sábado, 26 de janeiro de 2013

Temperando Palavras

Uma das coisas que eu não entendia em meu antigo trabalho, era o uso interativo da internet. Consistia em mandar um e-mail para um cliente, e em seguida, ligar para o cliente perguntando se o mesmo recebeu tal e-mail e assim explicar o que havia acabado de enviar. Certa vez que questionei sobre isso, a resposta que obtive foi muito simples: "O texto por si só é frio. Você tem que ligar para fortalecer o vínculo entre você e o cliente". Eu discordei, mas compreendi os motivos. Textos formais são muito sérios, e dificilmente farão alguém ficar muito feliz em recebê-los. Sem contar que há o fato de interpretação, que diante de palavras, você nunca saberá se a mensagem foi bem compreendida ou não. Por isso nenhum processo de comunicação será mais eficaz do que aquele que acontece ao vivo, em carne e osso.


A mesma coisa também acontece em reuniões. Com a era de tecnologia, as video-conferências parecem ser melhores, mais rápidas e produtivas do que reuniões presenciais, mas mesmo assim, existem clientes que exigirão sua aparição existencial. Isso prova que o problema não é a frieza dos textos, mas a frieza da tecnologia em um todo. Mas até aqui estou falando de uma relação mais empresarial da coisa, onde muitos desses clientes nem chega a ter muita afeição com a internet. Talvez para a geração Z os encontros presenciais sejam inúteis, mas por enquanto, acredito que ainda não seja. Vivemos na Matrix, mas saímos dela de vez em quando. No futuro talvez não...

Mesmo que o uso dos hologramas já fossem normais nos dias de hoje, ainda assim isso não substituiria um encontro presencial, não importa o quão realistas tais hologramas fossem. Claro que isso é só uma suposição barata minha, já que não tem como testar isso até que tenha-se casos práticos de comprovação. Tudo bem que robôs já dominam a Coréia e as smarthouses venham ganhando cada vez mais adeptos no Japão, mas mesmo assim... Falar com um holograma a la StarWars parece-me muito... StarWars. Ok, eu gostei disso.

Na vida real, seres humanos conversam. E a conversa só é a nirvana da comunicação porque ela é falada. Pelo menos generalizando as coisas, a troca de sons sempre foi mais importante do que uma simples troca de textos. Se você não pode encontrar uma pessoa, então o telefone é o segundo caminho mais próximo da comunicação. E depois disso, temos os chats pela internet. Há quem apareça aqui dizendo que a troca de olhares supera tudo, mas deixemos a romancialização dos fatos para algum outro post. Você não pode discutir sobre as eleições políticas só trocando olhares com alguém.


Estágios da Comunicação

1) Mensagem anônima
Aqui eu vou colocar o e-mail como grande fonte de mensagens anônimas, embora  só funcione melhor quando você recebe um texto e além de desconhecer o autor, também desconhece o sexo, idade, cor e qualquer outra informação de identificação. Nesse caso, sua resposta para uma mensagem anônima tenderá a ser mais clara e objetiva, a fim de concluir o assunto. Claro que dependendo do conteúdo da mensagens algumas tentarão avançar um novo estágio na comunicação e aqui consiste no chat por texto.

2) Mensagem Instantânea
Durante o auge das salas de bate-papo, era incrível poder entrar na internet e conversar com pessoas apenas enviando e interpretando textos e abreviações. Antes eu adorava esse tipo de conversa, porque me permitia pensar melhor no que responder, e dava um tempo hábil para parecer mais inteligente e menos tímido do que na vida real. Assim, as mensagens instantâneas são ótimas porque servem como máscaras, e justamente por servirem como máscaras é que não são confiáveis. E aqui entramos em um próximo estágio mais confiável da comunicação.

3) Telefonemas
Não vou considerar apenas o telefonema em si, mas também as conversas de áudio por qualquer comunicador instantâneo. Poder trocar palavras e voz é um passo muito importante para comunicação, uma vez que diminui suas chances de pensar (e enganar) no que dizer, e lhe forçam a ser mais espontâneo. Isso não significa que mensagens instantâneas ou anônimas não podem ser espontâneas, apenas que a facilidade de estar espontâneo durante o áudio seja maior do que com o chat.

E aqui entra um ponto de discordância do qual me incluo: sou mais verdadeiro em um chat de texto do que numa conversa de áudio, simplesmente porque em uma conversa por áudio eu não consigo dizer o que realmente penso com a mesma facilidade que tenho ao digitar. Mas por outro lado, se nós considerarmos que a vida real não está ali dentro da internet (pelo menos não nessa década), então a forma de como você age na internet ainda é sua versão mais falsa, mesmo que pense que seja a mais real.

4) Vídeo-Conferência
E o mais próximo que chegamos de uma conversa real, face-to-face, é por video-conferência. Pelo menos enquanto não se torna comum e comercializável os hologramas e robôs bio-tecnológicos. Enquanto isso não acontece, a Video-Conferência é o mais próximo que temos da simulação da realidade.

Isso porque aqui você é capaz de criar um arco de observação que consiste na voz, na expressão facial e o que mais melhora sua interpretação real. Detectar uma mentira ou permitir notar toda sentença de palavras não ditas em alguns segundos de espasmo é algo que não substitui as video-conferências de outras formas de comunicação. Na verdade, apenas um tipo substituiria, que seria a comunicação presencial.

5) Carne e Osso
Acredito que no mundo atual ainda não temos nada que substitua uma comunicação com duas ou mais pessoas presentes. A sua percepção se enche com a parcela mais poderosa da realidade e isso é o responsável por tornar qualquer tipo de comunicação em um grau mais baixo que o normal. Eu confesso que minhas conversas mais pessoais se deram pela internet, mas as mais reais, apenas no 'suposto' mundo real.

Conduta Pessoal

Agora é fato que toda a conversa só flui se a mente dos envolvidos estiver na mesma sintonia de objetivo. Alguém que está envolvido numa briga de trânsito não vai ter como discutir equações álgebras com você enquanto sua cabeça não sair do foco atual. E em alguns casos, esse foco atual se estende para muito além de uma simples situação momentânea. Existem pessoas que, durante alguma fase da vida, detestam determinado tipo de coisa, e qualquer conversa com ela envolvendo essas coisas constatará em algo pouco produtivo.

Eu também penso que algo similar acontece quando estamos chateados por qualquer motivo. Quando algo nos aborrece profundamente, o mundo em si parece perder seu brilho, e a percepção que temos da vida muda completamente. É aquela velha história de você dar bom dia para alguém que está de mau humor. Ele responderá: "Bom dia, porquê?", e na sua percepção destorcida do mundo, seu negativismo vai influenciar todas as conversas que surgirem naquele momento.

A comunicação é o que levou a raça humana evoluir. Mas até hoje ainda não sei como isso foi possível.

Já dizia aquela frase que todo mundo já disse: "Existem três coisas que nunca voltam atrás: A flecha lançada, a palavra que foi dita e a oportunidade perdida". Uma vez que poucos de nós andamos com um arco e flechas nas costas, então é sábio ponderar muito bem todas as nossas palavras, afinal, serão delas que virão as oportunidades que - certamente - também são perdidas muitas vezes por algumas palavras que foram ditas sem serem temperadas.

O Cético Crente [1] → Post anterior sobre religião.
O que é a felicidade? → Seja feliz e torne suas palavras mais alegres.
Amizade Mutável → Talvez seu círculo de amizades mude, então se previna antes.
Karma, você tem carma → Uma ideia simples de como funcionaria o karma (com vídeo)
Censura Capitalista → Está sem dinheiro? Pergunte-me como.
Você pode dizer para alguém que o ama ou que o odeia. Sabe o que muda? Tudo. Talvez, dizer que odeia alguém o amando te fará criar motivos para odiá-lo, e vice-versa. Então fale, mas por favor, aja de acordo com o que fala, antes que morra pelo ócio de não agir.

Um comentário:

  1. Nossa, dei risada em várias partes kkkkkkk, recentemente tenho tido muito essa experiência de conversar em chats, antes era ou pessoalmente, ou por telefone ou via e-mail que demorava mais pra enviar ou receber uma mensagem de um amigo e dava muito mais tempo para pensar no que ia dizer. Mas em chats a interação é muito mais rápida e eu considero que até mais espontânea que por e-mail que dava tempo para pensar, pois nos chats tem aquela coisa da pessoa estar visualizando que você está digitando. Mas também como você disse a pessoa que está conversando com você tem que estar na mesma sintonia de pensamento e eu acho que isso vale para todos os meios de comunicação, seja presencial ou pela internet. Se você não tem nenhum tipo de afinidade com tal pessoa, a internet não vai ajudar em absolutamente nada, não vai haver assunto. Por isso acredito que tanto na "vida real" como na "vida virtual" o que conta mesmo na realidade é a afinidade, se você tiver afinidade com a pessoa que você estiver conversando, você vai conseguir ser espontâneo e nem vai precisar pensar muito pra falar ou digitar, a coisa vai simplesmente fluir naturalmente.

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