sexta-feira, 20 de abril de 2012

Contradição do Amor [4] - Um ou Dois

Lá vou eu em mais uma saga nesse blog, dessa vez para maquiar mais um paradoxo insano afirmando e contradizendo as coisas ao mesmo tempo. A primeira parte foca a contradição verbal da coisa, a segunda parte coloca em pauta as analogias baratas com sua decisão de amar ou ignorar aquilo que tem pouco valor, seja por dó ou frieza. A terceira parte é só uma analogia animalesca para falar sobre o egocentrismo dessa palavra e a última parte é uma conclusão abstrata disso tudo. Let's go.

Parte 1: Ame ou Mate
Parte 2: Sinta ou Suma
Parte 3: Meu ou Seu
Parte 4: Um ou Dois

Amando Bebes ou Crianças

Primeiramente, eu queria começar com um exemplo, para tentar encontrar um ponto de partida.
Imagine um bebê, ou uma criança que aparece de modo inesperado na sua vida, seja encontrado em uma cesta, fruto de acidentes irracionais ou baixada pela internet. Essa criatura, com suas feições indefesas, olhos grandes e chamativos, vão contribuir para que por instinto, a sua escolha de amá-la aconteça mais fácil, geralmente de modo inconsciente.

Então, querendo ou não, você decide amá-la, e exatamente como um animal de estimação, essa criança irá crescer. Dará trabalho, te fará passar raiva e ainda conseguirá mostrar defeitos que você juraria serem impossíveis de existir. Pois é, mas uma vez que a escolha de amar está feita e ela não foi mudada por você, então amar torna-se fácil, e principalmente para a criança, que também escolherá ter seu amor e lhe amará de volta.

Lógico que na prática podem existir muitos "depende" pelo caminho, mas a essência onde quero chegar é na importância dessa escolha consciente. Uma mãe faz isso por um filho de modo inconsciente, mas é quase a mesma coisa no final das contas. Então, quando essa criança cresce, ela também fará muitas escolhas - e acreditará que muitas não foram escolhas - amando e odiando pessoas pelos mais diversos motivos. Mas o detalhe que eu quero colocar aqui é apenas o fato de que são escolhas.

Tudo bem que é mais fácil jogar a culpa toda para os sentimentos, e dizer que amar ou deixar de amar são coisas muito distantes de você e seu processo arbitrário. Eu não gosto de demagogia, por isso vou ser obrigado a admitir que já passei por situações em que joguei a culpa nos sentimentos e sentia pena de mim mesmo quando não conseguia dominá-los. E é justamente nesse ponto onde quero chegar agora: dominar sentimentos.

Amando Adolescentes ou Adultos


Quando os hormônios começam a explodir no início da adolescência, ninguém parece ter controle dos próprios sentimentos. E de fato, não tem. A reação química que acontece no cérebro é muito mais espontânea que seus atos, principalmente quando se fala de casais adolescentes, por exemplo. No entanto, eu não disse aqui que esses sentimentos tem controle, e sim que o sentimento de amor tem controle.

Você pode não escolher por quem vai se apaixonar, e nem criar padrões cerebrais que o façam produzir mais ou menos doses de dopamina para controlar o que sente. A paixão é só um recurso completamente desesperado para você fazer coisas ilegais ficar com alguém.

Só que por algum motivo, a paixão acaba. Dizem por aí que ela se renova, mas não é exatamente isso que os estudos dizem por aí. Mas quem pode dar bola para os estudos, quando aquilo que se nota na prática muitas vezes é diferente? Só que ao mesmo tempo, muitas vezes é exatamente isso que parece acontecer também. Quantos casais não se separam depois de um tempo pelos mais diversos motivos? Acredite ou não, mas certamente a maioria estraçalhadora desses motivos é culpa do fim da paixão. Afinal de contas, é só depois que ela se vai que você realmente vai ter tempo para ser racional e voltar a pensar em você em primeiro lugar.


Sendo assim, acredito que a paixão é algo que não temos controle, e ela vai embora cedo ou tarde. Felizmente, podemos ter controle do amor, e quando isso acontece, deixamos de ser simples adolescentes brincando de conhecer os sentimentos na mesma proporção que conhecem o corpo. Quando essa fase passa, podemos então falar sobre o ponto principal desse post: amor.

Amando Adultos ou Idosos

Eu estou a quatro posts gigantes como esse colocando as razões pelas quais acredito que o amor é realmente uma escolha pessoal. O contrário do amor, é simplesmente a indiferença, e todo mundo consegue ficar indiferente à outra pessoa caso esqueça dela. Esquecer alguém é uma forma de buscar a indiferença e anular o amor, apenas isso. Ou seja, vai me dizer que tentar esquecer não é uma forma de controlar o sentimento?

Imagine um jovem, de sei lá quantos anos, que acaba de tomar um fora de uma menina que ele gostava muito. Os sentimentos que ele tinham por ela sempre foram mais fortes, mas a partir do momento que ela lhe deu um fora, o jovem - e infeliz - rapaz foi obrigado a controlar seu sentimento pela menina. E ele poderia ter escolhido ficar olhando as cartas de amor que fez ou escolhido atear fogo em tudo. Ele poderia ter escolhido continuar ouvindo uma música que fazia lembrar da menina, ou simplesmente deletar da coleção do mp3. Percebe onde quero chegar? Assim como esse jovem desiludido, as pessoas buscam controlar seus sentimentos fazendo coisas que estão ao redor delas. Algumas são mais radicais e vão beber, outras procurando voltar a velhos amigos de balada... sei lá, cada um sabe uma forma para controlar um sentimento. Então vai me dizer que eles são incontroláveis?

Se esse exemplo ainda não ficou claro, então tem muitos outros. Mas já disse muita coisa repetitiva nos posts anteriores e não vou voltar a falar nada disso nesse. Só para relembrar, leia aqui a primeira parte, a segunda parte e a terceira parte, caso ainda não tenha feito.

Posso até aconselhar a leitura de um livro muito bom, chamado "O Maior Vendedor do Mundo", que ao contrário do que parece, não é focado para vendedores, embora eu tenha tomado conhecimento dele através de um vendedor. Devo já até ter comentado sobre ele, mas a causa é boa quando nos deparamos com uma frase do tipo: "Todos nós somos vendedores de uma forma ou de outra. Vendemos nossa imagem, nosso melhor. Vendemos algo, e por mais estranho que seja, vendemos e nossos compradores não precisam nos dar um único centavo para que seja a melhor venda de nossas vidas".

Amando Um ou Dois

Um outro exemplo claro para imaginar tudo isso, são os fãs de alguma banda musical ou seriado televisivo. Evidentemente, eles recebem um sentimento bom por estarem em contato com aquilo que gostam, e quanto mais esse sentimento bom perdura, maior é sua ação de amar aquilo. Surgem fanboys por causa disso, e com um álibi semelhante, certas religiões cegam pessoas às fazendo escolher devotar o amor de modo incondicional, incentivados a alimentar a emoção e fazer dessas coisas uma necessidade.

Aí não tem como escapar: se uma coisa é necessária, essa coisa vai influenciar nas suas emoções; Muitas pessoas ficam mais bravas quando estão com fome, e outras, mais sentimentais quando estão sonolentas. Isso é uma prova de que uma necessidade, mesmo fisiológica, influi em uma emoção rápida daquele momento.

O prazer de qualquer coisa alimenta as necessidades. E existe apenas uma coisa mais forte do que o prazer, que é o medo. Mesmo que medo seja muitas vezes ilusório, ainda assim ele consegue ser mais forte do que um sentimento real, que é o de prazer. E é aí que mora o perigo em toda essa história; muitos deixam de encontrar a felicidade simplesmente porque tem medo de buscá-la. Ou até buscam, mas fogem quando o caminho se torna mais difícil.

E a explicação biológica para tudo isso até que é completamente compreensível. Todos nós vivemos pela e para sobrevivência, e diante disso, encontramos prazer para que seja incentivado a fazer aquilo mais vezes, e sentimos medo para que tenhamos cautela naquilo que fazemos. Como pode parecer, é o prazer que impulsiona qualquer caminhada, e é o medo que paralisa o corpo. A única pergunta a ser feita, é sobre o qual real o fator causador do medo é.

Conclusão


Vários casos estudados sobre a loucura mostraram duas coisas: as pessoas fazem coisas insanas sempre que são dominadas por uma emoção, e essa emoção veio porque a necessidade de racionalizar dada situação simplesmente deixou de existir, por  algum motivo qualquer. E uma segunda coisa interessante, é que se fosse dada liberdade em demasia para alguma pessoa, ou seja, se a sociedade e o mundo não colocasse regras para nada, então a loucura também aconteceria justamente pelo oposto: Sem necessidades, objetivos, emoções e sentimentos, o lado humano morre, ao posto que o monstro da insanidade toma conta.

Para resumir, é só levar em consideração que se você não racionalizar algo, estará se deixando levar pela emoção. A emoção é meio burra, e vai te deixar fazer coisas que farão se arrepender depois. Raiva, paixão e medo são exemplos claros disso, onde um faz com que você ataque outros, outro faz com que ame outros e outro que paralise-se outros. Mas a inversão do ônus também é válida, pois a racionalização em demasia também é burra, uma vez que ninguém é capaz de racionalizar tudo ao redor onde vive, e tão pouco encontrar a explicação para tudo.

O interessante, e lado bom nessa história toda, é que o amor não é mais uma emoção como as demais. Amor é um estado de espírito pessoal, que não depende de químicas condicionando seu cérebro a fazer coisas estúpidas (exceto a oxitocina?). Ele é você agindo por você mesmo. E não depende de mais ninguém.

Ou seja, ame. Aumente o poder dessa palavra e raio de pessoas atingidas com a mesma. Faça coisas sem pensar em recompensas, pelo simples prazer de amar. Não importa que ninguém irá te valorizar ou jamais te reconhecer por isso, como eu mesmo já aprendi. O que vale não é a troca em si, apenas a certeza de que fez a escolha certa. Até porque, não faz a menor diferença se o outro lhe ama de volta ou não, pois viver esperando que te alimentem o ego é uma das coisas que mais podem te machucar na vida. Inverta os papéis e alimente a si próprio o ego com o estado de espírito tranquilo que pode conseguir dentro de si mesmo.

Como uma vez eu li, de um amigo no msn:

"Duvido da recíproca do amor, mas não de sua existência" (Thales Vianna)

Veja todas as outras partes dessa saga sobre A Contradição do Amor:

Talvez já tenha divagado sobre esse tema do Amor aqui no blog, mas de outras formas. Agora estou tentando entender suas contradições e semelhanças, nos mais diversos aspectos. Se você acha que ele não precisa de comparação alguma, então esqueça isso e veja outros posts perdidos por aqui.

Viagens no tempo sem Rpg →  Post anterior à essa saga melosa.
De onde vem a Angústia → Um post angustiante sobre... er, a agústia
A Corrida dos Ratos [1] → Quer ficar rico? Pergunte-me como...
Amor Escalável Reflexão sobre como passar de nível no amor.

2 comentários:

  1. Pois é. O amor só é amor quando não esperamos nada em troca e ainda assim amamos. Por isso é que minha frase favorita até hoje é "Você é o que você ama, não o que ama você." E os exemplos disso você mesmo acabou de dar, como o amor que se tem gratuitamente por uma criança/bebê ou por um ídolo. Ambos muitas vezes não sabem da existência do nosso amor por eles e mesmo assim continuamos amando, mesmo que não seja recíproco esse amor.

    Se fôssemos colocar esse amor na vida "romântica", digamos assim, mesmo que o nosso par não nos corresponda na mesma proporção, o amor continuará o mesmo.

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    1. Valeu pelo Comentário, Kelly ^.^

      Acho interessante pensar em como muita gente tem facilidade para amar (no caso das crianças, por exemplo), mas ao mesmo tempo, basta haver um sentimento de paixão envolvido para você migrar do amor ao ódio em instantes, como se tudo não fosse uma mera fachada dos sentimentos mais reais.

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