provação na ilha exasperava ainda mais comentários do tipo: “Você viu só, fulano foi pro paredão, e cicrano agora é líder!”.
Uma comparação dessa e faz parecer que Lost é uma coisa ridícula. Mas os fundamentos não se perderam, e ao fim daquela temporada, todo mundo já tinha seus conceitos para saber se depositariam sua confiança no seriado até o fim ou não. Um joguinho simples de escolhas, que numa analogia ao Mundo Real, seria a parte em que você pode sair da ilha, e tem a oportunidade de voltar para casa e deixar ela com seus mistérios para lá. Ou você pode continuar adiante e entender até onde ela pode ir.
Novamente, não vou dizer que Lost me ganhou com aquela temporada, por no final das contas, acredito que fui eu quem ganhei, depois de compreender o que foi Lost em fim.
Na última parte desse post, um adentro sobre o que foi a tal “Experiência” que lost proporcionou. E para quem ficou decepcionado com a Darma Initiative, uma chance para entender sua grande importância na história.
Veja também a parte 1 dessa análise =)
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