segunda-feira, 19 de abril de 2010

Efeito Placebo [4]



placebo | s. m. : Med. - Substância neutra administrada em vez de um medicamento, como controle numa experiência, ou para desencadear reações psicológicas nos pacientes.

Além do significado principal, Placebo também é o nome de uma banda de rock inglesa. E agora, faça a junção desses dois significados e você tem uma história envolvendo duas pessoas reais, em um mundo real, mas cujas mentes recebem o contraste da aplicação do Placebo em suas vidas.

Post dividido em 4 partes, contando a saga de um cara banal entorno do show que aconteceu no Credicard Hall de SP dia 17/04/2010.

 Veja as Partes Anteriores:
  1. O Convite
  2. O Ingresso
  3. Administrando doses de Placebo



Parte 4: Fim do Tratamento

Acordei realmente cedo naquele sábado, porque dizer que não dormi seria injustiça com as horinhas avulsas que se juntavam ao decorrer de intervalos na noite. Abri o armário e dei uma olhada se meu ingresso ainda estava no mesmo lugar. Olhar para ele me deixava incomodado, mas ao mesmo tempo aliviado por saber que seria seu último dia.

Separei os binóculos que levaria para o show, verifiquei se havia créditos no celular e deixei o GPS carregando enquanto dava uma última estudada no mapa. Da minha cidade até o CredicardHall são mais de 50 km, e quando não se é experimente em fazer viagens mais longas do que 2km, isso tem um impacto inacreditável.

Nem consegui almoçar, e já havia passado das 16h. Embora o show só fosse começar as 22h, eu precisava sair absurdamente cedo de casa para evitar quaisquer imprevistos. Fui para casa dela, e de lá seguimos ouvindo a dose final das músicas do Placebo. Como eu havia decidido, depois daquele dia iria apagar as músicas e todas as recordações daquele momento. Estrategicamente não levei câmeras fotográficas, e felizmente meu celular não consegue tirar foto alguma descente. Tudo o que eu teria daquele dia no futuro seria só uma lembrança, pois assim seria mais fácil esquecer quando precisasse. E eu iria precisar.

Chegamos tão cedo que para passar o tempo ficamos no carro assistindo tv pelo celular. Ironicamente, o programa que ficou sintonizado era desses com namoros na tv, onde um punhado de gente tenta tirar a sorte do amor enquanto se diverte com a fama por um dia. Enquanto via as imagens, meus pensamentos iam para longe. Eles terão a fama por um dia, mas talvez nem saiam dali comprometidos. Fiquei imaginando quantas pessoas poderiam estar em uma situação parecida com a minha, e o quanto poderia ser valioso eu aproveitar daquele momento, ignorando tudo o que mais viesse a seguir.

Confesso que nunca achei que um desses programas de tv dos quais nunca vejo, eventualmente pudessem coincidentemente me serem úteis naquele momento. Foi dali que eu tirei a dose de coragem por dentro, e finalmente decidido que o show seria o fim do tratamento a base de Placebo.

O Credicard Hall estava de parabéns pela sua estrutura, e até mesmo eu que não via o menor sentido naquele show achei aquele evento incrível. A experiência valeu pela expectativa, mas teria sido melhor se eu pudesse ter pulado toda a parte da ansiedade que veio antes daquilo. Durante a música estourando meus tímpanos eu me deixei seguir pela regra cultural de toda aquela massa. Cantar junto, aplaudir e curtir o momento. O tratamento se fechou com chave de ouro para mim, e eu pude voltar recuperado para casa.

Ainda durante aquela noite, eu continuava ansioso, mas dessa vez era uma ansiedade boa, pois eu não via a hora de contar os detalhes de tudo o que havia acontecido para meus pais. Eles finalmente aprovaram o que antes eu não via expectativas. E até me incentivaram a ir em outros shows. A sensação de liberdade era indescritível, e ali eu vi que a amizade, no seu mais belo e puro contexto da palavra, havia valido a pena.

***
 Veja todas as partes dessa saga:
  1. O Convite
  2. O Ingresso
  3. Administrando doses de Placebo
  4. Fim do Tratamento

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