sábado, 9 de março de 2013

Conspirando contra RFIDs


E então, muito em breve, todas as pessoas serão obrigadas a ter um chip instalado em seu corpo para diversos fins de monitoramento. Para alguns religiosos, o prenúncio do apocalipse, para alguns curiosos, uma nova era da tecnologia, e para quem pesquisa um pouco, somente mais um hoax. Será?


A Mensagem Original



A mensagem original que eu vi foi essa, e aí que me deparo com a primeira incongruência sobre o uso de tal tecnologia RIFD, onde o autor queria provavelmente dizer RFID, ou seja, Identificação por Radio Frequência. Associar isso como se fosse algo completamente novo e assustador é um erro, visto que essa tecnologia é muito mais comum do que se parece. Já é utilizada por exemplo, para monitorar animais e obter informações de seus meios de vida para diversas utilidades e pesquisas científicas posteriores. Também é provável que muitas pessoas já carreguem consigo o mesmo tipo de sistema em alguns cartões de crédito, em certas peças de roupas e até em certos cigarros. Nem preciso comentar nada dos celulares, né? E também nem vou falar das vantagens, mas deixo um link aqui dentre muitos que existem em qualquer googlada sobre o assunto.

Eu me senti na obrigação de falar sobre o RFID porque eu mesmo já cogitei, em meu trabalho, da facilidade que se teria em conseguir dados estatísticos de usuários e clientes caso os mesmos tivessem um identificador, que dada a suas características e comportamentos, uma página fosse apresentada para melhorar sua experiência de navegação. Ops, eu acabo de me lembrar que isso não é nenhuma novidade, pois existem vários aplicativos para celular que já se baseiam nessa premissa. Mas antes de eu mencionar um pouco sobre essa realidade que já existe, eu preciso fazer mais alguns pequenos comentários sobre a tal conspiração envolvendo os chips.

O Lado Bíblico

Desde que eu me conheço por gente, o mundo parece viver em guerra com o polo científico e o polo religioso. E como é esperado de se notar, geralmente vemos que a religião presta apoio a ciência quando a mesma corrobora alguma informação bíblica, ou quando o número de evidências científicas se torna impossível de ser contestada. Mas, o foco desse post, é principalmente no que a mensagem falando sobre o implante dos chips tenta passar.

A conspiração surge porque, em alguma interpretação da bíblia, é dito que um sinal do fim dos tempos é o implante de chips. A primeira vez que escutei falar sobre isso, foi na época da faculdade, divagando sobre um site de um colega de classe. E aí, haveria uma crença de que a salvação estaria em quem não tivesse esses chips implantados. Basta apenas uma informação simples surgir para que toda conspiração, manifestos, falsas divulgações e intrigas acometam os mais fervorosos.

O Lado Científico

A tecnologia é uma das coisas que está presente em todas as ciências, de modo a automatizar e trazer progresso em muitos campos. Sendo assim, de um modo geral, a tecnologia é algo muito bom. É óbvio que coisas boas podem ser usadas tanto para o bem quanto para o mal, como equipamentos médicos de um lado e armamentos de guerra em outro. E o ponto que eu quero chegar aqui, é que um simples chip implantado no corpo é capaz de levar a mente humana para esses dois opostos de um segundo para o outro.

Vamos supor que a finalidade do RFID seja apenas monitorar hipertensão, batimentos cardíacos e o nível de glicose do sangue e avisar para o portador por meio de seu celular tais níveis. Isso seria algo útil, importante e certamente poderia ser considerado um avanço tecnológico bom, certo? Sim, mas aí vão surgir pessoas que, por desconhecerem o funcionamento daquele implante, vão levantar milhares de questionamentos. Questionarão se há conexão com a internet que leve seus dados para o governo, vão questionar se outras informações de privacidade estão sendo compartilhadas, e mais um monte de coisas. E aí, a tecnologia fica parada, mesmo que seja muito boa e apenas trará vantagens, há uma preocupação e medo que atrasam um pouco tudo isso.

Mas não estou dizendo que essas preocupações são ilegítimas, porque não são. Uma vez que o chip que está no seu corpo não foi criado por você, e seus conhecimentos atuais não permitem reconhecer a fundo o que está de fato programado ali, então o questionamento é muito importante. Só para lembrar, teve até o caso de algumas impressoras que registravam tudo aquilo que estava sendo impresso em uma espécie de cartão de memória interno, e com uma simples rede wifi ativada era possível recolher esses dados sem autorização do usuário. Mas aí a questão de privacidade já vai para outro lugar; defender o direito pela privacidade é muito diferente de criticar uma tecnologia alegando ela ser demoníaca.

Conclusão

Eu juro que quando comecei a escrever esse post, eu estava em mais uma daquelas desilusões envolvendo falácias da tecnologia. Mas acho que nada mais sútil do que terminar o texto com as três leis que Arthur Clarke disse, e que eu já postei em algum outro post perdido por aqui...
  1. Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é possível, é quase certeza que tem razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado.
  2. O único caminho para desvendar os limites do possível é aventurar-se um pouco além dele, adentrando o impossível.
  3. Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia.

Agora se depois depois de tudo, ainda houver medo sobre tudo isso, então pode se tranquilizar porque a mensagem é apenas um boato. Clique aqui se quiser poupar o trabalho de pesquisar, mas está em inglês. Ou seja, por favor, fique a vontade para pesquisar sobre o assunto e chegar as próprias conclusões.
Esse foi um post relativamente curto, pois quando eu pensei em escrevê-lo, eu juro que achei que iria ter muito o que falar sobre o RFID em si. Mas aí, descobri que é muito fácil uma pesquisa pelo google do que num artigo qualquer de um blog sobre desilusões. Então, para provar sua revolta sobre a superficialidade desse assunto, que tal deixar um comentário?

Inception → Post anterior onde eu apenas falo de um sonho que tive. Ou não.
Temperando Palavras → Será que podemos falar tudo o que queremos?
O cético crente [1] dividindo lados → Para falar algo de religião aqui
Conto: A Arca Perdida → Apenas um conto bem antigo de uma era desiludida
Repetindo: "Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia." - (Arthur Clarke)

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