quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Trabalho Desmotivacional

Esse é um post pessoal, falando sobre troca de trabalho e coisas de pouca importância. Ou seja, esse é um post que não vale a pena ser lido.


Prelúdio

Às vezes, ou quase sempre, é constrangedor quando você conversa sobre trabalho com alguém muito mais velho que você. Normalmente eles vão dizer, e com certa razão, coisas que farão você parecer um preguiçoso de marca maior.

"Ah, porque eu comecei a trabalhar com 14 anos", dizem vários deles.
"Ah, porque eram 48 horas de trabalho", insistem vários deles.
"Ah, porque não tinha essas mordomias disso e daquilo. Opções de transporte? E-mail? Esqueça".

No final de uma conversa dessas, a impressão que fica é que você vive em uma era de ouro, completamente fantástica e cheia de regalias. Mas a impressão é falsa, já que se hoje existe o tal do stress e a loucura mental, provavelmente é porque as diferenças entre uma época e outra não carecem de comparações. Cada qual com seus prós e contras.

Meu foco nesse post não é fazer nada muito reflexivo sobre o tempo ou as mudanças de comportamento causadas pelas influências do convívio trabalhista. Como eu disse, é apenas um post pessoal, e apenas relata minha última experiência nesse âmbito profissional.

A Morte da Motivação

Havia entrado finalmente em um emprego, e ostentava a carteirinha premiada de um cidadão de bem. Era tão chique estufar o peito para dizer que estava trabalhando que até meu ego se perdia nessas constatações. Queria ser o primeiro a chegar e o último a sair, fingia que tinha esquecido meu horário para trabalhar até mais tarde sem me preocupar com salário. Essa alegria, provavelmente vinha devido a sensação de estar sendo útil no mundo. Poder fazer alguma coisa que sabe, ou que não sabe mas que pode aprender, e ver ao redor o efeito de que seu trabalho foi aproveitado.

Todo o estupor inicial demorou alguns meses, mas ao invés de simplesmente desaparecer, ele foi dando indícios de que é quase impossível se contentar com tudo. Um salário ineficaz a cobrir as despesas da censura capitalista me fizeram refletir que ter um emprego não era tudo. Depois alia-se a rotina imutável, o trajeto da corrida dos ratos e as observações de detalhes ao meu redor que no início eu não tinha tempo de observar.

Era um trabalho solitário. Oito horas na frente do computador - e por um tempo sem ver a luz do dia, nem saber se ainda era dia lá fora. Nas vezes que eu saía do escritório para andar pela rua no horário de almoço era a sensação mais renovadora que eu tinha; sentir o calor do sol, ver pessoas andando nas ruas e o barulho dos carros me traziam uma parte minha de volta à liberdade. Sabe aquela coisa de dar valor as coisas simples da vida? Só se privando delas por um tempo pra eu sentir o efeito prático disso. Um momento indescritível. Ao mesmo tempo, quando eu voltava para as quatro paredes sólidas, tudo se fechava novamente... Provavelmente isso foi o grande responsável por contribuir com minha alienação, e mesmo as válvulas de escape que tinha nas férias eram reduzidas ao nada, como se reduz corpos ao incinerador.

Eu já propus aqui que tudo o que fazemos é um emaranhado de experiências. As novas experiências são as que nós mais prestamos atenção e é a que mais nos desafia e impulsiona ao empenho máximo para aproveitar e aprender tudo o que for possível daquela experiência. E como sempre gera uma mudança na vida de alguém, os primeiros dias em um emprego novo podem muito bem serem comparados com a Corrente da Motivação ou uma Avalanca. Essa mudança é grandiosa e impactante, e então, como um um ex-viciado que volta para as drogas,  um trabalhador pode querer voltar a ser um vagabundo.

E nem sou eu que estou dizendo; isso é constatação de causa. Durante o período que trabalhei para uma mesma agência, eu via alguns estagiários entrarem, e era impressionante a agilidade e eficiência que tinham na primeira semana de serviço. Eu até chegava em casa com um olhar preocupado comentando com meu pai em uma nota de aflição: "Esse estagiário que entrou lá manja muito... As coisas que eu levo semanas para fazer ele faz em poucas horas. Acho que logo logo vou ser mandado embora, porque não consigo acompá-lo".

Meu pai balançava a cabeça, e sem nenhum tipo de análise de conhecimento da pessoa ou do tipo de serviço que ela fazia, ele apenas dizia com toda calma do mundo: "Filho, são só as primeiras semanas. Depois esse estagiário relaxa".
Dito e feito, com uma precisão de duas semanas para que todo o empenho e poder mágico da pessoa mais eficiente do mundo recaísse ao mesmo nível que o meu. E aí, apenas com uma reflexão breve de meu próprio passado, eu também notei como já havia feito aquilo antes; enquanto eu era estagiário minha motivação para viver pelo e para o trabalho eram muitas e muitas vezes maior. Não é atoa que grandes empresas fazem palestras motivacionais para seus funcionários, ou então, criam regalias para mostrar aos trabalhadores que ali é um "ambiente perfeito".

Então, porque será que essa  motivação diminui para muitas pessoas? Para tentar encontrar uma resposta, eu pensei em três fatores razoáveis:

a) Zona de Conforto: Você percebe a segurança de seu trabalho, e se a concorrência pela sua vaga for baixa, então você deixa seu empenho ser apenas o essencial para se manter ali. Daí, quando você entra em uma empresa, você não sabe o potencial das pessoas ao redor, e por isso vai tentar se esforçar para que supere até o mais incrível daqueles que sua mente pressupõe que seja o mais incrível. E daí, quando você nota que a única pessoa que te oferece "riscos" não tem metade do seu empenho atual, então você se rebaixa até ela para evitar gastar "sua energia" sem necessidade.

b) Desilusão: Você pode perceber que o emprego não é tão bom quanto imaginou. Não é aquele seu emprego dos sonhos, e por tanto, naturalmente você se desmotiva. Simples assim. E como eu havia citado, talvez o próprio trabalho crie essas estruturas que lhe desmotivem sem saber; chefes que não tem tempo para dar bom dia ao seus funcionários ou dizer obrigado diante de uma tarefa feita pode ser alguns dos exemplos.

c) Estrutura de Caráter: Você pode diminuir o empenho por uma simples questão de que sua motivação possui um tamanho muito pequeno. Aí não tem jeito, e nem sempre pode ser culpa apenas sua; existem pessoas que não conseguem se fixar em uma rotina, e por isso podem diminuir o empenho de modo proposital para coseguir uma demissão e seus direitos reservados. Ou talvez ainda esteja tentando descobrir o que quer fazer da vida, e enquanto essa certeza não vier, nada daquilo parece gratificante. Enfim, o problema pode não ser o trabalho, e sim o trabalhador.


Limite Break

Mas voltando ao meu #mimimi tradicional... Quando havia decidido que precisava mudar de emprego, o novo choque da realidade me atingia como lanças afiadas; como trocar de emprego, se para conseguir o atual foi tão difícil? É como se eu tivesse desbravado o rio tietê oceanos e tempestades para encontrar uma pedrinha no fundo do mar. A importância do tesouro se torna maior do que o próprio valor do tesouro.

Então meu dilema sobre continuar ou sair do emprego atual ganhou novas reviravoltas. Eu cheguei ao ponto de quase ver o fruto de tudo aquilo que já tinha feito pela empresa desaparecer, durante certa época de crise. Foi esforço e determinação por parte de todos os envolvidos que salvou aquele lugar das ruínas. Ainda assim eu não queria estar lá, mas ainda assim eu também não podia abandonar a quem um dia me estendeu a mão.

Era uma vida infeliz, mas que passou a alimentar a síndrome de Estocolmo. Será que essa síndrome de Estocolmo não era causada pelo fator "zona de conforto"? Talvez fosse isso também, porque ali dentro havia uma certeza de meu emprego, mas fora dali era tudo imprevisível. Havia passado tanto tempo em volta de correntes que não ousava me perguntar se eram mesmo correntes, cordas ou um fio de seda imaginário. E como eu já disse no post sobre as Dúvidas e Certezas, certamente o ser humano é melhor lidando com aquilo que está dentro de sua zona segura com qualquer coisa que desconhece.


Estava trabalhando para três pessoas diferentes, cada uma exigindo de mim um período integral de atenção. Óbviamente, era claro que isso poderia resultar em um fracasso triplo. Mas não me importei, e troquei o resto de tempo que tinha para pensar em mim em troca de pensar neles. Começei a dormir mal, alimentar-me mal e passar quase 17 horas envolvido com algum tipo de trabalho.

A única conclusão disso só me veio meses depois, quando eu percebi que tudo se adapta para nossas escolhas. A vida se adapta de uma forma ou de outra, e não importa onde eu esteja agora, o que importa é pensar mais no presente e deixar de lado as dúvidas que pelejam junto ao futuro.  Trabalho é bom, mas seu excesso leva a loucura. Talvez o excesso de tudo leve a loucura.

E vou ter que bondear uma frase que li no msn de um amigo meu que resume muito de tudo isso:

"Não conheço nenhuma fórmula infalível para obter sucesso, mas uma infalível para fracassar é tentar agradar à todos" (JFK)

Pode apostar que sim.

2 comentários:

  1. Essa é a verdade, quando você conversa com alguém mais velho sobre trabalho é exatamente isso que eles dizem. Eu também estou largando o meu trabalho, desiludido eu também fiquei mas temos que levar isso como experiência. Afinal quem iria adivinhar que ia ser assim.

    Abraços!

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  2. A experiência é sempre o que conta no fim das coisas... Pra mim foi difícil mudar de emprego, mas hoje eu tenho certeza que valeu a pena. È só não deixar que o medo paralise a gente e tudo sempre dá certo =)

    Abraço! E Valeu pelo comentário \o>

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