quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Acaso x Destino

Já cansei de ouvir minha mãe tentando erguer meu ego ao dizer: "Tudo tem seu tempo, meu filho. Quando tiver que ser, será."
A voz da experiência que vem dela me fazia criar questionamentos que pediam argumentação, do tipo: "Então, mesmo que eu passe o tempo todo trancado no quarto vendo TV, mesmo sem eu mover um único dedo tudo acontecerá no seu devido tempo? Essa lei do maktub não tem fundamento algum". Eu achava que tinha razão só porque minha mãe não conseguia contra-argumentar isso, mas infelizmente (ou felizmente?), eu estava errado.

Segue o relato dos fatos definitivos sobre a existência do destino.

Um dia algo acontece...

Um dos temas bem recorrentes nas histórias que gosto de escrever é sobre essa nuance entre o acaso e o destino. Isso porque é um tipo de coisa que consegue ao mesmo tempo se provar e se contradizer, simplesmente pelo fato de fazer parte de um paradoxo irresoluto. É a mesma coisa da fé: Você acredita por evidências pessoais, mas não pode provar porque essas evidências não estão presentes no consenso de todas as outras evidências.

De certo modo, existem acontecimentos na nossa vida que levantam aquela típica frase: "mas isso é muita coincidência...". E geralmente são coisas que podem ser atribuídas a sorte, milagres, destino, ou qualquer outro nome de definição casual. Ou seja, quando alguma coisa sai de seu âmbito de compreensão, você atribui o mérito para uma coisa que também não pode ser totalmente compreendida. É como tentar anular a gravidade usando outra gravidade. Pelo menos acredito que isso acontece com muitas pessoas. Uma menor parte apenas acha que aquilo foi um fator de sorte incrível, e outros ficam em cima do muro e não sabem no que acreditam.

Um detalhe: Não estou falando daquelas "coincidências" mais comuns, do tipo perder um ônibus para ir trabalhar e mais tarde descobrir que aquele ônibus quebrou ou algo do tipo. Isso poderia entrar no mérito da intuição aguçada, ajudinha celeste, percepção da subconsciência, dia de sorte ou qualquer outra coisa atribuída a um evento raro.

As coincidências que eu estou falando são daquelas capazes de mudar sua vida, e acontecem geralmente quando você acha que nem sua intuição, e nem um exército celeste ou mil pés-de-coelhos seriam capazes de desencadear tal cadeia de eventos. Uma cadeia de eventos magnífica (ou não) que dá a impressão que tudo aquilo já estava pré-destinado a acontecer muito antes.

A história de todos já está cravada em pedra, seria a explicação sobre o que é o destino, e como sempre, basta escolher entre acreditar ou não. Se acreditar, então tudo é mais fácil e o assunto pode terminar aqui. Mas se não acreditar, então chegamos no próximo passo que tenta definir o destino e provar sua existência: E eu, maluco por nascência, jamais iria definir que um assunto acabou, por mais acabado que poderia ficar. E lá vamos nós novamente... provando o vinho tinto do maktub.

Um dia algo acontecerá...

É muito fácil prever o futuro. Por exemplo, eu digo: "Você vai envelhecer". Isso foi uma previsão do futuro baseada em conhecimento de rotina. Mesmo que acabe morrendo antes da hora e nem chegue a envelhecer, ainda assim é um palpite certeiro. Um exemplo bem imbecil, diga-se de passagem, mas o ponto é que isso é meio caminho andado para pensar no destino com outro ponto de vista.

Se levar em consideração o tempo, então o destino deixa ser um simples amontoado de acontecimentos incríveis e inexplicáveis que formam sua história, e passa a ser uma linha universal que envolve a todos de modo único e irrefreável. Mesmo que a ciência hoje já esteja novamente comprovando outra teoria de Einstein, de que o tempo passa diferente de acordo com a velocidade em que se move.

Bom, voltando ao assunto: O tempo é capaz de fazer você perceber o quanto as coisas aconteceram e levaram você até o ponto atual. E ali, nesse ponto, é fácil aplicar as coincidências dizendo: "Tudo o que aconteceu tinha que ser assim", simplesmente porque você só tem a referência do momento da vida atual, e não é fácil pensar no quanto outras coincidências incríveis poderiam ter acontecido se decisões diferentes fossem tomadas ao longo da vida.

Não há aquela bela frase que diz: "A história de nossas vidas é a história de nossas escolhas"? Pois é. E aí, no dia-a-dia nós construímos nossa história, mas só poderemos ter noção da complexidade de tudo ao nosso redor com o passar do tempo, pois é lá na frente que se tem as certezas das coisas que por enquanto hoje são apenas pedaços isolados de uma história em desenvolvimento.

Sendo assim, o contexto sobre destino parece começar a caminhar de modo mais lógico; quando você estiver no topo da montanha e olhar o caminho que percorreu, vai se assustar com o quão longe chegou, e o quanto de coisas aconteceram no meio do caminho que o fizeram chegar lá. E é com essa base que a ideia de "destino" vai parecer mais visível, já que aparentemente você desconsidera que todas as escolhas poderiam ter sido diferentes mas não foram.

Um dia algo aconteceu...

Imagine algum caso de um cidadão que nasceu no meio da pobreza, e no meio de sua adolescência se envolve com drogas e começa a arruinar a vida da família. Então, ele é levado para internação e lá conhece uma bela jovem pela qual tem um romance. Certo dia essa moça recebe uma proposta de trabalho que torna o casal rico, e assim vivem felizes por um longo tempo. Essa história, que é mais comum do que se parece, pode ser considerada como acaso, sorte ou destino?

A resposta depende do ponto de vista, pois se você considera os fatos do inicio ao fim, pode julgar cada evento como um acontecimento de sorte. Mas se considerar os fatos na ordem inversa, e pensar que o cidadão só se tornou rico devido a tudo que passou, então isso pode ser considerado o destino. Ou seja, destino e acaso andam juntos, por mais incoerente que isso possa parecer.

Essas são discussões que podem levar muito tempo, e dificilmente vão mudar o conceito de alguém sobre o que ela já acredita. E isso porque provavelmente todos estão certos e errados ao mesmo tempo, já que a definição disso ou daquilo depende muito do contexto aplicado.








Conclusão

O destino pode aparecer em histórias, porque naturalmente muitas histórias são escritas com ela, mas sob um nome diferente: roteiro. O destino seria o roteiro de nossas vidas previamente escrito? Ou seria a união de acasos, que somados formam o destino? Ou talvez ele seja apenas a consequência de escolhas tomadas hoje, que ao mesmo tempo invalidam o hoje como parte de um destino maior?

Deixa pra lá, é mais fácil apenas considerar sua existência do que argumentá-la. Afinal, não é porque você não é capaz de avançar o tempo e ver o final que ele já não está escrito; imagine só todos aqueles físicos renomados dizendo que a viagem no tempo é possível (por enquanto só ao futuro). Então, qual prova maior do que essa? Einstein com suas teorias da relatividade tentando desmistificar o tempo e criando provas de que o futuro já foi feito, pois do contrário, como seria possível avançar sobre ele? Uma vez que ele já está lá, prontinho, então pode começar a rir da sua vida nesse exato instante: babe com todas as possibilidades de escolhas que pode fazer, e ria pelo simples fato de que todas elas já foram feitas, só que você ainda não viajou no futuro para vê-las.

E agora que já estamos começando uma nova quebra de paradigmas, talvez surjam outros contextos que nem poderíamos imaginar nos dias de hoje. A velocidade do tempo, que parecia ser impossível de ser ultrapassada, já está caindo no conceito do passado, e não duvido nada para que em poucos anos isso se torne coisa de herege, isso se já não for heresia demais ter pensamentos assim hoje em dia.

Não posso deixar de constar aquela resposta memorável de Neo, quando questionando por Morpheus se ele acreditava em Destino. "Não acredito.", ele disse. "Não suporto a ideia de que tenha alguém controlando minha vida".


E agora, será que você não estava destinado a deixar um comentário depois que lesse esse texto?

"O destino não existe, até que você perceba que está dentro dele".


Eu disse que seria um post curto. E de fato, foi curto. Se você não acredita, eu lhe desafio a conhecer alguns posts que eu considero um "pouquinho" maiores clicando nos links abaixo:


Carnaval →  Minhas desilusões do carnaval, neste post anterior.
Karma →  Um bom complemento (com vídeo) sobre esse tema
Sobre o Tempo Falando sobre destino, lembrei-me do tempo
Imortalidade Se não liga para o destino, então vire imortal.

4 comentários:

  1. Bom, vamos lá...

    Primeiro precisamos definir o que significa exatamente a palavra destino xD

    Pra mim, destino é a consequência de um presente no futuro, como por exemplo dar uma boneca Barbie a uma criança de três anos de idade, o destino da boneca será ser desmontada e destruída.

    Levando em conta o Livre Arbítrio, não há a possibilidade de o destino ser algo imposto, portanto, que exista previamente ao seu acontecimento, porque se assim fosse, seríamos meros marionetes na mão de um roteirista sarcástico, no que eu não acredito.

    Enfim, "há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia", no entanto, é por demasia difícil e complicado determinar um fato ainda não concreto como o destino. O acaso é simples, simplesmente acontece, mas o destino não, ele é mutável e indescritível se não por meio da leitura de atitudes óbvias.

    É o que eu penso xD
    Mas levando em conta que ainda não dormi, posso ter dito uma ou duas coisas desconsideráveis xD

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  2. Opa, valeu pelo Comentário! Se bem que... er... não sei se compreendi totalmente rs

    Quero dizer, entendi a ideia no geral, que é mais ou menos como eu penso: o acaso é algo mais corriqueiro, e o destino mais complexo...

    bom, é isso, acho que pela primeira vez concordamos em algo, e dessa vez não farei um comentário gigante rs

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  3. Pra mim, esse negócio de destino ou acaso ainda é um mistério.
    O primeiro livro que li (com gosto, diga-se de passagem, porque antes dele eu só lia livros impostos por professores) se chamava "O Passado Esteve Aqui", é um livro juvenil, mas que reflete muito bem a sua postagem. No livro mostra várias coincidências que acontecem com um rapaz. Ele viaja para o futuro através do flash da máquina fotográfica, mas antes ele havia visto o amor de sua vida numa ponte. Quando ele chega no futuro ele acaba encontrando sem querer uma moça que era sua sobrinha ou algo assim e ela sem saber que eram parentes o ajuda a descobrir o que aconteceu com a moça da ponte. Nessa descoberta, ele percebe que já havia passado 70 anos e que ele já estava morto, não só ele, mas também a moça, que morreu muito jovem, só que como ele fez essa "viagem", parte de sua vida havia desaparecido, e não tinha mais nenhum dado sobre onde ele havia estado durante os últimos anos de sua vida e, que se ele não voltasse para o passado, ele jamais conheceria a moça da ponte.

    Então, eu acredito que a gente pode sim mudar o nosso destino. Pode até ser que ele já esteja mesmo escrito. É como aqueles filmes de aventura, onde existem vários caminhos pra seguir: direita, esquerda ou centro. Todos esses caminhos já estão escritos, dependendo do caminho que você escolher, você pode se dar bem ou se dar mal, ou talvez um meio termo. Você só vai saber se fez uma boa escolha quando chegar no final de tal caminho.

    Quando eu olho pra trás, eu percebo que muitas das minhas escolhas ou até escolhas que meus pais fizeram por mim quando eu era criança não foram muito boas. Daí eu fico imaginando como seria a minha vida se eu não tivesse mudado de cidade. Se eu tivesse continuado na mesma escola, com os mesmos amigos. Talvez hoje eu não seria uma pessoa tão indecisa com relação a carreira e etc. Talvez hoje eu já tivesse uma carreira definida, a vida feita. Se eu tivesse uma máquina do tempo, eu faria tudo diferente, eu reescreveria a minha história, com certeza (e faria com que meus pais reescrevessem a deles rsrs). Bom, mas como eu não tenho, eu tento olhar mais para o presente e escolher melhor à partir do agora...

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  4. Parece interessante esse livro que citou. ^^
    Na verdade eu acho que esses livros juvenis são ótimos no quesito de serem mais diretos (não sei se é o caso desse, mas estou pressupondo).

    E aí ao ser mais direto e simplificar as coisas, até mesmo um assunto tão complexo quanto o Destino pode ficar mais fácil de ser debatido... Ou talvez apenas ajude a dar mais nós na cabeça por carecer de mais respostas... rsrs

    Enfim, falar sobre o acaso e destino é fabuloso, principalmente porque nos permite viajar no tempo e vislumbrar com tantas oportunidades e escolhas erguidas em cada fase da vida.

    Obrigado pelo Comment =)

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