quinta-feira, 19 de abril de 2012

Contradição do Amor [3] - Meu ou Seu

Lá vou eu em mais uma saga nesse blog, dessa vez para maquiar mais um paradoxo insano afirmando e contradizendo as coisas ao mesmo tempo. A primeira parte foca a contradição verbal da coisa, a segunda parte coloca em pauta as analogias baratas com sua decisão de amar ou ignorar aquilo que tem pouco valor, seja por dó ou frieza. A terceira parte é só uma analogia animalesca para falar sobre o egocentrismo dessa palavra e a última parte é uma conclusão abstrata disso tudo. Let's go.

Parte 1: Ame ou Mate
Parte 2: Sinta ou Suma
Parte 3: Meu ou Seu
Parte 4: Um ou Dois

Eros, tu eras (egoismo do amor)

No último post, fui enfático ao criar analogias baratas com perfumes e animais de estimação. Tudo muito belo e agradável, por mais loucura que a princípio possa parecer. Você pode escolher amar uma música, um livro, um filhote de leopardo que caiu no seu quintal. (O.o'?) Enfim, esse poder de escolha é fácil, porque a complexidade é pequena e não evolve a coisa mais estranha do mundo: Fator Humano.

O ser humano, por sua natureza, tende a ser egoísta, preocupado com a sombra do próprio nariz, solidário consigo mesmo e amigo e amante de qualquer coisa que seja de seu próprio interesse. Claro, não vou generalizar tudo, mas já generalizando, o Fator Humano representa muitos defeitos inconcebíveis. E por isso, a escolha é mais difícil do que você falar: "'Eu decido amar minha cama."

Quando você ama uma cama, você ama e pronto. A cama nunca vai te trair. Bom, ela pode até lhe derrubar no chão alguma noite, resmungar, torcer seu pescoço ou coisas assim, mas você pode perdoar a cama e amá-la da mesma forma, afinal de contas, você possui controle pleno sobre ela e assumirá toda a culpa por qualquer traição de um simples móvel do seu quarto. Porém, as pessoas não são como camas, tão pouco representam um ponto de segurança ou vivem para você. Por isso decidir amar alguma pessoa qualquer nem sempre é fácil. Cada pessoa é uma caixinha de surpresas, pronta para te surpreender ou te decepcionar a qualquer segundo. Agora apenas me responda uma coisa, caso um pedacinho da mente ainda esteja fechado: Porque você acha que é muito mais fácil declarar que ama (e realmente amar) qualquer pessoa que possui algum tipo de deficiência ou doença terminal?

 Pois é, o ser humano é um completo imbecil nesse ponto. Amar é uma ação tão simples quanto decidir que vai escovar os dentes, mas mesmo assim, você só a faz se isso não tiver a menor possibilidade de ferir seu egocentrismo inflado. Quanto mais complexa uma pessoa parecer, menor será a sua confiança cedida, e maior a dificuldade em simplesmente decidir que amará e pronto. Agora basta entrar em um hospital de crianças com câncer e pronto, você declara todo o amor por elas que julgou que ninguém mais nesse mundo merecia. Nesse caso, és mais doente do que quem julga estar doente: E o nome dessa doença maldita é Egoísmo Terminal. #Prontofalei.

Ah, claro: Não posso me esquecer da grandiosa diferença que existe entre amar e ter compaixão. Ter compaixão é um sinônimo barato para "ter pena", e por isso, é apenas um sintoma grave dessa doença do Egoísmo. Você pode ter pena de algum animal indefeso, pode ter pena ao assistir um vídeo de alguém sendo bullynado no colégio, mas pronto. Isso acaba aí. Ter dó de uma formiguinha é uma coisa, mas decidir amar algo ou alguém por dó, então isso é deprimente. Quando você sente dó, tudo o que você está fazendo é dizendo a si mesmo de que é melhor e mais capaz do aquilo pelo qual você está com dó. É exatamente como encontrar um tipo de droga que alimente o ego e te puxe para a malevolência do amor.

Não é um mero acaso que faz o amor ser assim tão questionável. Você pode declarar que irá amar alguma coisa porque ela precisa ser amada. Nesse caso, vamos dizer que você resolveu amar por dó. Se essa dó alheia te faz bem, então é natural você achar que tudo está ótimo, e quem te vê de longe talvez pense o mesmo. Quanta desilusão... Se você realmente amasse seu objeto de pena, então seu objetivo seria contribuir para que aquele objeto fosse melhor e evoluísse, ao ponto de dar-lhe tudo o que ela precisa para viver bem e feliz. Afinal de contas, se você apenas demonstra que ama com carinho, mas nada faz para alimentar a evolução das coisas, então eu sinto muito: é um amor tão falso e traiçoeiro quanto o que tem de si próprio.

Leão, pra que te quero

É complicado. Você pode pegar um filhote de leão e cuidar dele com todo seu amor, e com isso, fazer aquele animal crescer forte e saudável. Quando ele crescer, ainda assim será um leão, ainda assim poderá sentir forme, ainda assim poderá estar num dia de mal humor e querer brigar com você; afinal de contas, quando se ama as brigas são inevitáveis (discordo, mas dizem que são, então vamos considerar que são). O aprendiz supera seu mestre, e o leão, mesmo não querendo brigar contigo, ou mesmo que ele tente fazer isso do modo mais sútil possível, a falta de controle dele poderá te matar. E aí, quem arriscará dizer que o leão estava errado em brigar, se desde o começo todos sabiam que ele é um leão, e que ele poderia fazer isso um dia? Quem poderá dizer que nunca existiu amor entre eles, só por serem tão diferentes?

Vou dar minha resposta de livre interpretação: A culpa foi do leão. Quem criou o leão realmente declarou todo o seu amor e fez a coisa certa, pois cedeu inteiramente em pról de tornar o outro melhor do que ele e mais capaz. E como o amor é uma ação, pouco importaria se fosse recíproco, afinal de contas, amar é uma decisão sua. Então por isso o leão foi o culpado? Ele nem queria aquilo, pra falar a verdade... Pois é, o leão foi o culpado não porque matou quem tanto amava, e tão pouco porque deixou-se guiar pelo instinto; O leão foi culpado porque ele não compreendeu a sua posição diante do outro. Se ele tivesse compreendido a sua posição, então ele saberia que se um dia ficasse nervoso e seguisse um instinto, então poderia matar aquele que o amava, mesmo sem querer. Caberia ao leão saber disso e se afastar justamente porque amava.

Por outro lado, também é fácil inocentar o leão se considerar que todo amor pleno exige sacrifícios. O leão poderia querer ter ido embora para evitar uma tragédia que talvez nunca ocorresse, mas o homem que lhe cuidou desde filhote poderia ficar tão deprimido com isso que morresse de tristeza. Num jogo cruel de decisões imutáveis, não se pode simplesmente jogar a culpa para o alto e esperar ela cair sobre alguém. Amar é exatamente isso: você declara que não há culpados para as suas ou pelas decisões alheias. Nada é meu ou seu, é nosso.

Nessa fábula simples, estamos considerando espécies muito diferentes entre si. Um leão não teria toda a complexidade de pensamentos de um homem, e por isso, caberia ao homem uma parcela maior da responsabilidade em sua decisão de amar. Pois é, você pode decidir que amará qualquer coisa, mas tenha em mente de que essa é uma responsabilidade só sua. É exatamente a mesma coisa que já disse lá atrás de abraçar sua cama e colocá-la num altar dourado; a responsabilidade é sua se a cama te trair, o que evidentemente será difícil de acontecer. E então, caso decida amar alguém parecido com você, um ser humano que tem muitas coisas em comum contigo, então a responsabilidade em relevar defeitos e encontrar os melhores caminhos na construção dessa história também são apenas suas. Se decidir amar um leão, a responsabilidade continua sendo exclusivamente sua. Afinal de contas, como é muito óbvio, tudo o que é feito gera consequências, e aceitar as consequências faz parte da evolução pessoal de todos nós. Para dar um outro salto ainda maior nessa evolução, então tente elevar as doses de compreensão sobre tudo; coloque-se no lugar do outro e busque o lado positivo da compreensão.

Não será fácil buscar a compreensão alheia, simplesmente porque ninguém é capaz de compreender alguém como se compreende uma pintura de Picasso. Na falta de respostas é muito mais fácil sua compreensão falhar e você imaginar coisas erradas e distorcer a realidade de modo negativo. Aliás, por experiência própria, sempre temos a tendência a distorcer a realidade para o pior modo possível, mesmo quando somos otimistas.

Um otimista diria: "vamos ressuscitar o homem morto pelos leões, pois agora o leão foi embora". Um pessimista diria: "o amor é uma droga mesmo. Que o leão ame uma leoa manca e morra de fome". Não importa o que se pense sobre o assunto, você apenas está inventando motivos que muitas vezes são completamente ilusórios. E quando digo que isso tenderá a seguir o pior modo possível, é porque muitas vezes acreditamos nessa falsa ideia que plantamos na própria cabeça. Ou seja, fingimos que acreditamos no que parece ser o mais certo com base em nossa própria experiência. Tomamos decisões que achamos valer para outra pessoa, quando na verdade só valem para nós mesmos em nossa ignorância de achar que compreendemos um palmo além do nariz.

Como era aquela música mesmo? Ah claro, lembrei-me: "E assim caminha a humanidade". O que resta agora é dançar.

Conclusão

Essa é a parte três, de um total de quatros partes envolvendo esse paradoxo sobre o amor. Já andei propondo na primeira parte o porque amar é algo simples, uma vez que parte de nós mesmos em uma essência mais pura e verdadeira.  Na segunda parte eu tentei encontrar um espaço para encaixar o sentimento em analogias simples. Mas precisava dessa parte para colocar em pauta a grande diferença do fator humano na história. E finalmente, a conclusão dessa saga fica por conta da parte 4.


Veja todas as outras partes dessa saga sobre A Contradição do Amor:

Talvez já tenha divagado sobre esse tema do Amor aqui no blog, mas de outras formas. Agora estou tentando entender suas contradições e semelhanças, nos mais diversos aspectos. Se você acha que ele não precisa de comparação alguma, então esqueça isso e veja outros posts perdidos por aqui.

Viagens no tempo sem Rpg →  Post anterior à essa saga melosa.
De onde vem a Angústia → Um post angustiante sobre... er, a agústia
A Corrida dos Ratos [1] → Quer ficar rico? Pergunte-me como...
Amor Escalável Reflexão sobre como passar de nível no amor.

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