quarta-feira, 18 de abril de 2012

Contradição do Amor [2] - Sinta ou Suma

Lá vou eu em mais uma saga nesse blog, dessa vez para maquiar mais um paradoxo insano afirmando e contradizendo as coisas ao mesmo tempo. A primeira parte foca a contradição verbal da coisa, a segunda parte coloca em pauta as analogias baratas com sua decisão de amar ou ignorar aquilo que tem pouco valor, seja por dó ou frieza. A terceira parte é só uma analogia animalesca para falar sobre o egocentrismo dessa palavra e a última parte é uma conclusão abstrata disso tudo. Let's go.

Parte 1: Ame ou Mate
Parte 2: Sinta ou Suma
Parte 3: Meu ou Seu
Parte 4: Um ou Dois


Eu escolhi não respirar.

Vamos supor que você não gosta de um tipo de perfume, pois o cheiro te trás alergias e você começa a passar mal sempre que sente aquele cheiro. Se pensarmos na ideia do amor como verbo, então a escolha de amar é possível, embora ela encontre com muitas variáveis em seu caminho. Talvez, ao aceitar que você amará aquele tipo de cheiro, isso assume que você precisará refletir as consequências do que aquele cheiro te causa. Eu poderia usar uma máscara de gás em tempo integral, mas isso anularia o cheiro e então eu o amaria sendo indiferente à sua principal característica. Isso não faz sentido.

Mesmo assim, vou considerar que amar é realmente uma escolha, e que como qualquer escolha, ela nem sempre é imutável, e existem chances de que os problemas coloquem sua decisão em cheque. "Será que eu escolhi errado? Escolhi amar esse perfume, mas eu não gosto dele porque me faz mal".

Consegue perceber o problema dessa afirmação? Você escolheu amar um perfume, cuja característica principal, que era o cheiro, você não pode ignorar. Existem chances de que você aprenda a se acostumar com o cheiro, até de perceber que não era tão ruim assim, mas as alergias, que não são escolhas suas - e sim de seu corpo - continuarão iguais para sempre.

Compreendendo o espaço do ambiente, talvez viver em um lugar mais amplo e ventilado melhore a questão do cheiro e até mesmo diminua um pouco sua alergia. E nesse jogo de escolhas, talvez espirrar ou tossir de vez em quando não seja um fator que prejudique a sua vida, e com isso, a escolha de amar fica incrivelmente mais fácil.

Mas é claro: aqui eu disse sobre amar alguma coisa que não é capaz de te amar de volta. Embora o exemplo de um simples "perfume" possa ser aplicado em várias escalas de nossas vidas, o fato é que se existisse uma possibilidade do amor ser retribuído, então sua escolha ficaria mais fácil. Percebe onde eu quero chegar com isso? Somos capazes de amar, condicional ou incondicionalmente, desde que estejamos dispostos à isso, pois como todo verbo, sua conjugação pode ser feita por qualquer pessoa.

Seria mais fácil, a princípio, escolher não respirar aquele perfume incômodo, eu concordo. Mas, minha reflexão aqui vem para mostrar que diante das coisas que nós temos agora, a escolha de amar pode ser realmente uma questão de escolha, e muito mais fácil do que imagina, já que na maioria das vezes, nem existem alergias e doenças erradicando para dentro de si.


Tá, mas e o sentimento?

Isso é outra coisa, de certa forma diferente mas que caminha lado a lado com essa coisa das escolhas, afinal de contas, mesmo que digam que ninguém escolhe o que quer sentir, muitas pesquisas feitas por aí provam o contrário.

Vou dar um exemplo prático: Certas pessoas, quando estão tristes, acabam procurando se aprofundar em músicas depressivas e racionalizar o quanto tudo é cruel para com elas. Vai me dizer que usar a tristeza para encontrar mais tristeza não foi uma escolha? E os exemplos poderiam ir muito mais além: Sentimos dor diante da perca de um ente querido, e com isso dizemos para nós mesmos que estamos em luto, porque escolhemos reviver a tristeza de modo a nos provar um respeito para aquela situação.

Você sentiria raiva quando alguém te ligasse no meio da noite para te passar um trote? Sim, porque é um estímulo natural, tal qual a dor, mas você escolhe prolongar a raiva quando vai discutir com o infeliz que te passou o trote. Você sente compaixão quando vê alguém indefeso sendo agredido? Talvez sim, mas a escolha de ter compaixão ou se manter frio e ignorar são suas, mesmo que a decisão final te deixe mal depois. São tantos exemplos, mas alguns geralmente parecem estar fora dessa regra. Pois é, parecem.

Já foi comprovado por exemplo, que as pessoas podem bloquear um sentimento aparentemente forte demais quanto a paixão, apenas racionalizando demais sobre ele. Do mesmo modo, podemos ter sentimentos indescritíveis de alegria, como uma piada lembrada no meio de um velório (sabe se lá porque), e rapidamente escolher bloquear isso colocando alguma memória triste no caminho.

Nossa mente lida com todas as emoções e sentimentos que temos em um mesmo pedacinho dentro do cérebro, e é por isso que acredito que todos os sentimentos podem ser controlados, ao menos que você se julgue não ter controle sobre si. Isso é uma questão de treino, de disciplina e a velha palavra mágica: "querer".


Unindo o útil ao agradável


Ao amar alguma coisa, você está deixando um sentimento agradável tomar conta de você, e quanto mais é correspondido, melhor se sente e mais felicidade se agrega em torno de algo ou alguém. Agora o ódio, justamente por ser algo que nos faz mal, dificilmente será duradouro, ao menos que não haja outra escolha. Quando não gostamos de alguma coisa, a tendência posterior ao ódio não é continuar exercendo o ato de odiar, e sim o de abandonar. Por isso dizem que o contrário do amor não é o ódio, e sim o esquecimento. Enquanto você se lembra, você ama. Mas só para deixar claro: estou falando das coisas que você se lembra naturalmente, e não daquelas que precisa forçar a mente para buscar na massa cinzenta perdida as informações daquilo.

Mesmo para coisas inanimadas, como objetos, não é difícil pensar em alguma coisa que você não gostou, e por isso, ao invés de simplesmente ficar se remoendo de desgosto, simplesmente deixou aquilo de lado. Em uma escala muito mais abrangente, o mesmo vale para animais, pessoas e qualquer outro ser vivo.

Você escolhe amar, quer tenha consciência disso ou não. Por exemplo, você  adota um animal de estimação, e logo nos primeiros dias, percebe que ele tem algumas qualidades boas, mas seus defeitos são terríveis. Se você decide que vai amar aquele ser vivo, é porque você está disposto a contornar seus defeitos. Por outro lado, como minha mãe já me disse várias vezes: "Não pense demais, porque depois que se pegar amor ao bichano, nunca mais se volta atrás".

E então, quando você decide amar um cãozinho, por exemplo, ele vai corresponder e te amar de volta, e você sentirá isso, mesmo que nunca troquem uma única palavra ou discussão à respeito. Daí a escolha se renova sempre, e o ciclo torna-se infinito. Claro, claro... novamente é fácil aplicar o conceito de "amor" para um animal ou um objeto, porque a complexidade dos pensamentos envolvidos não se comparam a de um ser humano para outro.

E aqui vamos nós novamente, tentando compreender se amar uma pessoa, seja ela algum familiar, um conhecido ou um bebum passando na rua. Mas isso fica para o próximo post dessa saga, tentando unir o útil ao agradável do que já propus até agora.

Conclusão

Essa é a parte dois, de mais quatros partes envolvendo esse paradoxo sobre o amor. Já falei na parte um sobre a importância de se declarar amar algo ou não. E o pacto mais complexo da vida só pode ser feito se considerarmos os sentimentos. Graças à eles a vida segue em toda sua naturalidade, e graças a eles, naturalmente estamos felizes ou tristes. Em suma, é tentar sentir ou sumir para não mais sentir.


Veja todas as outras partes dessa saga sobre A Contradição do Amor:

Talvez já tenha divagado sobre esse tema do Amor aqui no blog, mas de outras formas. Agora estou tentando entender suas contradições e semelhanças, nos mais diversos aspectos. Se você acha que ele não precisa de comparação alguma, então esqueça isso e veja outros posts perdidos por aqui.

Viagens no tempo sem Rpg →  Post anterior à essa saga melosa.
De onde vem a Angústia → Um post angustiante sobre... er, a agústia
A Corrida dos Ratos [1] → Quer ficar rico? Pergunte-me como...
Amor Escalável Reflexão sobre como passar de nível no amor.

2 comentários:

  1. Amigo >
    É uma ilusão pensar que se ama alguém por causa de suas qualidades. Existe até quem afirme que os defeitos são o tempero, o charme da pessoa amada.

    O amor não se justifica. Ele nasce de dentro pra fora. Não é a outra pessoa que amamos. Nós amamos o amor. A outra pessoa foi uma escolha nossa, para projetarmos nela os nossos sonhos e permitirmos a nós mesmos a oportunidade de sentir amor.

    Aí, abrimos a nossa guarda, fechamos os olhos, porque é pra dentro de nós mesmos que olhamos e, simplesmente, sentimos amor.

    É bom pensar nisso: escolhemos determinada pessoa e, sem nos darmos conta, transferimos pra ela o amor que idealizamos. Passados os momentos de euforia, quando abrimos os olhos, nos vemos diante de uma pessoa real e não a que projetamos.

    Começamos, então, a enxergar as diferenças e a descobrir os defeitos. É comum entrarmos em conflito. É difícil suportar conviver com a realidade, porque não queremos destruir o nosso sonho.

    Colocamos naquela pessoa escolhida por nós a culpa por ela não ser quem nós queríamos que ela fosse. É este um dos motivos das brigas e das separações.

    A DECISÃO É NOSSA

    Depende de nós, da nossa vontade, do nosso cuidado, alimentar cada vez mais o amor, numa atitude construtiva e consciente, cultivando o afeto, relevando as diferenças, decidindo amar a pessoa "amada" do jeito que ela é.
    Podemos transpor os obstáculos, valorizando as qualidades e relevando os defeitos. Surgirá, então, uma outra qualidade de amor, com uma união mais sólida alicerçada na pessoa real e não na fantasia.

    EXISTEM EXCEÇÕES

    Excetua-se, aí, é claro,os distúrbios de caráter, falsidade ideológica ou outras anomalias que tornam a convivência insuportável. Ninguém pode sugerir que se faça o sacrifício de viver ao lado de alguém que nos faça tristeza. Ninguém nasceu pra sofrer. Alimentar um relacionamento deteriorado é masoquismo.

    EFEITO BUMERANGE

    Amar é um exercício constante. Você pode se abrir para o amor, expressando os seus sentimentos em forma de palavras, de gestos, de um sorriso, de um olhar. Faça isso! Experimente sorrir e receberá um sorriso de volta. Ame e deixe-se amar.

    O amor tem a magia e a força de um bumerangue. Você o lança e ele volta pra você. O mundo está cheio de gente que precisa de dar e de receber afeto. Ninguém necessita mais de afeto do que aquele que aparenta ser"seco", "na dele".

    Uma das formas de encontrar a felicidade é buscando o amor. Somente você pode abrir seu coração, cultivar e sustentar este sentimento. Todo o mundo precisa se sentir amado. Todas as pessoas querem ouvir elogios e querem ter certeza de que são importantes.. Porém tão importante quanto as palavras são as atitudes que denotam amor, carinho, bom humor.

    bjus
    Adriana Alves -Psicóloga

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  2. Oi Adriana, valeu pelo comentário =)

    Em resumo, acredito que seja isso mesmo. Mas sempre é complicado falar sobre o amor, porque ele é abstrato. É uma coisa não dá para medir no outro, apenas em nós mesmos.

    Eu sempre acreditei nesse efeito bumerangue, de atrair amor com amor, e todo o foco desses posts vai justamente por aí. Aquela coisa de separar o sentimento em vários pedaços menos para explicar cada um deles. É mais ou menos isso que propus.

    Mas confesso que tem muitas coisas sobre esse assunto que só vou entendo aos poucos, com o passar do tempo, diante de situações e experiências que a vida nos coloca. Para ser sincero, acho que é justamente pelo fato dessas situações serem diferentes para cada um, é que se forma tantas ideias diferente para o mesmo assunto.

    Novamente obrigado pelo comentário!

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