sexta-feira, 10 de maio de 2013

Realidade Alternativa: Fome


Esse post faz parte de uma nova ideia que queria apresentar, que é mostrar outras realidades que certamente são bem diferentes da minha e da sua. Pretendo abordar estilos de vida que existem por aí, alguns mais próximos e outros mais distantes. Tudo isso dentro do nosso mesmo universo, com coisas bizarras que acontecem por aí nesse exato segundo em que lê isso. E assim surge mais um post, cujo proveito e utilidade, dependem da sua reflexão sobre a realidade em que está vivendo.


Falácia da Realidade


Todo mundo quando quer fazer um comparativo de que sua vida está melhor propõe a velha e já abatida comparação das crianças na África. Às vezes para chocar postam algumas fotos de crianças em estados de semi-decomposição vivas e tentam, através disso, lhe provar que você tem que ficar quieto e não reclamar de nada. Eu vejo isso como uma falácia da realidade, e foi justamente por isso que resolvi escrever esse post.

Para explicar melhor essa falácia, pense no seguinte: Você acorda de manhã e bate a ponta do pé na quina da cama, e com aquela dor deliciosa de sentir, você pragueja a tudo e a todos por isso. Aí, de repente, um amigo muito sábio chega para você e diz: "Hey, pare de reclamar da vida, lembre-se que há pessoas muito piores do que você, como as crianças passando fome na áfrica". O que era para ser uma tentativa de diminuir o impacto do stress corre o risco de piorar as coisas, pois a comparação daquela realidade em que a África vive é tão diferente, que nossa natural incapacidade de imaginar e compreender a própria humanidade nos fazem ignorar o fato com toda frieza do mundo.

Eu já comentei em alguns posts anteriores, o quanto o ser humano - eu e você - tem mais egoísmo do que o maior egoísta que conhece. Graças ao ego que está sempre tentando entender quem ele é, todo mundo acaba assumindo que a vida gira em torno do próprio umbigo. E uma das principais causas para isso, infelizmente é o simples fato de que muitas vezes não é fácil compreender nem a nós mesmos, então quem dera possamos compreender outra pessoa?

Fome na África



Ver mapa maior

Mas vou parar de enrolar, e falar o que realmente significa a fome na África. Por isso, fiz uma pesquisa rápida, e vou tentar deixar mais claro - e resumido - o que as crianças de lá passam. A primeira coisa a ser feita, é tomar cuidado com a generalização. Não são só as crianças que passam fome, e tão pouco é o continente africano inteiro. Um dos países que mais sofre disso é a Somália, que não deve ter nem 10 milhões de habitantes, mas que pelo menos um milhão está em fase crítica de quase morte.

Sabe o engraçado do parágrafo acima? Nada. Mas quando você fala em números, automaticamente transforma vidas em estatística. E isso parece amenizar o problema, principalmente quando você pensa: Só um milhão passando fome? No Brasil existem mais de 10 milhões, ou seja, uma Somália inteirinha em condições parecidas. E aí, para piorar, você pode pegar algum desses papéis que políticos carregam, e falar que as coisas melhoraram 15%, ou que 25% será melhorado na próxima eleição. Isso tudo é outra falácia de realidade, porque se você está passando fome, ou se fosse um amigo seu no meio de dez pessoas, aposto que o choque da notícia seria infinitamente maior, simplesmente porque aquilo é mais próximo de lhe atingir do que com quem está apenas num gráfico estatístico. Dez milhões num pedacinho de terra parece triste, mas só isso. Enquanto não estiver na pele, ou ver com os próprios olhos a situação, aquilo não é capaz de mover um único dedo para melhorar as coisas. No máximo um sentimento de pena, ou um sinto muito dito internamente. Só isso, e tudo acaba por aí.



E então, você me pergunta: "E o que eu posso fazer?", como se aquele que lhe falasse do problema tivesse a obrigação de lhe apontar uma solução. O problema é dito, e só é um problema, justamente porque ainda não tem uma solução. Você pode criticar o governo ou outros países dizendo que parem de fazer guerra e usem o dinheiro para dar alimento a todos, e ainda achar que apenas ter essa postura vai resolver tudo. "Ah, eu já reclamei, então já fiz minha parte e isso é tudo que posso fazer". Não é bem assim que as coisas funcionam.

Quando você divulga uma informação, um problema e um pensamento para aquelas pessoas ao seu redor, automaticamente você está sendo melhor do que aqueles que apenas reclamam e apontam soluções que sabem ser impossíveis de serem resolvidas. Porque falar e divulgar aquela realidade que existe, pode chegar ao ouvido de alguém mais genial que pode ter uma ideia diferente, ou numa simples conversa, surgir um fundo de investimento entre amigos para ajudar nem que seja uma pessoa. Tanta gente faz viagens de turismo para a África do Sul, vão lá para ver os animais em céu aberto e passam longe - por mais perto que estejam - de milhares de pessoas morrendo de fome. Um lanche na sua mão poderia significar muita coisa positiva na mão de quem precisa daquilo mais que você.

Mas é lógico que esse post não vai mudar nada. Nunca mudou e não é agora. Mas, se ao invés de você por algum segundo ter ideia de que sua vida é melhor do que a de muitas pessoas, eu acho que comecei a plantar a semente que eu queria. Porque quando nós vivemos sabendo que é preciso agradecer muito por aquilo que temos e onde estamos, um pouquinho mais de humildade faz com que nós pelo menos ajudemos pessoas dentro de nossas possibilidades. Pode ser um mendigo na rua que você sempre vê no mesmo lugar e que simpatiza com seu sofrimento diário. Ele é uma pessoa, e talvez uma oportunidade mais próxima de se deparar com a realidade da fome, mesmo que em grau diferente.

Fome na Coréia


Outro dia fiquei surpreso com uma notícia que li. E depois, fiquei chocado com uma outra notícia que li. A notícia dizia que um pai praticou o ato de canibalismo, sendo obrigado a comer o próprio filho para sanar sua fome. E isso foi o primeiro estopim para eu começar a escrever esse post, pois, eu comecei a pensar até onde a definição de humano pode chegar. Afinal de contas, um grupo de pessoas amaldiçoava o pai por ele ter matado o próprio filho para se alimentar, enquanto outro grupo de pessoas o bendizia porque não havia outra solução. E também tinha o grupo que amaldiçoava o governo e a mídia pela falta de divulgação da notícia.



Infelizmente não há como amaldiçoar a maldição. Não vale a pena questionar quem é o culpado ou quem deixa de ser, porque o problema e o erro é todo o cenário, e não exatamente uma pessoa isolada dentro dele. Esse não foi o primeiro caso e nem será o último. O extremo do que o ser humano é capaz de fazer realmente vai muito além do que alguém pode imaginar.

Ah, e se quiser ver um artigo comparativo com a diferença entre as coréias, clique aqui.

The Walking Dead


E de repente falar sobre Walking Dead no meio de um post que comenta sobre Falácias da Realidade me parece um pouco de mediocridade. Mas não é a questão de zumbis com fome que eu queria propor aqui. Embora toda a crítica social da maioria dos filmes de zumbis seja muito forte, não quero entrar no mérito dessa parte da discussão, e sim, refletir algo que comentei lá no início, que é sobre a divulgação da informação.



Em 2003, ou seja, há dez anos atrás, era lançado uma história em quadrinhos falando sobre zumbis. Não é nenhuma novidade que nessa década houvesse muita coisa sobre o assunto. Mas a HQ nunca foi lá muito popular, e muita gente nem se importava. Até que, conforme o tempo foi passando, há alguns anos atrás ela começou a vender mais e mais, até que surgisse a tão conhecida série de tv em 2010. Depois do sucesso, falar e consumir coisas sobre the walking dead se tornou bastante popular, mas tudo acaba aí.

Será que a camada da série que é mais reflexiva e que remete a critica social da natureza humana existe na mesma grandeza do seriado? Ou tudo se resume apenas a uma série de entretenimento envolvendo mortos-vivos? E eu sei que o propósito de qualquer série, quadrinho, game ou o que seja é primariamente entreter e não dar aulas culturais de elevação intelectual. Mas eu queria apenas pensar se os extremos humanos, vistos em toda série, fazem algum parenteses com a realidade em que vivemos ou não. E aí, vai ficar o final do texto para refletir, e nada mais.


Uma falácia da Realidade é sempre quando se tenta comparar a realidade pessoal com uma realidade maior. E aí, eu falei da fome na coréia e na áfrica e nem fiz quase menção nenhuma sobre outros países, incluindo o Brasil. Como será a realidade dos outros países? Eu vou ficar esperançoso para que você faça a mesma pesquisa que eu fiz e se surpreenda - e se choque - com o que está bem pertinho de todos nós.

Suas Crenças são Mutáveis? → O que você crê é sua realidade.
Interesse Escalável → Uma palavra sobre o egoísmo enrrustido em nós.
Conto: Arca Perdida → Uma poesia sobre continuar ou desistir
O nosso único cúmplice → Em quem nós podemos confiar?
"Infelizmente não há como amaldiçoar a maldição". (Ledark)

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