terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Corrida dos Ratos [3] - Consumismo


Chega o incio do ano. Chega o fim das férias. Chega o peso aumentado na balança. Chega uma conta para pagar. Chegam duas contas para pagar, e só isso daí pra frente. Assim sendo, como já é quase minha tradição nesse blog, não tem como passar janeiro sem mergulhar no assunto mais irresoluto de todos: dinheiro. Vou seguir aqui com a parte 3 sobre a corrida dos ratos, colocando em pauta o que penso do consumismo e sua fiel ligação com a sociedade rica e pobre em que vivemos.

Pobres Ricos e Miseráveis

Meu primeiro ponto é tentar entender, de modo definitivo, quando alguém é rico e quando é pobre, porque aparentemente o mundo se divide só entre esses dois tipos. Seja em conversas coloquiais, em churrasquinhos na laje (tipicamente coisa de pobre?), na midia ou pela internet aqueles banners virulantes dizendo: "Fique Rico dormindo!". Então, o que raios define alguém como sendo rico ou pobre, se mesmo para um rico o Bill Gates o faz parecer pobre, e para um pobre, o vizinho mais pobre o faz parecer rico?

É lógico que daria para encerrar toda a discussão dizendo: "Pontos de Vista". É lógico que daria para aplicar aquela coisa da grama do vizinho que é mais verde, porque tudo o que fazemos precisa partir de algum referencial. Isso reforça o belíssimo e impactante  Paradoxo da Escolha, que diz que quanto mais opções temos para avaliar, pior se torna nossa satisfação em torno do que decidimos.

Dessa forma, quando uma pessoa diz que a outra é rica ou pobre, na verdade ela está colocando um plano de comparação entre ela e o outro. Afinal de contas, basta olhar algumas fotos chocantes das crianças passando fome na África para que você perceba o quanto é absolutamente milionário e sortudo. Do mesmo modo, mesmo para aquelas pessoas que estão quase se decompondo vivas por não ter o que comer, ela é ainda é capaz de sentir melhor do que outra na mesma situação que já acabou morrendo por falta de alimento.

Claro que modelos matemáticos também são excelentes formas de criar esse parâmetro de comparação e dizer quem é quem. Pode-se pegar o PIB do país, que serve como comparação com o PIB de todos os outros países para dizer quem é o mais risco e o mais pobre e quem está ali no meio termo.

Padrão Consumista




Parte dessa dúvida irrelevante está muito relacionada ao fator de necessidade, e então acredito que as pessoas vão se tornando mais pobres ou mais ricas na medida em que seus sonhos e condições de realização dos sonhos se modificam.

Um exemplo prático: Imagine um Zé Mané que está solteiro e leva um estilo de vida bem previsível: casualmente sai com os amigos para se divertir num shopping, aluga alguns filmes para assistir em casa com a família e almoça fora de casa uma vez por mês.

Um padrão de vida como o do Zé Mané pode ser mantido com pouco dinheiro, e se o que ele receber no seu emprego for mais do que suficiente para suprir essas necessidades, então ele é Rico. E esse mesmo cara poderia ser considerado podre de rico se nem soubesse mais onde gastar seu dinheiro.

Mas é claro que estamos falando de um Zé Mané que consegue ser feliz só com os consumos básicos. Na prática, os consumos básicos nunca são suficientes porque vivemos através de uma imagem de riqueza que tenta nos convencer que essa riqueza sempre está lá fora, em algum lugar distante de nós. E obviamente, um Zé Mané não vive sozinho no planeta, e com isso, todas as aquisições das pessoas ao seu redor o tornam mais pobre à medida em que o mercado oferece mais opções de consumo diferentes.

É como se a felicidade e o modo "certo" de viver consistisse em você ter que possuir tudo o que inventam por aí. Celulares, roupas da moda, acessórios... Quanto mais coisa se inventa para você consumir, mais seus desejos pelo dinheiro se tornam necessários, e pela consequência óbvia, mais você se torna pobre se não conseguir acompanhar tudo isso, que na sua cabeça é uma necessidade, mesmo que na realidade não seja.

As tendências de moda falam para o tal Zé Mané do exemplo, que se ele não se vestir com roupas de marca ele não terá uma boa aparência. Se ele tiver que andar de transporte público então ele não tem dignidade. Se seu celular não é o novo modelo lançado recentemente então ele não pode fazer ligações melhores. Infelizmente a vida trás esses valores constantes dizendo que a felicidade só existe através do consumo incessante de tudo.

Quanto mais coisas se agregam ao seu desejo de posse, mais pobre você fica, e a única solução para resolver esse problema é conseguindo mais dinheiro. E aí o dinheiro já lhe transformou completamente, porque é como se sua vida só pudesse ser perfeita se o dinheiro estivesse em mãos. Preparado para a grande desilusão? Pois é, infelizmente a vida só pode ser perfeita através do dinheiro, porque uma vez que você cria seus valores e conceitos dentro de um sistema financeiro, eles não podem ser simplesmente mudados, porque a partir de então o movimento de tudo - incluindo o seu - é devido ao maldito dinheiro.

Conclusão


Sabe esse Zé Mané do começo da história? Pois é, imagine agora que ele está trabalhando dobrado e fazendo bicos para aumentar sua renda. Com mais dinheiro ele é capaz de consumir mais e, em teoria ser mais feliz. Mas chegará um momento em que ele estará exausto e não saberá mais como fazer para ter mais coisas que a mídia sociedade está lhe impondo e ele não pode comprar.

Antes que isso termine numa história triste, vamos lembrar que a vida não para e que as coisas não se movem tão somente pelos cifrões. Está no contrato social das pessoas que elas devem se casar um dia, ter filhos, uma casa para morar, um carro para garantir o conforto da locomoção e ainda dinheiro de sobra para o lazer dentro de um parque ou numa viagem inusitada nas férias.

Por isso o Zé Mané irá atrás de créditos bancários, empréstimos atrativos e dívidas que o farão se sentir mais capazes de conseguir ter posse das coisas. Ele irá passar a vida desejando promoções no trabalho e trabalhos melhores. O curso natural da vida lhe dará oportunidades para tudo isso, mas sabe o que estará presente no fim?

Zé Mané continua sendo um Zé Mané. Suas dívidas puxarão mais dívidas e ele entrará na chamada "Corrida dos Ratos", onde há milhares de outros como ele lutando pela sobrevivência financeira.

Eu já falei dessa corrida em dois posts, que você pode ler (se tiver paciência) clicando aqui e depois aqui. É claro que não são todas as pessoas que estão nessa corrida; sempre existirão aqueles que naturalmente conseguirão acumular recursos, poupar o que ganha e finalmente, conseguir estar fora dessa corrida da qual ninguém gostaria, por livre vontade, entrar.


Falar de dinheiro sempre é algo complicado, e algumas pessoas até o chegam a considerar um assunto tabu. Isso porque ele é o a mais bela explicação sobre o mal de um mundo em que o conceito do bem se aplica superficialmente graças ao ouro que se tem.

Retrospectiva Pessoal 2012 → Post Anterior sobre o Fim de Ano
Entrando na Rat Race → O momento em que se entra
Compreendendo a Rat Race → O momento em que se desespera
Censura Capitalista → O que penso do capitalismo
Mais um post chato para a coleção. E como sempre, chato e longo, para que não tenha do que reclamar.

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