quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lost - Análise Geral [1]

Como muitos já disseram, e os produtores repetiram, Lost foi para muita gente não apenas um seriado, e sim uma experiência. Revolucionaram a forma de como os espectadores veriam a série adicionando a interatividade, e usando a internet como recurso de termômetro para saber o que estava dando certo ou errado nos episódios. Em resumo, fizeram uma experiência com quem assistia para nos dar uma experiência nova daquilo que ainda iríamos assistir. Por ser uma série com muitas metáforas, provações e mistérios, ela gerou dentro de cada um sua própria forma de analisar o conjunto da obra. E meu relato nos próximos posts será justamente minha experiência – e desilusão – em torno de Lost. Não vou focar em torno dos eventos de cada temporada, então esse texto não contém spoilers. =P




Porque não tem spoilers aqui?


Antes de mais nada, dizer o básico sobre o grande tema recorrente em todas as temporadas não é spoiler! Até porque, se você mora em qualquer continente que não seja a Antártica, então o básico você já cansou de ouvir. Os que gostam de resumir tentam explicar Lost assim: “ah, é uma história de uns sobreviventes de um avião que caiu numa ilha estranha”. Se eu ouvisse isso, dificilmente me interessaria por assistir um único episódio, pois filmes e histórias tratando de personagens carismáticos (ou não) querendo apenas um final feliz, a TV e o cinema já estão cheios.

De qualquer modo, é difícil resumir a série dizendo que o tema central são os sobreviventes, a ilha ou os mistérios. Isso porque ela nos apresentou um conceito sobre surpreender o espectador. Pelo fato de existirem produtores roteiristas muito interessados em tudo o que se discutia nos fóruns da internet, todo o estoque concentrado de milhares de idéias podia ser fácilmente abatido seguindo-se pelo lado oposto. Cabia aos roteiristas usarem essas ferramentas para criarem suas armas e com elas reinventarem a série por diversas vezes. E principalmente por isso, muitos telespectadores começaram a usar o conceito de “ser surpreendido” como obrigação de cada episódio. A grosso modo, era como você apertar o play para assistir e falar: “Vamos lá, me surpreendam”. E desde de sempre existiam os telespectadores mais casuais que apenas viam um episódio e iam dormir, e outros que viam e depois iam para fóruns descutir teorias e pegar detalhes que poderiam aparecer frame a frame que pudessem revelar os grandes mistérios por trás da ilha. Devido a isso, muitos desses fãs mais hardcores apertavam o play e diziam: “Vamos lá, eu já sei de todos os detalhes possíveis e imagináveis sobre o que está acontecendo. Duvido vocês me surpreenderem agora”.

E não é que os roteiristas conseguiam essa façanha de surpreender aqueles que teoricamente já estavam convictos que tinham atingido a máxima epifania universal sobre tudo? Fico imaginando como se fosse uma disputa de dois times trapaceiros: De um lado o grupo dos fanboys fãs tentava encontrar motivos para “odiar” a série descobrindo todos segredos, que certamente seriam o trunfo dos produtores. E o outro time, composto pelos roteiristas pensava: “Nós precisamos encontrar um jeito de deixar aqueles malucos perdidos”.

Se o público mais perfeccionista gostou de Lost, então os mais casuais certamente estariam satisfeitos. E se objetivo maior de todos era dizer que Lost significava os perdidos na ilha, os perdidos nas suas idéias ou perdidos por não compreenderem, então posso dizer que o nome do seriado foi o mais acertado de todos os tempos. Principalmente porque além de tudo, milhares de metáforas sobre nossas vidas estão presentes dentro de cada episódio, e isso nos fazia perder e encontrar coisas o tempo todo ao longo das séries. O tempo todo. Engraçado pensar nisso agora, mas enquanto evito os spoilers, tudo o que tenho a repetir é mesmo a experiência. Sem a experiência, metade do seriado perde o sentido (embora jamais perca seu valor).

E agora que Lost acabou, é provavel que você vá descobrir o final de tudo em algum comentário idiota ou numa leitura dinâmica por aí. Mesmo aqueles que queiram começar a assistir a série agora e tentarem baixar alguma coisa na internet, serão bombardeados de spoiles pelos próprios resultados da busca, com milhares de sites e blogs estampando o final logo no título de suas páginas. Pois já que todos os seis anos podem ser resumidos com uma frase, as chances de quem não acompanhou a série perderem o interesse por ela são grandes, principalmente porque a polêmica em torno do último episódio dividiram os fãs entre aqueles que odiaram ou amaram Lost. Ainda existem aqueles que estão no meio do muro, mas eu digo que os que tem dúvidas estão no grupo dos que amaram; pois se são as dúvidas que os alimentaram por tanto tempo, então ficar com dúvida no fim de tudo não é necessariamente um problema ou depreciação.

Tanto detalhe fechando ainda mais a série como chave de ouro. Amor e Ódio tinham que estar presentes em proporções iguais ali no fim, simplesmente porque é assim que todos os antagônicos são apresentados desde o primeiro segundo da série. Mesmo olhando a simplicidade do nome “Lost” escrito em branco num fundo preto são tão importantes quanto necessários. Ok, posso estar tentando ver muita figura nas nuvens, mas ainda são boas coincidências que mesmo ao longo da série os produtores se aproveitaram e beneficiaram disso.



Se aproveitar de um momento agindo certo na hora certa é o grande trunfo das grandes genialidades do mundo. Quem dera eu pudesse voltar no tempo alguma vez para estar fazendo coisas certas nos melhores momentos que passaram. Bom, e depois de lhe encher de spoilers sem contar nenhum spoiler, vou direto ao ponto sobre a experiência de Lost nos próximos posts, porque esse já ficou grande demais.



Veja também a parte 2 desse post, contendo uma simples analogia sobre a ilha, e a grande sacada de mestre ao usar passageiros em um vôo para estender a interatividade daquele universo gigante e pequeno ao mesmo tempo.

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